Curta Paranagua 2024

Crítica: Calmaria

Pirotecnias à bordo

Por Vitor Velloso


Em 2013 lembro-me de muitas pessoas comentando sobre “Locke”, mas sempre de maneira polarizada, estava longe de ser homogênea as opiniões sobre o filme. Agora em 2018 chega aos cinemas “Calmaria”, novo trabalho do diretor Steven Knight. E novamente prevejo reações diversas com seu longa. Não é tão simples comentar sobre a trama sem entregar algum spoiler, por isso irei me ater ao básico. Acompanhamos a história de Baker Dill (Matthew McConaughey), um pescador que vive tranquilamente em uma ilha distante chamada “Plymouth”, ele fica obcecado em ir atrás de um peixe específico que ele já perdeu algumas vezes. A narrativa irá seguir seus passos de autodestruição, um fumante incontrolável, alcoólatra, mas que possui um passado um tanto conturbado. Como pode-se observar originalidade é algo que não faz parte da estrutura narrativa do projeto… ou faz?

Como não irei entregar nenhuma surpresa do roteiro, apenas direi que trata-se de um longa de ficção científica. Quando imaginamos de um drama à la Moby Dick, vemos cenas aparentemente descoladas do script, personagens que não fazem a menor diferença na história e diversas outras coisas que ficam vagas pela maior parte do tempo, porém, o que era pra ser uma grande revelação demonstra toda a fragilidade daquele texto, não apenas porque é previsível pelas diversas deixas que podemos retirar ao longo da projeção, como também é frágil as amarras que são dadas quanto a essa drástica mudança de direcionamento.

Além de pirotecnia nonsense, alguns recursos formais utilizados pelo diretor, são de uma vulgaridade estética que não adiciona em absolutamente nada a história, muito menos se caracterizaria como estilo, é apenas uma ferramenta de chamar atenção para si, de retirar da narrativa a atenção concreta e trazer à linguagem. Se ao menos tivesse sido construído espaço para este tipo de manobra, em nada prejudicaria o andamento do filme mas são movimentos de câmera artificiais que não justificativa na linguagem, nem dramaticidade. Se focarmos no drama, ou aquilo que restou de um, veremos fragilidades nas relações consolidadas dos personagens. Anne Hathaway interpreta a ex-mulher do protagonista, explicitada e resumida em um diálogo expositivo desnecessário no meio da projeção “Ambos estamos machucados, mas de maneiras diferentes”. Preferia o valor especulativo da trama de “Locke”, ou o valor imaginativo creditado ao espectador de toda a misancene composta a partir de sua ausência. Aparentemente criar um universo inteiro, tecer através de múltiplo gêneros cinematográficos e buscar diálogos que fortaleçam o drama iniciado nos primeiros 20 minutos, não é o forte do diretor. A impressão que se tem é que seu esporádico talento com o roteiro, que rendeu “Senhores do Crime” e “Aliados”, nem sempre se mantém, inclusive realizando bombas como “O Sétimo Filho”. A irregularidade na carreira de Steven desanima quem deseja acompanhar seu trabalho, pois creditar uma incerta esperança em um projeto tendo 50% de chance de decepcionar-se, é complicado.

Diane Lane interpreta Constance, seu papel na trama é… bom, imagino eu que seria uma espécie de refúgio psicológico onde Dill iria, mas no fim é apenas uma desculpa para fragmentar a narrativa em diversos blocos. Essa atitude, ao menos, é justificada no texto, ainda que a intenção da história seja duvidosa e a força dramática ainda mais. Além de todas as amarras estarem presas à um recurso pouco honesto do roteiro. E as viradas se considerarem plot twists, é deprimente. Jason Clark interpreta outro bêbado, um personagem detestável que deposita em sua esposa sua frágil masculinidade, agredindo-a, sua participação no filme não se justifica também, se juntar todo seu tempo de tela não deve passar de 10 minutos, e isso porque à priori ele é o protagonista.

Se colocarmos na balança, não trata-se de um projeto fracassado por natureza, mas sim de uma tentativa de criar um roteiro fora da caixa que se perde com o progresso do mesmo. Além disso a direção de Steven, que busca chamar atenção o tempo inteiro pra si, não passa de pirotecnia barata que fica datada a partir de sua primeira virada estética. No fim, temos um longa que pouco chama atenção, mas que pode render pequenas catarses ao público, sendo pouco proveitoso em linguagem mas fluído em sua primeira metade onde busca manter o mistério e algumas escolhas em caráter mais dualista.

2 Nota do Crítico 5 1

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