Eu me afasto e me defendo de você, mas depois me entrego
Por Renata Belich
O mediano desempenho que as comédias nacionais têm alcançado ultimamente é preocupante comparado à filmes internacionais, mas o terceiro longa do diretor Pedro Amorim (“Mato sem cachorro” e “Superpai”) consegue se aproximar da qualidade das produções gringas.
A trama é baseada em uma crise conjugal de Júlio (Murilo Benício) e Noeli (Camila Morgado), que depois de roubá-la do altar e o casal passar alguns felizes anos casados, entram na rotina e começam não suportar mais os defeitos um do outro, fato que acontece com 90% da população, mas nem todos tem coragem de expor e encarar o que realmente sente em relação a isso. O filme representa uma crítica à sociedade, que acredita sempre que a grama do vizinho é mais verde, ainda mais em uma cidade interiorana, que no caso do filme, é Ribeirão Preto (SP), composta por uma sociedade provinciana onde a maioria das mulheres são submissas a seus maridos, mas com Noeli foi diferente.
Ela era, além de esposa e mãe, o rosto da marca mais famosa de molho de tomate da região, o “Juno”, onde sua imagem é considerada tão importante quanto o elefante da Cica ou o tigre do Sucrilhos do qual são citados no filme. Depois que a cônjuge pede oficialmente o divórcio após várias demonstrações de desinteresse e desatenção de seu marido, o casal inicia uma guerra conjugal que resulta até na descaracterização do famoso empreendimento deles desencadeando várias confusões para ver quem sai melhor no árduo caminho em busca da maior parte na divisão de bens.
Mesmo o casal de atores possuindo uma química incrível em suas interpretações, o ponto alto do filme, sem dúvidas, é a atuação da Camila Morgado. Sem desmerecer o talentoso Murilo Benício, a atriz de Olga incorporou brilhantemente na personagem, possibilitando que o espectador a desvincule de qualquer outro papel anterior. Vale enfatizar o sotaque do interior estudado e brilhantemente utilizado pela atriz, que em nenhum momento fica variável (algo que não ocorreu com seus demais colegas de elenco).
Outro ponto positivo foi a direção de arte, que apresentou toda linha do tempo dos personagens de acordo com a mudança no seu padrão de vida. Sempre com a presença do vermelho, seja na plantação de tomates, nos molhos, na embalagem do molho, nas roupas, nos objetos de cena, a paleta de cores foi muito bem selecionada e favoreceu, ainda mais, o trabalho da fotografia.
O único detalhe que não ficou esclarecido, foi o pôster do Kurt Cobain (do Nirvana) e de outras bandas de rock no começo do filme na antiga casa em que eles moravam, só por quê tocou “Evidências” na versão rock de Paula Fernandes, ou por quê o personagem Júlio fazia tipo o roqueiro? Mas depois ele deixou de gostar de rock? Este questionamento que não foi bem abordado na narrativa, mesmo assim não desmerece o filme como todo, ainda com o final a la “A origem” de Cristopher Nolan.
Se querem um bom filme de comédia com várias criticas sociais que podem fazer parte do seu dia a dia ou de seus amigos, vale a pena conferir, pois é um filme leve e descontraído com boas sátiras.
1 Comentário para "Crítica: Divórcio"
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