Acreditar ou Acreditar
Por Fabricio Duque
E se Deus, o grande Criador do Universo, concedesse uma entrevista a um jornalista? E se este profissional da informação, apesar de se considerar um bom cristão samaritano, não acreditasse totalmente no Todo Poderoso e duvidasse de sua presença? A premissa é um questionamento religioso no mundo de hoje. Os seres humanos, filhos “divinos”, cada vez distanciam-se mais da humanidade e se escondem nas próprias individualidades: prepotentes, narcisistas, histéricos, dramáticas, potencialmente sensíveis e que têm um “conceito de tempo diferente”.
“Entrevista Com Deus” também vem para estreitar a distância contra a religião, condensando-se como um gênero sagrado de um Deus que “existe fora do tempo”, que explica que “satanás é superestimado”. O roteiro busca a simplicidade da narrativa como fio condutor. Perguntas óbvias são respondidas com teores de adoração, apesar de um Deus pragmático e ainda mais religioso com suas regras de ser amor absoluto.
Dirigido por Perry Lang, de “Homem de Guerra” e dos seriados “Plantão Médico” a “Weeds”), “Entrevista Com Deus” é um filme advérbio sobre o livre arbítrio de um Deus naturalmente arrogante, “julgador” sobre os “filhos limitados” e sensivelmente perspicaz. E que brinca com a referência ao filme de “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, (“Não joga xadrez?”), envolto em uma trilha de violinos, que lembra os acordes da música “Fascinação”.
É sobre escolhas e consequências em uma atmosfera de perigo iminente, de que algo revelador e fatal acontecerá. Paul (o ator Brenton Thwaites) é um jornalista ambicioso em busca de sucesso profissional através de alguma grande matéria para o o jornal Herald Times. Depois de uma extensa procura, ele topa de frente com um homem que pode lhe dar a melhor entrevista de vida: ele diz ser Deus (David Russell Strathairn) e promete responder a qualquer pergunta de Paul em uma conversa única. Paul precisa acreditar para começar a sentir o sobrenatural, o divino, o etéreo, o cósmico, mesmo que seja “difícil ver os planos de Deus no meio de uma guerra”.
“Entrevista Com Deus” apresenta uma narrativa frágil, fácil e ingênua demais, adestradamente cristão em reviravoltas e saídas clichês e gatilhos comuns, como o leite estragado da geladeira. Deus deus joga com trivialidades, sendo falsamente compreensivo e buscando colocar o jornalista pedante no lugar. Que apesar de ajudar os próximos, faz perguntas padronizadas e recebe respostas prontas. O objetivo é “expandir a mente com possibilidades” destes seres terráqueos sempre ofensivos, defensivos, orgulhosos, sem conseguir manter um diálogo saudável e sem entender a natureza da fé com as enigmáticas “respostas evasivas” das parábolas pronunciadas pelo Divino.
É um mundo pela perspectiva de Deus, que mantém também um monólogo soberbo, mimado e imediatista, no sentido mais convencional da palavra. Sim, nós, filhos “estereotipados” em repetir comportamentos característicos, somos imagem e semelhança do Criador, neste caso, o ajo da morte, que dedica tempo todo dia, que usa de sadismo e sarcástico para ensinar no choque e “na mesma moeda”, plantando uma cruel semente da cautela. É também uma crítica a confiar incondicionalmente em Deus por uma “crença” hipócrita. Paul tem que descobrir a fé inquestionável, mas o filme pauta-se nos questionamentos e nas paradas hesitantes de efeito interpretativo. É um filme brega. Cafona. Manipulação ou motivação de voltar? Imaturidade? Jogo passatempo? “Entrevista Com Deus” é uma experiência infantilizada tratando adultos como crianças, sem a possibilidade do livre arbítrio. É acreditar e ou acreditar.