É para fazer rir ou para assustar?
Por Pedro Guedes
De um tempo para cá, o gênero “terror” começou a se esforçar para melhorar a qualidade média de seus representantes – o que é louvável, já que obras como “Possessão do Mal”, “Exorcistas do Vaticano”, “O Último Exorcismo: Parte II”, “Atividade Paranormal 4” e remakes como “O Chamado”, “O Grito” e “Uma Chamada Perdida” serviram para enfraquecer a reputação dos filmes de horror em geral. Assim, o gênero viu sua sorte mudar nos últimos anos, quando “O Babadook”, “A Bruxa”, “Corra!”, “Corrente do Mal”, “Ao Cair da Noite”, “Hereditário” e “It: A Coisa” colocaram o terror de volta aos trilhos (a produtora A24, por exemplo, vem fazendo um trabalho admirável nestes sentido, chegando a instituir um subgênero que algumas pessoas vêm chamado de “pós-terror” – o que não faz muito sentido, já que muitas das convenções adotadas por esta “moda” recente existem desde “Nosferatu” e “O Gabinete do Dr. Caligari”).
Assim, um filme como “Parque do Inferno” soa não apenas decepcionante, mas também anacrônico, pois investe em uma abordagem ultrapassada que já não cabe mais no atual contexto do terror (um erro também cometido por “Slender Man – Pesadelo Sem Rosto”). Roteirizado por Seth M. Sherwood, Blair Butler e Akela Cooper (por favor, alguém pode explicar por que foram necessárias três pessoas para escrever um roteiro como este?), o longa é dirigido de maneira inexpressiva e burocrática por Gregory Plotkin e se estabelece, em sua essência, como um legítimo slasher movie (ou seja: um daqueles filmes onde um assassino mascarado/deformado persegue suas “presas”). Na trama, um grupo de adolescentes vai se divertir num parque de diversões assustador; mas é claro que, mais cedo ou mais tarde, uma das “atrações” revela-se bem mais ameaçadora e letal do que todos esperavam.
“Atração” esta que, verdade seja dita, é aborrecida e desinteressante: vivido por um Stephen Conroy que pouco tem a fazer além de ficar parado em posições “amedrontadoras”, “O Outro” é um slasher sem personalidade e que não exibe muita imaginação ao executar suas vítimas, tornando-se ainda mais genérico graças ao design de sua máscara (que nada mais é do que… um rosto mastigado e cuspido) – e nem adianta compará-lo a Michael Myers, Freddy Krueger, Jason Voorhees ou Pennywise, pois seria covardia. E o mais frustrante é que, na última cena do filme, há uma revelação que sugere que “O Outro” é um vilão muito mais complexo e humano do que aparentava ser; então… por que isto não foi desenvolvido ao longo dos 89 minutos anteriores?!
Investindo em momentos bem humorados que soam terrivelmente deslocados dentro da lógica geral da obra, “Parque do Inferno” não parece saber que tipo de filme pretende ser: em uns instantes, se esforça ao máximo para apavorar o espectador (como se fosse um terror mais sério); em outros, abraça a galhofa e faz de tudo para arrancar risadas do público (como se pertencesse ao subgênero do “terrir” – o nome diz tudo, certo?). Para piorar, o diretor Gregory Plotkin comete alguns erros básicos na hora de construir o horror – observem, por exemplo, a sequência onde a protagonista está secando os cabelos num banheiro e “O Outro” subitamente surge ao seu lado: em vez de estabelecer o suspense de maneira crescente, Plotkin insere um plano aberto que mostra o banheiro vazio e a vítima no canto direito do quadro. Qualquer espectador minimamente atento será capaz de antever que, no próximo plano aberto, o espaço vazio do banheiro será ocupado pelo vilão, então… por que sentir medo quando o terror é anunciado de forma tão óbvia?
Além disso, existem alguns instantes que soam simplesmente ilógicos: quando “O Outro” está prestes a decapitar uma de suas vítimas com uma guilhotina, a garota em questão começa a mexer no cinto que a mantém presa ao equipamento – e poucos segundos depois, a personagem não apenas escapou da guilhotina como já alcançou dois de seus amigos no parque. O mesmo ocorre no clímax, quando a protagonista escorrega numa poça de sangue e cai a poucos metros do assassino, mas na cena seguinte ela já parece ter resolvido o problema e escapado das garras do slasher. E de novo: não há motivo para temer um filme de terror quando o próprio não demonstra cuidado algum na hora de construir… o terror propriamente dito.
Em compensação, o designer de produção Michael Perry se sai particularmente bem ao criar o tal parque que dá título ao filme: combinando aqueles “trens do terror” e pessoas fantasiadas de monstros, múmias, lobisomens e outras criaturas, o lugar é dominado por cores vibrantes que se encontram com elegância – e a presença do vermelho, em especial, é bastante sugestiva na hora de estabelecer o parque como um verdadeiro “inferno”. Neste sentido, a fotografia de Jose David Montero também se destaca ao contrastar o vermelho e o amarelo (que são quase onipresentes) ao azul e ao verde (que passam a aparecer com mais frequência em algumas cenas internas).
Estrelado por um elenco simplesmente pavoroso que não consegue esbanjar uma única emoção/reação que soe minimamente sincera, “Parque do Inferno” é um filme que leva o espectador a sair da sala de cinema dizendo uma variação da frase “É, já vi coisa pior”. E este, convenhamos, é um dos piores elogios que uma obra pode receber.