Do Que Vem Antes
O tempo da memória
Por Fabricio Duque
Durante o Festival de Toronto 2014
“Do Que Vem Antes – From What Is Before”, assistido durante o Festival de Toronto 2014, é uma obra-prima. Vivemos em um mundo tão dinâmico que até o cinema necessita se adaptar a esta agitação. Eis então que surge das “profundezas” o diretor filipino Lav Diaz. Há quem diga que é muita pretensão fazer um novo filme de quase seis horas, já tendo realizado um de quase onze horas. Não, não é. Tampouco esquecimento da câmera ligada. O que este cineasta objetiva apresentar é um cinema com tempo real de cinema. Sem edições rápidas, como um grande “Big Brother” visual de contemplação das micro-ações cotidianas e de uma temporalidade observada, congelando-se o tempo com o intuito de “dissecá-lo”. O filme conta pela memória os acontecimentos históricos da República das Filipinas.
O longa-metragem venceu o prêmio mais que merecido. E que atriz! Coloca Linda Blair no chinelo no quesito interpretação “exorcista”. Filipinas, 1972. Coisas misteriosas estão acontecendo em um bairro remoto, como barulhos estranhos vindo da floresta, as vacas sendo agredidas, um homem encontrando sangrando até morrer e casas sendo queimadas. Simultaneamente, Ferdinan E. Marcos anuncia o decreto nº 1081, colocando todo o arquipélago filipino sob lei marcial. É fantástico. O espectador não sente o tempo passar. Quando vê, falta uma hora. Passaram cinco. Antes da sessão de “Do Que Vem Antes”, uma mulher enlouquecida começa a levantar um discurso utópico a favor da arte brigando com um homem que falava ao telefone. “Stop talking”. E depois chorou. Muito. Mais uma cinéfila desesperada e no limite precisando de terapia pela carência crônica (talvez pela saudade que sente das obras do cineasta Lav Diaz).