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Crítica: Oito Mulheres e Um Segredo

Um Filme Que Não Quebra o Salto

Por Fabricio Duque


“Oito Mulheres e um Segredo” é acima de tudo um filme que busca a igualdade sexista, configurando-se como a versão feminino de “Onze Homens e um Segredo”. Mas em hipótese alguma deseja ser uma obra girlish, menininha ou feminista.

Cria-se assim um universo naturalista não de luta, mas de ações espontâneas de mulheres que “desde os oito anos, deitadas na cama, sonharam em ser criminosas”. O longa-metragem é a reconfiguração da femme fatale que não apenas quer sobreviver em um mundo dominado por homens, mas ser genuinamente um deles. Sem rótulos e estereótipos.

A maestria do filme é sua narrativa que não perde o ritmo, cadenciando um equilíbrio entre o humor-picardia espirituoso, perspicaz e inteligente e a ação de uma estrutura à moda de “Missão Impossível” e “007”. É um grito de que as mulheres podem fazer tudo, mas tudo mesmo que os homens podem. Não há barrigas, tampouco pontas soltas. Prende o espectador pela própria carga tensionada do momento com suas reviravoltas e sem a presença de gatilhos comuns e artifícios clichês da criação.

Outro ponto alto é seu elenco. Cada uma possui uma particularidade, uma personalidade, uma qualidade em sobreviver existencialmente, uma maestria-poder em produzir golpes, trapaças e planos (sem dois canos fumegantes).

Produzido por Steven Soderberg, que dirigiu a antiga versão referência a este clube desconstruído da “Luluzinha”, e dirigido pelo americano Gary Ross (de “Pleasantville – A Vida em Preto e Branco”, “Jogos Vorazes”, “Um Estado de Liberdade”), “Oito Mulheres e Um Segredo” talvez tenha esse número por causa do filme francês “Oito Mulheres”, de François Ozon. Pode ser. Ou não. Apenas uma viajada na batatinha. Mas quem sabe, não é?

Recém-saída da prisão, Debbie Ocean (a atriz Sandra Bullock) planeja executar o assalto do século em pleno Met (Metropolitan) Gala, em Nova York (o “evento mais exclusivo dos Estados Unidos”), com o apoio de Lou (a atriz Cate Blanchett), Nine Ball (a cantora, agora atriz, Rihanna), Amita (a atriz Mindy Kaling), Constance (a atriz Awkwafina), Rose (a atriz Helena Bonham Carter), Daphne Kluger (a atriz Anne Hathaway) e Tammy (a atriz Sarah Paulson).

Como já foi dito, é um filme videoclipe que nos embala em uma ágil aventura-ação de situações arquitetadas como uma proteção ao acaso, à moda do gênero-revanche “Mulheres ao Ataque”, de Nick Cassavetes, e ou “O Clube das Desquitadas”, de Hugh Wilson, entre tantos outros. É também uma história de vingança, de uma mulher traída, que não esquece e planeja sistematicamente o golpe por mais de cinco anos. Na cadeia. Lugar propício para estes pensamentos. “Cabeça vazia, oficina do diabo”, já dizia o ditado popular.

“Oito Mulheres e Um Segredo” é um longa-metragem que transcende a moralidade e ética, humanizando o politicamente incorreto sem a visão moralista e sem final amarrado ao “certo” definido pela sociedade. Elas são assim e ponto. Estão felizes assim e ponto. Nada mais. Não há a necessidade de embasar suas ações por defesas psicológicas e afins terapêuticos. Inclusive de golpes dentro de golpes. É um jogo. E o roubo perfeito, o enaltecimento “Cisne Negro” de ser com um que de “Nove Rainhas”, de Fabián Bielinsky.

Não há uma briga com os homens. Não há ideologias feministas. Há apenas o desejo simples e direto de seguir sendo o que são: criminosas por natureza. Sempre com muita maquiagem percebida com o close de uma fotografia solar, com muitas e ou pequenas tramoias e que com “quarenta e cinco dólares, pode ir onde quiser”.

Cada uma busca seu “jeitinho” (nem sempre o mais correto) para “conseguir o que quer: uma boa vida”. E em New York. E colocando água na vodka. “Quando você está bêbado, pouca vodka tem gosto de vodka”, ensina com “Jules e Jim: Uma Mulher Para Dois”, de François Truffaut na tela da boate.

Tudo é desenhado e conduzido com elegância. Com classe. Com natural sofisticação. Em uma aristocracia ensaiada e enraizada entre obras de arte, a intervenção proibida de Banksy joias Cartier de Elizabeth Taylor, vestidos de famosos (as) estilistas, a música francesa clássica conjugada com Amy Winehouse e até mesmo em devorar um sanduíche do Subway.

É também um filme sensorial. Nós sentimos o vento no cabelo delas. Nós ouvimos e entendemos seus silêncios, suas trangressões, seus recrutamentos, seus backgrounds, suas digressões, suas sutilezas, suas reaproximações, suas “rotatividades”, suas “oportunidades”, seus humores espirituosos não forçados, suas cumplicidades, seus oportunismos e suas picardias, inclusive sobre jornalistas (“Absolutamente não”), sobre os russos (“Todos hackers”) e até com George Clooney (“o irmão bonitão”) e Leonardo DiCaprio (“Só há um Leo”). Concluindo, um filme preciso e no ponto. E que já foi até “zoado” na nova temporada de “Unbreakable Kimmy Schmidt”.

5 Nota do Crítico 5 1

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