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Crítica: O Futuro Adiante

Água com açúcar e duas amigas

Por Vitor Velloso


A construção de uma linguagem, formal, que depende exclusivamente de diálogos, é uma das mais complexas do cinema. Isso porque a decupagem das cenas é fragmentada a pelo menos dois eixos, logo não há centralização na misancene, fora a conversa, para que a imagem se sustente. O que não quer dizer uma proposta menos criativa, pelo contrário, é sempre nestes momentos que o desafio narrativo é colocado ao diretor como uma questão primordial. A formação da estrutura que irá ditar o ritmo do projeto, além do peso de seus planos. O cinema comercial, em geral, tende a não se preocupar com uma proposta mais dialética da matéria, cinema, com o público.

Escrito e dirigido por Constanza Novick, “O Futuro Adiante”, é um longa com uma boa intenção, ele é comercial na medida que é acessível, possui um tema forte o suficiente que agrega o espectador e atrizes carismáticas capazes de sustentar o filme a partir da relação entre elas. O problema se encontra, primordialmente, nos espaços entre as construções das personagens. Constanza opta em utilizar um modelo fixo de conceito cinematográfico, um pequeno jogo de linguagem que quebre a, possível, química estabelecida pelas duas atrizes em cena. A trama acompanha Flor (Pilar Gamboa) e Romina (Dolores Fonzi), com uma amizade que perdura anos e uma fidelidade incondicional, uma à outra. Quanto mais o tempo passa, menos elas se encontram, o que gera pequenos conflitos, já que, neste período diversas coisas acontecem, impactando na personalidade das duas.

Em cena, as duas funcionam bem, possuem presença, nenhuma se sobrepõe a outra, há química, por trás da câmera há uma desavença com o próprio material fílmico, a diretora se apega a um arquétipo de cinema latino que castra as possibilidades estéticas da obra. Assim como há uma padronagem nada sutil nos longas franceses, na América Latina, convencionou-se a seguir um modelo que caracteriza todo e qualquer filme. A ideia não é de todo ruim, criar uma identidade única é perpetuar uma identidade histórica para com a arte que se realiza, porém, quando isto vira muleta ideológica, todo o propósito se perde e o produto se realiza sozinho.

Mas não só de problemas vive a película, a amizade das duas é crível e factual, podemos ver e sentir como suas diferenças e semelhanças afetam a relação entre elas. Apesar de longínqua, o afeto mútuo não é intocável, principalmente que determinadas características de uma, irritar a outra, a impulsividade de Flor e a estagnação de Romina. Porém, ambas compartilham de uma passionalidade feminina, que tem seu contraponto, no texto, na personalidade do marido de Ro. A comédia é bastante frágil, sendo dispensável em sua maioria, porém, concretiza uma amizade saudável, tendo como base enfraquecida o esquema de nostalgia que elas mantém, de uma leitura de um diálogo de uma novela, o que, teoricamente, revelaria uma breve saudade da infância, mas que funciona apenas um gatilho tolo para que o público compreenda que as memórias não se perderam com os anos. As duas atrizes funcionam precisamente para suas personagens, Dolores Fonzi, já conhecida, trabalhou constantemente com Ricardo Darín. Já Pilar Gamboa, está começando a ser reconhecida recentemente, principalmente por seu trabalho com Mariano Llinás, em “La Flor”.

Em determinado momento quando “Flor”, decide sair da casa da amiga sem nenhum aparente motivo, é possível imaginar o que está acontecendo, a cômica situação que se instala, faz parte de uma das muitas digressões da estrutura de misancene durante a progressão da história, onde isola-se as protagonistas para que possamos enxergar elas separadas, tranquilamente. Mas independente de tudo, o longa cai numa fórmula barata de filmes de dramédia comercial, com um mínimo de apelo da crítica. Não consegue ir além do óbvio, ainda que promovendo diversas facetas a direção é desengonçada, tola e infantil. Os primeiros 30 minutos de projeção lembram as produções infanto-juvenil da Globo, com todo o vigor caricato e atrapalhado.

O primeiro contato com as protagonistas é frágil e desagradável, através da lente vemos uma farsa sendo instaurada que não contribui à trama. Um clima artificial proveniente da própria situação que é colocada, além, dos dramas familiares que eles enfrentam serem pueris para aquilo que o longa se propõe, mantendo-se apenas como prova da amizade.

2 Nota do Crítico 5 1

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