Comédia à la Estadunidense
Por Vitor Velloso
Durante o Festival Varilux de Cinema Francês 2018
“O Retorno do Herói” tem tudo aquilo que um filme de comédia deve ter para que faça sucesso, Jean Dujardin. Porém, é, de longe, um longa chanchadesco e terrivelmente sem graça.
Dirigido por Laurent Tirard, que conta a história de Elisabeth e Capitão Neuville, que estão ligados por uma fraude, envolvendo atos heróicos do Capitão, armada por ela, a fim de motivar sua irmã, noiva dele, para melhorar de sua pneumonia. A construção é repleta de clichês, buscando todos os gatilhos baratos que possam agradar os fãs do cinema francês barato. Independente se existe autoria ou mesmo qualidade em qualquer obra, se os atores falarem francês… Lota no Estação Net. Mas isso já foi dito em outras críticas.
A trama preguiçosa, fica sempre no tom da comédia romântica, tentando criar algum romance entre o personagem do Capitão (Dujardin) e Elisabeth (Mélanie Laurent). Para a sorte do diretor, ambos, possuem química enquanto contracenam. Porém, é nítido que a caricatura que toma conta de suas interpretações são frutos de um roteiro mal desenvolvido, mal escrito e estruturado da forma mais comercial possível, sem preocupações com os demais personagens envolvidos. Por isso, Elisabeth é calculista e fria, mas que no fundo seu comportamento é fruto de uma rebeldia à sua estrutura familiar. Da maneira como foi mimada a vida inteira, decidiu, inconscientemente, ou não, lutar contra determinados dogmas e “valores”. Mas ainda assim possui uma atitude bastante infantil diante de pressões parentais.
Já o Capitão, é um fanfarrão, canastrão e uma pessoa medíocre, mas sua personalidade tenebrosa gera as piadinhas do filme, ainda que não seja possível gargalhar com o longa, é possível que em uma outra piadinha o espectador dê uma risada, ainda que por pena. Curiosamente, parte da comédia é abandonada em alguns momentos, a fim de dar lugar a um drama concreto. Essa dramatização forçada do roteiro, funciona parcialmente, pelo carisma que os atores possuem, não pela pausa que há, para estas cenas entrarem. Consequentemente, imagina-se, que as cenas são tenebrosas, e são. Qualquer tentativa de levar isso aqui a sério, vai frustrar.
De certa forma, há alguma beleza presente, seja pelo figurino ou pelas locações. A fotografia, conjunta às duas áreas, cumpre bem o seu papel de manter tudo sempre lavado, possibilitando que o público possa avaliar o orçamento da obra. O projeto é bem desenhado, o problema é que o roteiro medíocre, não permite que haja alguma contemplação imagética. Pois, cada diálogo expositivo e tentativa cômica mal sucedida, cansa. E se não bastasse isso, Laurent não tem força na direção, é pouco pragmático, não possui um bom “timing” para que o editor possa acompanhar as viradas nos diálogos e é incapaz de assumir a situação como força motriz à narrativa. Esse engessamento que ele mantém durante a obra inteira, tensiona os eixos do filme ao tédio, já que não há a intenção de ser feito nada fora dos moldes industriais, nem mesmo de incorporar todas as falhas e limitações da história para a estética do produto.O diretor acha que assume às propostas exageradas como linguagem, mas no fim, engana-se e constrói uma farsa. Seu personagem e sua própria direção.
Dujardin e Mélanie carregam o projeto. O carisma dos dois, com destaque ao ator, é inigualável. A composição mentirosa e absurda do Capitão, aliado do seu oposto, Elisabeth, torna-se a espinha do filme. As cartas usadas no início da trama, são utilizadas mais a frente como recurso de promover a mentira ao status de verdade indubitável. Para isso utiliza um recurso quase ausente nos tempos contemporâneos, a narrativa verbal. Um mérito. Ainda mais contando com o galã, a fim de movimentar essa trama de um herói que não existe.
“O Retorno do Herói” é dublado para o francês, a partir da linguagem norte-americana de fazer sucesso de bilheteria com o mínimo de esforço. Se a ironia vencesse no filme, sem dúvida estaríamos diante de um belo longa de comédia, mas na verdade é apenas um romance água com açúcar que desperdiça uma possibilidade de abraçar ao absurdo, e joga no campo da certeza. E resta ao público acreditar na potência cômica que Dujardin possui e investir no personagem, torcendo que a trama o agrade.