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Crítica: A Maldição da Freira

A maldição do found footage

Por Vitor Velloso


O gênero de terror como um todo é dominado pelas presenças sobrenaturais. Impossível negar a massiva quantidade de filmes do subgênero que são produzidos por ano O apelo vem do lugar comum, não como um demérito mas sim fruto de anseios e medos das pessoas em geral. Se você possui algo que é a ausência do material, que possui formas variadas, torna-se quase inconcebível resistir a isso. Por outro lado está havendo uma espécie de revival dos longas com alguma temática envolvendo cultos, a ideia possui diversas obras, principalmente dos anos 70, onde havia uma quantidade maior. Com o passar dos anos o estilo e a forma do terror foi deixando de ter sua padronização mais clássica, se iniciaram os projetos com teor social, a desconstrução do caráter físico na estrutura do terror e ele foi ganhando nova forma, até que vimos o found footage vir à tona e dominar as produções do gênero até hoje. Compreensível, já que se neste estilo a câmera corpo é a predominância da estética e a sensorialidade fica por conta da própria ação, muito antes da imagem ou composição.

Dirigido por Aislinn Clarke, “A Maldição da Freira” irá contar a história de dois padres que vão há um convento verificar um possível milagre, estátuas chorando sangue. O conceito por trás da trama está longe de ser original, porém, a abordagem formal que o diretor decide tomar, facilita a proposta já que John (Ciara Flynn) está encarregado de realizar as filmagens destes “milagres”. E enquanto o projeto cauca a encenação a partir desta construção mais misancênica de toda a ação, a fluidez que se mantém é bastante sólida, não que seja algo novo, mas se destaca por manter os dois pés no chão e realizar um trabalho maior de composição. Infelizmente essa cadência se perde em todos os clichês formais das ideias que consolidaram a proposta do found footage, logo, ele cai numa mesmice e num ciclo de mediocridade irreversível. Não que a primeira metade seja realizada com esmero, mas a encenação ao menos estruturava algum caminho a ser seguido.

Se até “A visita” de Shyamalan, os recursos estéticos do found eram utilizados como proposta sensorial, com exceção de atividade paranormal, depois coube a outro autor utilizar a ferramenta de uma maneira criativa que adicionasse ao campo cinematográfico novas possibilidades aos próximos diretores que optarem pelo seu uso. Não é o caso de Aislinn que decepciona ao iniciar bem o longa, depois decide entregar ao mercado tudo que havia utilizado. E não apenas sua linguagem degringola, a própria figura central, o mistério, torna-se uma reviravolta pouco convincente e extremamente previsível, com direito a possessão e levitação. Enquanto vemos a progressão da narrativa, percebemos que não existe absolutamente uma vírgula de originalidade no que está se passando na tela, inclusive sua resolução que é uma mistura de “REC” com “A Bruxa de Blair”. Jumpscares bobinhos, a câmera que pouco mostra da construção atmosférica e todos os demais clichês, estão presentes.

Existe um pequeno hiato na trama onde se inicia uma possibilidade de discussão moral e ética acerca dos métodos arcaicos utilizados pela freira, mas é abandonada cedo. A reflexão seria interessante de ser debatida fora do campo religioso, mas sim humanístico, compreenderia diversas áreas possíveis da atuação da Igreja Católica até os dias atuais. Mas o filme se interessa mais em partir ao gráfico, aquilo que move seus ideias de maneira subterrânea e utiliza a cena apenas para indicar uma fragilidade da fé do padre Thomas (Lalor Roddy) na instituição a qual dedicou sua vida. E se não bastasse este show de preguiça na construção da temática e dos personagens, vemos tudo a partir da ótica de John, mas este é apenas um artifício textual que está ali como trampolim dramático do Thomas.

Está longe de ser uma bomba, mas a falta de interesse em achar resoluções e recursos pragmáticos e que elevariam a obra a outro lugar, tensiona o equilíbrio do que estava bom ao medíocre. Claro que determinados clichês são quase impossíveis de impedir, já que a solidificação de determinados conceitos já foi implementada à muito tempo, porém, com um pouco mais de esforço seria possível construir algo que de fato fosse se destacar em algum campo cinematográfico. E ainda que o orçamento fosse baixo, as soluções não tem esse gasto todo, pelo contrário, menos pirotecnia resultaria em custos menores.

2 Nota do Crítico 5 1

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