Algo Mais Explícito
Um filme com caráter politômico
Por Redação
Nosso site convidou o realizador Cristiano Requião para traçar linhas analíticas sobre o novo curta-metragem “Algo Mais Explícito”, dirigido por Cavi Borges.
Por Cristiano Requião. Uma das características mais interessantes de Cavi Borges, além da profusão na produção de filmes (quando menos esperamos brotam longas e curtas) é a sua versatilidade em lidar com diferentes temas com uma unidade narrativa própria eviscerando uma diversidade ímpar de conteúdos, algo raro entre os realizadores brasileiros.
“Algo Mais Explícito” é mais uma prova disso. Corrupção na política e um sentimento de revolta que faz parte do imaginário popular, resultam em um crime já revelado na primeira cena. Tudo muito claro desde o início. Os arquétipos são nítidos, óbvios. A direção naturalista dá aos atores a liberdade de viverem as emoções de forma autêntica. Orgia com três mulheres, drogas e a bíblia revelam o caráter politômico de tantos políticos que conhecemos.
Não há intenções em mascarar ou gerar ambiguidade. A luta de classes não assume nenhuma posição. Seria muito preconceituoso encaixar o filme em uma ideologia de esquerda ou direita. Até porque trata de uma questão quem vem antes e está muito acima disto: a postura feudalista e reacionária de uma sociedade desigual. Neste cenário Cavi ainda acrescenta uma trama amorosa.
Sexo, luxúria, revelações com cenas gravadas com um celular, estupro e um aborto mal sucedido são suficientes para gerar ódio e nossa identificação com o personagem assassino. Não há nenhum propósito ético, nada que aponte condutas morais. Não há vencidos ou vencedores. “Algo Mais Explícito” retrata apenas uma circunstância atual com o objetivo de suscitar emoções. Pratos e talheres são postos na mesa. Quem confere ao epílogo alguma razão é o espectador.