Curta Paranagua 2024

Crítica: Churchill

A densidade da idade a favor do cinema

Por Marcus Teixeira


Precisamos falar sobre a terceira idade no cinema, em casa, no trabalho e na vida. É sério! Mas, infelizmente, não será nesse espaço que falaremos e dissertaremos sobre isso. O importante é abrir esta crítica desta forma: A terceira idade vive!

São poucos os filmes que tratam da questão do idoso e de sua interação na sociedade de um modo verdadeiro, natural e espontâneo. Em sua maioria sempre vemos comédias apresentando o estereótipo vovô-engraçado ou da vovó-fofa. Em sua maioria, as obras estão cercadas de clichês e que em quase nada, arriscaria até dizer, em nada, representam o dia a dia dos idosos, seja lá em qual nação for.

Em “Churchill”, acompanhamos um pouco da história, daquele que é considerado, para alguns, como o maior britânico de todos dos tempos. Primeiro Ministro da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, possui mais idade, quando comparado aos demais companheiros militares. E é nessa diferença de gerações que está o grande conflito e argumento do filme.

“Churchill” não pode ser considerado uma cinebiografia, o filme não retrata toda vida do Primeiro Ministro, ao contrário, o que vemos é o personagem histórico sendo utilizado para narrar o conflito e as angústias do olhar de quem já passou por uma determinada situação, a guerra, e agora teme que outras pessoas passem por esse período de modo irresponsável e pouco seguro, se é que pode haver segurança durante a guerra.

É nesse momento que o filme se arrasta. O discurso tatibitate e pouco inspirado, parece não ter fim. A necessidade de exagerar na explicação e na repetição dos motivos que levam o personagem título despejar todas as suas emoções. A preocupação com a segurança dos homens que lutam em nome do país, parece tirar o sono de Churchill, que teme que sobre seus ombros recaia a derrota de seus país e morte de milhares de soldados.

Embora as falas sejam, bastante didáticas, a excelente interpretação de Brian Cox, nos faz acreditar que estamos a todo momento ouvindo algo que ainda não foi dito por seu personagem. A defesa e a entrega ao personagem, cria empatia com o público, que parece ser um dos poucos que enxergam o que realmente acontece com o personagem, a angustia de não ter sua experiência de vida levada em conta quando confrontado com uma opinião que diverge da sua.

A única que consegue perceber e ser o ponto de lucidez diante do conflito do personagem é Clemmie Churchill, defendida brilhantemente por Miranda Richardson, que traz a lucidez necessária para não deixar que o personagem de Brian Cox soe mais autoritário e arrogante do que realmente parece ser. A atitude do senhor Churchill é compreensível, mais isso só acontece devido a presença de Clemmie, que em diversas passagens toma a palavra, e a cena, para trazer Winston para a realidade.

O conflito em “Churchill” é emocional. A maior guerra retratada não é a Segunda Guerra Mundial, mas sim a inércia de pessoas mais jovens diante de uma voz, já sem o mesmo vigor de antes, sem a mesma autoridade, mas que possui uma representatividade. Talvez a cena mais emblemática e que seja o resumo deste contexto é quando os generais durante a reunião, afim de decidirem os próximos passos da guerra, ignoram a presença de Churchill e a no fim ainda pedem para que ele os fotografe.

Ser idoso em uma sociedade que aspira por ideias jovens, torna todo o dilema enfrentado por Churchill e, também, por Clemmie atual. O filme pode ser datado por fazer referência a um período histórico, porém a todo o debate, que está acima da biografia, faz de “Churchill” um filme atual e que como obra, causa incomodo, pois de certo alguém em algum momento da vida, já se deparou com o mesmo dilema. Podendo ser o ignorado ou ignorando uma opinião por achar velha ou atual de mais.

A direção de Jonathan Teplitzky é competente se analisarmos que os personagens são bem construídos e alguns bons diálogos somados a ótima fotografia. As cenas têm a medida exata do conflito proposto. A intensidade dos dramas de cada personagem diante de acontecimentos que poderiam acontecer em qualquer lugar e com qualquer pessoa, ganha a empatia de quem assiste “Churchill”.

“Churchill” sinaliza a todos que a indústria precisa rever a posição dos idosos dentro do indústria. A adição de anos de vida deve ser encarado como a soma de experiência e isso e em respeito a isso, produtores, diretores e os fãs devem ser mais justos com atores veteranos, dando melhores papéis para que possamos acompanhar o talento em sua plenitude.

4 Nota do Crítico 5 1

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