Uma Experimentação Vazia no Fantasmagórico da Bela com o Geleia
Por Fabricio Duque
Precisamos falar sobre “Personal Shopper”, de Olivier Assayas (de “Carlos”, “Acima das Nuvens”, “Depois de Maio”). Duas perguntas não saem da cabeça do espectador durante a exibição: “Por que o Festival de Cannes selecionou este “dito cujo” filme à competição oficial a Palma de Ouro?”. Talvez, a resposta esteja na “marca shopping” de seu conceituado e superestimado diretor. E “Como um filme consegue ser tão pateticamente mediano?” nesta experimentação ao gênero terror ectoplasma fantasmagórico-sensorial-existencialista-cotidiano-terapêutico. O resultado não poderia ser mais vazio. O longa-metragem foi vaiado aqui em Cannes na primeira sessão apresentada e “bufado” (característica idiossincrática típica dos franceses) na sessão posterior do dia.
“Personal Shopper”, é, trocando em miúdos, quando a Bela da saga adolescente-juvenil “Crepúsculo” (interpretado com drama forçado pela atriz Kristen Stewart – que tentou arduamente ser personagem elegante-cult de um filme de Woody Allen – ops, ela já fez um: “Café Society”) “mergulha” no universo sem humor (e com um Geleia “sem sal”) de “Ghostbusters”, de Ivan Reitman, como uma médium caça-fantasmas, que também é “escolhe roupas” a suas clientes ricas – mera coincidência com “Acima das Nuvens”?). Ou talvez podendo ser uma esquizofrênica problemática “assustada” com os acontecimentos traumáticos de sua vida – que projetam “alucinações”.
O longa-metragem ganha pontos consideráveis e de boa-vontade pela atmosfera de suspense (que prende o espectador – até porque ficamos curiosos com que caminho o diretor seguirá nas próximas reviravoltas) e pela direção precisa, afiada e segura do veterano Olivier Assayas, mas é só, porque todo o resto é apenas “encheção de linguiça” em um roteiro desengonçado em que tudo é conduzido para tirar a roupa da protagonista, Maureen, uma jovem americana que mora em Paris e trabalha como “personal shopper” para uma celebridade local. Ela também tem uma capacidade especial para se comunicar com o mundo dos mortos. A moça dividia esse dom com seu irmão, recém-falecido, que parece estar querendo enviar uma mensagem para o mundo dos vivos.
Sim, como já foi dito: nem tudo está perdido. Dá para se tirar um mínimo de água de pedra. A atmosfera nos aprisiona em um “road-movie” de micro-ações gestuais em elipses temporais. Por dentro da futilidade do mundo da moda (talvez uma crítica de seu diretor a este mundo artificial – a protagonista “consegue” roupas de estilistas famosos para clientes).
Mesmo com todo esse “Big Brother” cult e conceitual, “Personal Shopper” é definitivamente a segunda maior bomba do Festival de Cannes 2016, quiça do universo cinematográfico, visto que foi salva pelo desastroso “The Last Face”, de Sean Penn, um exemplo sem salvação, sem talento e que este aqui, inclusive, ganha de outra derrapada de Gus Van Sant no ano passado, “The Sea of Trees”. E assim, com muito suor, consegue subir a nota para duas câmeras de nosso site. A equipe realizou gravações em Paris, mas partiu para Praga dois dias antes do atentado na cidade francesa. Todos ficaram chocados e preocupados com parentes e amigos que viviam na região. Um filme vazio, gratuito e que tenta a cumplicidade do espectador pelo jogo de mensagens por celulares.