Por Fabricio Duque
“Micróbio e Gasolina” representa o mais recente filme do cineasta Michel Gondry (de “Espuma dos Dias”, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”) e corrobora sua maestria cinematográfica, que é transformar o lúdico em realismo palpável ao espectador. O diretor cria um mundo único, de surrealismo possível, como construir, literalmente, um carro-casa, adicionando outro universo: o de pré-adolescentes que acreditam que seus sonhos imaginados e fugas independentes sejam fáceis como pegar um avião. Aqui, sua aventura é contrastante, com sua verborragia versus incomunicabilidade (na mesma sentença), cujo diálogo (essencialmente francês – algo como terapêutico e defensivo) é o ponto alto da narrativa, com seu existencialismo, suas idiossincrasias, suas pseudo-liberdades, suas políticas metafóricas, seu comportamento “atrapalhado”. É um filme sobre a jornada da amizade. Sobre a descoberta. Que se traduz por um road-movie pululado de adjetivos rebuscados (como “panegíricos” – elogios), analisando a “idiotice” dos outros jovens, a carta “escrita com erros de português”, suas picardias-bullying, a vida dos pais (diferenciando se a mãe está “transando” ou chorando – “É tudo a mesma coisa”). Definitivamente, “Micróbio e Gasolina” é um típico Gondry, com seu espontâneo-“artesanato” de personificar amadorismos e “prepotências ingênuas” de se acreditar que tudo é possível. Concluindo, um filme “fofo”, divertido, de fantástico experimento pessoal – que se desenvolve por acasos e sortes, e que merece “Panegíricos” por ser tão bom. A sinopse. A nova comédia do diretor traz um quê de autobiográfico. Micróbio recebeu este apelido por conta de seu tamanho, já Gasolina, por seu amor por tudo que é mecânico. Jovens e desajustados, os dois logo ficam amigos. A fim de fugir de seus problemas em casa, eles decidem construir um lar sobre rodas e seguir juntos para um acampamento onde Micróbio esteve quando era criança e que desde então tem papel fundamental em sua memória afetiva. No meio do caminho, a dupla também fará uma breve visita a um antigo amor de Micróbio. Detalhe final: como Gondry consegue extrair maestria interpretativa de Audrey Tautou (de “Amelie Poulain”) e da dupla protagonista Théophile Baquet (mesmo nome do personagem ficcional) e Ange Sargent. Recomendado.