“Ave, Irmãos Taviani”
Por Fabricio Duque
“Cesar Deve Morrer”. O novo filme dos irmãos italianos, Paolo e Vittorio Taviani, de 83 e 85 anos (considerados os poetas virtuais do cinema italiano, por “Pai Patrão”, “Bom Dia, Babilônia”, “A Noite de San Lorenzo”), ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Berlim deste ano. O longa-metragem de pouco mais de setenta minutos aborda o tema de uma encenação teatral. Há metalinguagem política, filosófica e penitenciária. Esta última porque os “atores” ficcionais são detentos da prisão de segurança máxima de Rebibbia, e por causa da peça ser dentro desta cadeia italiana. A narrativa mostra dois momentos, utilizando o recurso da fotografia saturada ao brilho, lembrando a estética de uma imagem com sol em contra plano. O presente é apresentado em cores, no início e no final do filme, com as mesmas cenas, em ângulos diferentes e finalizando com o diálogo “Depois que conheci a arte, esta cela se tornou uma prisão”, frase que resume a expectativa de quem assiste. O meio, mais longo e aprofundado, representa o passado, portanto em preto-e-branco, simbolizando que a vida imita a arte. Um destes motivos é a escolha teatral: “Júlio Cesar”, de William Shakespeare. Assim, cria-se o paralelo entre as conspirações que acontecem no ambiente carcerário e o que motivou a morte do imperador romano. O roteiro, direto e intenso, ora confundindo a teatralidade da vida com a existência real, mitiga qualquer resquício de clichê, possível em se traspor teatro ao cinema, pelo contrário, é de extremada naturalidade, principalmente nas cenas de ensaios dos “atores”, chegando à possibilidade de apreciá-lo quase como documental. Permito-me a deixar a dúvida no ar. Os atores entregam-se de corpo e alma. Não há imperfeições nesta obra. É brilhante. Um excelente filme que vale à pena ser assistido. Os irmãos finalizam dizendo que “o relato da descoberta do poder da arte por homens que vivem uma tragédia, não apenas pelos crimes que cometeram, como também pelo drama que é a vida na prisão”.