Por Fabricio Duque
“O Último Poema do Rinoceronte”, dirigido
pelo iraniano Bahman Ghobadi (de “Tartarugas Podem Voar”, “Tempo de Cavalos
Bebâdos”), apresenta-se, acima de tudo, como um exercício de apurada estética
visual, ao criar uma imagem saturada parecida a de uma antiga fotografia iraniana.
Cada frame experimenta ângulos não convencionais da câmera, que por sua vez, se
comporta, principalmente, pelo subjetivismo, tanto da percepção dos
personagens, quanto por incluir o próprio espectador como cúmplice-observador
da história contada. É inquestionável referências a cinematografias dos
diretores Abbas Kiarostami (de “Gosto de Cereja” e “O Vento Nos Levará” – por
ambientar o passado no Irã) e de Nuri Bilge Ceylan (de “Winter Sleep” – pelo
presente na Turquia). Implicitamente ou não, também podemos listar o cineasta americano
Martin Scorsese, que assume oficialmente a função de produtor, e
extraoficialmente, por “sugerir” suavizações interpretativas. Outra característica
do longa-metragem em questão é sua narrativa teatralizada. Os atores “seguem”
uma métrica geográfica, como a de parar próximo à câmera, como se o artifício técnico
não os procurasse e sim o contrário. O filme é baseado nos diários do poeta
iraniano Sadegh Kamangar (pseudônimo), e conta a história do poeta Sahel (os
atores Caner Cindoruk – quando jovem e Behrouz Vossoughi – no presente) e de
sua esposa Mina (a atriz Monica Belucci), que foram injustamente encarcerados
durante a Revolução Islâmica do Irã por terem escrito o livro “político” “O
Último Poema do Rinoceronte”. Após trinta anos de prisão (já resignada e de desesperança
apática), Sahel é libertado e descobre que Mina havia deixado o país para a
Turquia, acreditando que o amado havia morrido. “O Último Poema do Rinoceronte”
é um filme de camadas psicológicas, inserindo analogias, simbolismos culturais
e sentimentos epifânicos (de dentro para fora – principalmente pelo silêncio –
que induz e não explicita). Em seus quase noventa minutos, o diretor “obriga-se”
ao “mais”. São detalhes e mais detalhes, políticos ou não, paralelos ou não,
com passado, meio, o “fim” e as “sequelas” da revolução, conduzidos pelos
poemas do livro que buscam autoexplicar os movimentos e as “teias” que o filme “produz”,
que também se pode analisar pelo viés terapêutico, por “permitir” ao personagem
principal “libertar” a própria escuridão e “ganhar” a paz eterna. Concluindo,
uma obra interessante, pessoal (visto que seu diretor precisou sair de seu país
para filmar esta película), intimista, de desnorteante poesia visual, de um alucinógeno
realismo diletante, mas que hora ou outra se perde nas próprias “teias”, não
que isso seja um agravante, apenas uma observação de que nada é perfeito.
Tampouco o ser humano. Recomendado.
pelo iraniano Bahman Ghobadi (de “Tartarugas Podem Voar”, “Tempo de Cavalos
Bebâdos”), apresenta-se, acima de tudo, como um exercício de apurada estética
visual, ao criar uma imagem saturada parecida a de uma antiga fotografia iraniana.
Cada frame experimenta ângulos não convencionais da câmera, que por sua vez, se
comporta, principalmente, pelo subjetivismo, tanto da percepção dos
personagens, quanto por incluir o próprio espectador como cúmplice-observador
da história contada. É inquestionável referências a cinematografias dos
diretores Abbas Kiarostami (de “Gosto de Cereja” e “O Vento Nos Levará” – por
ambientar o passado no Irã) e de Nuri Bilge Ceylan (de “Winter Sleep” – pelo
presente na Turquia). Implicitamente ou não, também podemos listar o cineasta americano
Martin Scorsese, que assume oficialmente a função de produtor, e
extraoficialmente, por “sugerir” suavizações interpretativas. Outra característica
do longa-metragem em questão é sua narrativa teatralizada. Os atores “seguem”
uma métrica geográfica, como a de parar próximo à câmera, como se o artifício técnico
não os procurasse e sim o contrário. O filme é baseado nos diários do poeta
iraniano Sadegh Kamangar (pseudônimo), e conta a história do poeta Sahel (os
atores Caner Cindoruk – quando jovem e Behrouz Vossoughi – no presente) e de
sua esposa Mina (a atriz Monica Belucci), que foram injustamente encarcerados
durante a Revolução Islâmica do Irã por terem escrito o livro “político” “O
Último Poema do Rinoceronte”. Após trinta anos de prisão (já resignada e de desesperança
apática), Sahel é libertado e descobre que Mina havia deixado o país para a
Turquia, acreditando que o amado havia morrido. “O Último Poema do Rinoceronte”
é um filme de camadas psicológicas, inserindo analogias, simbolismos culturais
e sentimentos epifânicos (de dentro para fora – principalmente pelo silêncio –
que induz e não explicita). Em seus quase noventa minutos, o diretor “obriga-se”
ao “mais”. São detalhes e mais detalhes, políticos ou não, paralelos ou não,
com passado, meio, o “fim” e as “sequelas” da revolução, conduzidos pelos
poemas do livro que buscam autoexplicar os movimentos e as “teias” que o filme “produz”,
que também se pode analisar pelo viés terapêutico, por “permitir” ao personagem
principal “libertar” a própria escuridão e “ganhar” a paz eterna. Concluindo,
uma obra interessante, pessoal (visto que seu diretor precisou sair de seu país
para filmar esta película), intimista, de desnorteante poesia visual, de um alucinógeno
realismo diletante, mas que hora ou outra se perde nas próprias “teias”, não
que isso seja um agravante, apenas uma observação de que nada é perfeito.
Tampouco o ser humano. Recomendado.