Saiu do forno
Por Vitor Velloso
Dirigido por Lasse Hallström e Joe Johnston, “Quebra Nozes possui uma trama é conhecida, uma jovem é transportada para um mundo mágico e se vê numa situação onde deve proteger “Os quatro reinos”. Os diretores já são conhecidos pelos trabalhos medíocres vide: “Jurassic Park III” e “Quatro Vidas de Um Cachorro”, o padrão permanece. Esteticamente é interessante a maneira como se constrói a ambientação, as cores, a direção de arte e a flexibilidade da misancene. Porém, por trás de toda essa plasticidade possui uma falta de dimensionalidade de tudo que vemos. É frustrante participar de uma história que não nos interessa, já que as motivações são jogadas ao espectador de maneira esdrúxula. E se a protagonista possui algum grau de carisma, não importa, pois, todo o seu dever dentro do roteiro é esquecido pelo próprio diretor.
Por este mesmo motivo não irei me adentrar nas características das personagens. Há talento sendo desperdiçado: Keira Knightley, Morgan Freeman e Helen Mirren, e por mais que o esforço seja notório, não é possível ver muito progresso em objetos unidimensionais. Curiosamente a construção da narrativa é dada de maneira evolutiva, num esquema bem comum, porém, a atenção dada a estes diferentes momentos é quase aleatória, deixando o público num completo escuro. A consequência disso tudo é um esquema desinteressante. Há muitos efeitos, muitos excessos, mas um falta de textura insuportável. Vou me explicar. Me refiro à textura, de uma maneira intimista, como falta de alma.
Os desperdícios de temas e proposições imagéticas que são jogados no lixo, incomodam. Não é negar a complexidade de toda a trama, ainda que clichê, mas enxergar uma potencialidade imensa, esquecida. Em contrapartida, um investimento emocional é funcional à medida que a progressão permite pequenas facetas da produção revelarem uma hiper artificialidade digna de contos de fadas. O que também reflete nas principais engrenagens da película, seus personagens, como já dito anteriormente.
As cenas que remetem diretamente ao ballet clássico são um show à parte, uma dança de sensações. É um ritmo contagiante que busca compensar todos os problemas da obra. Até que é recompensar aguentar todas as fragilidades perceptíveis durante a projeção. Incomoda saber das potencialidades que o roteiro permite serem ignoradas por um projeto industrial e mercadológica que retira as possibilidades plásticas existentes na obra original e na leitura de Tchaikovsky. Ainda que não seja a intenção de superar as anteriores, o projeto de 2018 não passa de um entretenimento barato, com gatilhos frágeis e preguiçosos para levar um grande público ao cinema. Essa nova onda de adaptações e releituras da Disney está fraca, tanto pela falta de tom dos filmes, quanto nas minúcias que estão sendo ignoradas pelos produtores. A consequência disso nós vemos nas telas, longas que não decidem se são destinados a um publico infantil, adolescente ou mesmo adulto.
Toda a ideia inicial parecia interessante, algo que poderia ser comparado ao projeto da graphic msp, novas visões acerca de histórias já consolidadas. Mas no caso de Hollywood, se resume a um pragmatismo que visa os números na bilheteria sem se preocupar com integridade mínima da intelectualidade da obra a ser construída. Existe um engessamento monstruoso na autoria dos diretores, visando sempre os interesses financeiros, ignorando ou enganando (o que é mais grave) a originalidade plausível que está ligada diretamente à obra original. A tristeza que pode-se concluir é a expectativa negativa nas próximas realizações, que inclui “Pequena Sereia”.
É bom lembrar que falar de autoria com os dois diretores em questão torna -se um exercício de mutilação cerebral, mas o mínimo de esforço deve ser feito para manter a autonomia de sua palavra. A fotografia consegue ser minimamente competente em criar um tom lúdico à atmosfera construída pelo roteiro. Acaba se tornando genérica com o mínimo de apreciação, se mostrando um esteticismo fragilizado pela própria concepção industrial instalada a anos na indústria, padronizado qualquer projeto imagético minimamente ideal à carpintaria plástica das imagens.
Na conclusão, vemos que as fragilidades estão ligadas diretamente aos produtores desses longas que saem diretamente do forno das xerox hollywoodianas.