Curta Paranagua 2024

Mademoiselle Paradis

 

Figurino luxuoso, roteiro padronizado

Por Vitor Velloso


Projetos com uma previsibilidade assombrosa fazem parte dos cinemas do mundo inteiro. Alguns não possuem uma fagulha de originalidade, outros assumem isso e uma parcela só quer fazer parte de um pequeno grupo de pompa. “Mademoiselle Paradis” é dirigido por Barbara Albert. Mais um longa de época europeu que busca salientar a beleza e a cultura de um tempo passado. Na Europa. As produções destes filmes são impressionantes, figurinos luxuosos, direção de arte rica em sutilezas, uma fotografia que possui presença etc. Já no roteiro e direção… Parece um pastiche de outros cineastas, é raro vermos estes longas e compreendermos uma autoria ou uma ousadia em questões formais, normalmente são planos fixos com uma música clássica tocando, que será interrompida por alguma discussão extremamente europeia (gritos e postura impecáveis)… Essa estrutura está tão datada e batida, que torna-se um exercício doloroso ir assistir uma película assim. E acredite, “Paradis”, é tudo isso.

A diferença é que Maria Paradis é interpretada por Maria Dragus (de fato brilhante como estão dizendo) e só. Toda a construção clichê está no progresso da trama do filme, ainda que a temática possua uma diferença já na essência, toda a cadência que é dada fortalece as convenções. Essa retroalimentação dos moldes desses projetos, apenas enfraquece o gênero e a indústria, que curiosamente é a que costuma impôr padronização. A mediocridade aceita pela maioria é o que salienta a fragilidade de grandes produções. E quando um lançamento deste, chega aos cinemas que 80% é ocupado por Vingadores, vemos que o Brasil está pior que parece, onde víamos um fim do poço, era só o início.

A conjuntura do mercado europeu, somado a falta de apoio à cultura brasileira, faz com que cinemas de shopping estejam exibindo Disney e os de rua, longas europeus, sobre cultura européia, com dramatizações aristocráticas. A proposta do longa é exatamente igual a de todos os últimos longas de época vindos do velho continente, não muda uma vírgula, a mesma estrutura em atos, com viradas de roteiro que respeita o “espaço da personagem”. Essa arte de contar histórias sem um mínimo brio formal, é uma das maiores covardias contemporâneas (mas já é um problema de longa data). Não que a atitude (covarde), seja algo novo na história dos europeus. Aliás, retrocesso é uma das palavras de ordem do continente na atualidade, seja politicamente, socialmente ou artisticamente, porém, a necessidade de colonizar um determinado ponto jamais é deixada para trás. A atitude canhestra de absorver as referências próprias são curiosas, ao analisarmos que tais cânones estão fora de seu tempo, há algumas décadas. Mas como a noção contemporânea é limitada aos próprios limites, não há reinvenção, e o ego destruiu a arte.

“Mademoiselle Paradis” entende-se dentro de uma limitação temporal, que tensiona sua linguagem àquela mediocridade comentada anteriormente, nada surpreende. A direção mantém-se apática diante da misancene que arquiteta, a interferência é mínima, apenas a construção imagética é “autoral”. A cultura de fixação do plano e do foco que compreende o todo, pois a pintura é fundada assim, é algo que funciona quando seu foco é historicidade, mas se a proposta é um drama que é construído a partir de uma personagem específica, e que recebe uma interpretação melhor que o filme merece, com Maria Dragus no comando, a intenção é de uma rigidez estética fajuta, porque não há de fato uma defesa plástica àquilo, apenas uma convenção que é mantida nos meios de produção. A montagem segue o padrão da métrica, mantém os planos algum breve momento após um diálogo, ou reação, a fim de estender um pouco a duração do que se vê, sem comprometer absolutamente nada.

O tédio é parte da equação, a lentidão não é contemplação e a mediocridade é a receita. Quanto mais avançamos no ano, somos capazes de perceber a vastidão de produções como essa, não trata-se de uma pequena parcela dos cinemas das áreas nobres, mas sim da maioria, pois o modelo não ficou preso apenas na Europa, ele foi importado para diversos lugares do mundo, incluindo América Latina.

2 Nota do Crítico 5 1

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