Curta Paranagua 2024

Crítica: Extraordinário

Eficiente ode ao respeito e amizade

Por Bruno Mendes


Não é difícil uma obra cinematográfica conduzir o expectador às lágrimas, afinal a capacidade de se emocionar perante à tristeza ou alegria de determinado fato é comum em muitas pessoas e tenho certeza, que mesmo aquelas aparentemente inabaláveis – ou “frias” – já tiraram “cisco do olho” após o término de sessões.

Quem nunca? Certos filmes não são exatamente bons, mas tentam fazer o público chorar por intermédio do uso artificial de convenções do gênero drama, como a utilização intermitente (e invasiva) de trilha sonora piegas, despejo de frases de efeito, inclusão das pouco necessárias cenas de reencontros em aeroportos ou chuva e por aí vai, outros comovem pela honestidade na elaboração e em virtude de qualidades cinematográficas distintas. E este é o caso de Extraordinário (do diretor Stephen Chbosky, responsável pelo excelente “As vantagens de ser invisível”).

No longa, o pequeno Auggie Pullman (o ator Jabob Tremblay) nasceu com uma deformação na face e aos 10 anos irá à escola pela primeira vez, onde enfrentará desafios por ser visto de maneira diferente pelos outros alunos. Com a ajuda da mãe Isabell ( a atriz Júlia Roberts ), do seu pai Nate (o ator Owen Wilson) e da irmã mais velha Via Pullman ( a atriz Izabela Vidovic,), ele aprenderá a aceitar as suas diferenças e encarar o mundo nem sempre ameno.

A adaptação do best seller da autora R J Palácio, acompanha os passos de Auggie no âmbito escolar, ou melhor dizendo, na vida como um todo, pois como todos sabem, a rotina dentro de um colégio assume relevância sem precedentes na infância. A obra também expõe o ponto de vista da mãe, opção interessante para mostrar em cena o carinho, zelo e constante receio de algum mal machucar física ou emocionalmente o garoto; e a visão da irmã, personagem descrita e desenvolvida de forma multifacetada, pois ainda que tenha enorme amor e carinho pelo irmão, a jovem sente plausível incômodo por perceber menor atenção dos pais.

Elencando ainda impressões de outros dois personagens sobre o microcosmo social em que estão inseridos, o filme não tem o ritmo narrativo prejudicado em função de tantas “visões de mundo”. O eficiente roteiro não abre brechas para perda de foco e todas as “importâncias”, apenas impõe maior força ÀS lições de vida (nunca aqui em sentido maniqueísta, superficial etc) apresentadas com elegância e fluidez do primeiro ao último minuto.

Em outras palavras, o filme nunca deixa de ser sobre Auggie, mas há lente de aumento nas dores, questionamentos, e redenções dos demais humanos na tela. Os personagens coadjuvantes, portanto, não surgem como meras figuras decorativas, mas ensinam e aprendem. E vale destacar a excelente e fundamental contribuição do elenco.

Se o garotinho que conquistou o mundo com o carisma apresentado em “O Quarto de Jack” brilha mais uma vez, o eterno glamour da atriz Júlia Roberts é diretamente proporcional ao seu verdadeiro talento. Seja em sequências de diálogos ou nos “silêncios verbais” – registrei mentalmente a sequência na qual a sua Isabell observa o filho combinando o encontro inédito com um amiguinho em casa, e sem dizer uma palavra ela expõe no semblante um misto de incredulidade e satisfação em ínfimos segundos – a atriz de ‘Uma Linda Mulher’ dá vida a uma dessas mães admiráveis.

O ator Owen Wilson cria um pai afetuoso e bem humorado, e Izabela Vidovic impressiona pela disposição criativa, ao viver uma jovem imersa em conflitos pessoais, mas sempre madura e ponderada, mesmo nos momentos mais difíceis.

Apesar do bullyng e das vastas razões para tristezas e preocupações, a atmosfera pacífica e positiva está impregnada em Extraordinário. Menos um filme sobre discriminação, preconceito e maldade, é mais uma ode aos valores mais significativos na vida, como respeito, amizade e amor.

Ok, não há novidades na concepção artística e uma ou outra pessoa poderá apontar semelhanças da obra com aquelas diversões passageiras das “sessões da tarde” da vida. Por outro lado, o filme da criança que utiliza o capacete de astronauta para esconder o rosto ao sair de casa, não é efêmero e além de divertir e marejar (ou transbordar) os olhos do espectador de lágrimas, assume importância em um mundo que, para citar um exemplo prático e atual de maldade, relativiza o racismo e é tão pobre em empatia.

Extraordinário é uma coleção de méritos e um exemplo de como o cinema pode proporcionar efeitos grandiosos com simplicidade narrativa e afeto. Muito afeto!

4 Nota do Crítico 5 1

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