Curta Paranagua 2024

Crítica: Dupla Explosiva

A Balada Espirituosa da Regra Versus a Imprudência

Por Fabricio Duque


Há muito os filmes de ação deixaram de ser meros produtos tipicamente de entretenimento, e começaram a agregar humor pastelão, picardias sexuais, paralelismos com icônicas cenas do cinema e câmeras lentas microscópicas, sem esquecer logicamente das perseguições de carros e do famoso “tiro, porrada e bomba”.

“Dupla Explosiva”, do diretor australiano Patrick Hughes II (de “Os Mercenários 3”, “Busca Sangrenta”), é um desses exemplos, seguindo à risca a nova fórmula “Awkward” das situações constrangedoras. A narrativa constrói a ambiência mágica de uma rotina comum perfeitamente feliz até a surpresa realista de seu corte brusco, que desestrutura o ritmo e que desmistifica personagens que protegem clientes dos “animais”, expondo suas fragilidades, barbas e seus fracassos (após um erro não premeditado) dois anos depois. “Chato é sempre o melhor”, explica-se.

O roteiro (de Tom O’Connor, que escreveu “Fogo Contra Fogo”) utiliza a padronização dos elementos, que chegam certeiros as nossas ondas cerebrais, pela tecnologia dos estímulos das sinapses. Nós espectadores somos bombardeados com uma elétrica agilidade visceral, em tom videoclipe, da edição, que é quebrada pelo respiro mais contemplativo-observador da inserção cômica dos diálogos irônicos, debochados, semânticos, espirituosos (“Inspetor Clouseau” de “A Pantera Cor-de-Rosa”), perspicazes, sagazes, diretos e muitas das vezes escatológicos, quase infantis, reverberando assim o riso fácil.

A sinopse nos conta que o “hipster tosco” “mais sutil” principal guarda-costas do mundo Classe A (o ator canadense Ryan Reynolds, de “Deadpool”, “Enterrado Vivo”, “À Procura”) possui um novo cliente “Cucaracha” “menos inteligente” e mais “impulsivo e imprudente” (o ator Samuel L. Jackson, de “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, “Os Vingadores”): um assassino de aluguel que precisa testemunhar na Corte Internacional de Justiça. Por anos, eles estavam em lados opostos (28 vezes como inimigos antigos), sendo o “mocinho e o bandido”. Agora, precisam aprender a conviver juntos seus egos, suas implicâncias com verborragia, seus “resmungos”, suas raivas acordadas, suas invejas trabalhistas, vulnerabilidades, agressividades, altivezes nem um pouco modestas e defesas em “machos” comportamentos marrentos, colocando as diferenças de lado para chegarem ao julgamento a tempo.

Como já foi dito, não há mais maniqueísmos. Ninguém é totalmente bom ou mau, tampouco herói ou vilão. Tanto que nós torcemos, criando-nos uma cumplicidade, para que o matador chegue são e salvo ao destino objetivado. Entre vilões deturpados (o inimigo da vez é a Bielorrússia), presidentes, estrangeiros, terroristas, tortura pela família, traições, informações vazadas, campos de concentração, julgamentos, Interpol inglesa, destruição de Amsterdã, Manchester, Países Baixos, acordos de leniência (à liberdade da encrenqueira e “bitch” mulher amada, Sonia – a atriz Salma Hayek), segredos de Estado, “Dupla Explosiva” desenvolve sua trama e aprisiona seu público, com crueldade, violência e realismo sanguinário das mortes.

O “toque pessoal” de “Dupla Explosiva” (plano e contra-plano) caminha no limite tênue do humor e do clichê sentimental mais caricato e mais óbvio, tudo para agradar homens, mulheres, gregos, russos, americanos e troianos, sempre no limite do tempo da ação mortal contra o “perigo”, com inferências a “007”; “O Guarda-Costas”, de Mick Jackson (mais explícito no trailer e cartaz oficiais); “Hitman: Assassino 47”, de Xavier Gens; “Triplo X”, de D.J. Caruso; e ao estilo Blaxploitation de Quentin Tarantino. “Arte é subjetiva”, diz-se. É a técnica versus força bruta. Regras versus improvisação. É a briga pela sobrevivência a fim de se salvar da máxima de que “ninguém sai com vida”. É bullying com a “gordinha”. É o acaso aumentando a aventura da ação. É Road-movie com “deficiência romântica”.

Outra característica já tendência é a utilização de sua trilha sonora, que fornece o tom das lembranças e das emoções, como Lionel Ritchie em “Hello”; “Sittin’ and Cryin’ the Blues”, de Memphis Slim and Willie Dixon; “Ain’t No Love in the Heart of the City”, de Bobby Bland, entre outras, e até mesmo “Nobody Gets Out Alive”, escrita e cantada pela próprio Samuel L. Jackson. Aqui é quase um programa televisivo “Lip Sync Battle” em versão cinematográfica.

“Dupla Explosiva” é sobre “sociopatas apaixonados”, sobre piadinhas religiosas com freiras e negros desejados (que cantam com as “irmãs”), sobre a “bússola” da moralidade. “Elas amam o maligno e querem exorcizar os que protegem”, entristece-se com a atenção ao bandido e não ao galã mocinho, que aqui faz até uma “pseudo” explicação ficcional sobre o passado religioso de Samuel L. Jackson, uma referência explícita a “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino.
“Dupla Explosiva” é diversão garantida. É entretenimento fácil pululado ora por sacadas inteligentes, ora por humor pastelão. Assim, o longa-metragem consegue equilibrar seu ritmo, cadenciando humor, sentimento e ação.

3 Nota do Crítico 5 1

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