Curta Paranagua 2024

Crítica: O Manicômio

Bagunçado e burro

Por Pedro Guedes


“O Manicômio” é uma mistura de “Internet – O Filme” com “A Bruxa de Blair” (a versão mais recente, não a original de 1999). E se esta combinação lhe parece interessante, acredite: não é. Dirigido por Michael David Pate de maneira tematicamente superficial e esteticamente esquizofrênica, este filme de terror alemão jamais chega sequer perto de assustar ou de conquistar o espectador – ao contrário: o máximo que este longa consegue despertar é o sono e a vontade de vê-lo terminar logo. E isto, claro, é um erro fatal, já que poucas coisas são mais embaraçosas do que um terror que provoca bocejos em vez de sustos.

Escrito por Ecki Ziedrich e pelo próprio Michael David Pate, “O Manicômio” se passa em Berlim e gira entorno de um grupo de youtubers que se reúnem para invadir um hospital psiquiátrico abandonado. Depois que os jovens começam a gravar seus vídeos, mostrando tudo que parece haver de assustador naquele lugar, algumas coisas realmente bizarras passam a surpreendê-los – e embora estejam acostumados a produzir aquelas famosas (e insuportáveis) “pegadinhas” para o YouTube, os personagens não estavam preparados para cair nas armadilhas que se encontram naquele manicômio.

Não é preciso muito esforço para perceber que “O Manicômio” tenta estabelecer uma crítica direta ao universo dos youtubers atuais, que, de acordo com um dos personagens do filme, ajudaram a idiotizar os jovens de hoje. O que Michael David Pate e Ecki Ziedrich não parecem perceber, no entanto, é que o maior perigo oferecido pelo YouTube não são as “banheiras de Nutella”, mas os canais que vivem propagando revisionismo, conspiração, mentiras, intolerância e “tretas” – e o longa nem se dá ao trabalho de apontar esse desserviço político que certos formadores de opinião fazem. O máximo que o roteiro consegue fazer é trazer um ou outro youtuber reconhecendo a imbecilidade do conteúdo que produz e/ou criticando a superficialidade propagada por outro personagem, tudo de maneira fácil e simplória (o clímax, inclusive, consiste em uma reviravolta que deixa de ser interessante justamente por vir acompanhada de um falso moralismo que soa aleatório e forçado demais para ser levado a sério).

Mas o pior não é isso: da primeira cena à última, o espectador tem a impressão de que os personagens não estão agindo como youtubers, mas imitando youtubers – o que fica particularmente claro no hábito que eles têm de sempre repetir chavões como “Inscreva-se no canal”, “deixe seu like”, “compartilhe” e etc. E o que dizer das situações construídas de maneira estúpida? Em certo instante, dois youtubers que fazem “pegadinhas” resolvem invadir um necrotério e são flagrados por um policial. E o que este policial faz? Finge ser um fã da dupla, se aproxima para tirar uma foto e a surpreende batendo nela com seu cassetete! Só isso já dificulta a tarefa de ouvir e compreender as discussões que são levantadas pelo filme. Ora, como confiar no nível intelectual de um roteiro que cria um momento imbecil como este?

Para concluir o desastre, Michael David Pate apresenta algumas ideias estilísticas que poderiam render bons resultados, mas que acabam sendo desperdiçadas através da direção e da montagem (ambas são de autoria dele). À primeira vista, é interessante que o cineasta tome a decisão de usar câmera na mão o tempo inteiro e de entrecortar as ações com vídeos produzidos pelos personagens para seus canais individuais; na prática, porém, isso serve somente como uma tentativa (malsucedida) de esconder a incompetência de Pate, que atira esses trechos de vídeos de forma completamente aleatória e mantém a câmera em constante tremedeira mesmo nos momentos onde não há ninguém gravando um de seus vlogs. E o que dizer daqueles cortes de fusão horrorosos e fora de hora?

Eficiente apenas ao mostrar o quanto é condenável e vergonhoso fazer piadas envolvendo nazismo em um país como a Alemanha, consistindo em um raro comentário político que funciona relativamente bem no filme, “O Manicômio” é uma obra que critica a superficialidade e a pobreza estética dos youtubers, mas que é tão superficial e esteticamente pobre quanto estes canais.

E como piorar a situação? Lançando o filme no Brasil somente em cópias dubladas – e comprometendo, com isso, o trabalho dos editores/mixadores de som e parte considerável do desempenho do elenco (que, a julgar pelas caras e bocas, é sofrível de qualquer jeito).

1 Nota do Crítico 5 1

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