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Crítica: Eva Não Dorme

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Don’t Cry for me Argentina?

Por Marcus Teixeira


Quantos lados tem umas História? Há quem diga que são três lados, o de um, o de outro e aquele que não é de nenhum dos dois. Digamos que “Eva não dorme” bebe exatamente dessa fonte, mais um lado da história de Evita. Mas para isso, esqueça de “Don’t cry for me Argentina” sendo entoada por Madonna. Simplesmente: Esqueça! Permita-se conhecer um outro lado, uma outra versão menos hollywoodiana da ex Primeira Dama da Argentina.

“Eva não Dorme” não foi feito para você se emocionar com a biografia de Maria Eva Duarte de Perón, morta no ápice de sua juventude. Na verdade, o filme não faz menções a dramas, lágrimas, histórias tristes, romances e blá blá blá. A história tem início após a morte da atriz, primeira dama, ativista política e esposa dedicada. A partir desse fato a história ganha a liberdade poética, sem nenhuma pretensão documental. A trama consiste no período pós morte até a volta do corpo de Evita para Argentina.

Por não ser uma cinebiografia, é importante entender quem foi a personagem título do filme. Evita era o nome artístico de Maria Eva Duarte de Perón, atriz que se casa com, então vice-presidente argentino, Juan Domingo Perón. Passados alguns anos, Perón, assume a presidência do país e esse período fica conhecido como “Peronismo”. Evita é uma das grandes entusiastas do governo e alinhada à sua popularidade, tenta transforma Juan em um mito, que luta pelo povo argentino.

Em 1952, aos trinta e três anos a Primeira Dama, morre de câncer no útero, causando comoção em toda Argentina. O presidente e marido decide embalsamar o corpo de Evita, e expô-lo a visitação pública. Porém, três anos após a morte de Evita, Juan Perón sofre um golpe de Estado e sai da presidência. Os inimigos políticos do presidente, afim de se livrarem da memória popular e a comoção que o nome da ex Primeira Dama carrega, decidem enviar o corpo de Evita para Europa. Essa atitude se transforma em um confronto de poder que durou vinte e cinco anos.

Pronto! Este, humilde, resumo, é tudo que você precisa saber para entender um pouco de “Eva não dorme”. O filme alinha algumas cenas reais, para ilustrar o período da morte de Evita, mas o que vemos não é um documentário ou uma cinebiografia. A premissa do filme, são os eventos que sucedem a morte da Primeira Dama e a disputa pelo corpo embalsamado dela.

A linguagem do filme é quase teatral. A cena da briga entre o motorista (Denis Lavant) e o soldado (Nicolás Goldschimidt) é impressionante. Filmada em um único ângulo, mas com uma coreografia, muito bem realizada pelos atores. A cena se inicia com uma conversa tensa entre os dois e acaba com uma luta muito bem dirigida, principalmente levando em consideração o espaço restrito para toda dinâmica obtida na cena.

Outra cena que merece destaque e acontece quase no mesmo bloco que a briga é do corpo de Evita sendo embalsamado. O trabalho de corpo dos atores e a fotografia, nesta cena em especial, dialogam com fotografia e exprimem toda melancolia que se abatia no país durante a morte da Primeira Dama.

O diretor Pablo Aguero, utiliza, em diversos momentos, reproduções de discursos de Evita, falando sobre igualdade social e expondo seus pensamentos. Isso contribui para entender um pouco da empatia, pois usar esses tipos de arquivos, contribui para entender como a disputa por um corpo, dura mais de duas décadas, pois o que estava em jogo era, mais que um cadáver, mas o maior símbolo de um projeto político.

Aguero parece preterir o roteiro afim de não comprometer linguagem estética que propõe no longa. Em diversos momentos o filme é arrastado e cansativo, podendo levar um espectador cansado, a sucumbir de sono diante de tantas cenas escuras. Assim como as longas cenas de arquivos, algumas dispensáveis.

Em “Eva precisa dormir” há poucas cenas de atores, mas em todas que aparecem, vemos atores entregues e intensos. Não há uma atuação que passe despercebida, desde a menina (Melisa Bruno) que acompanha a mãe, até os guerrilheiros. Outra boa cena em que a fotografia enriquece o texto e o texto a fotografia.

O grande mérito de “Eva não dorme” é não ser biográfico. O diretor não propões o endeusamento de Evita. Retratar uma figura carismática sem se importar para seus defensores, faz valer uma ida ao cinema, nem que seja para ouvir discurso político musicado.

3 Nota do Crítico 5 1

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