Confira o que aconteceu nos primeiros dias do Festival Lanterna Mágica 2025
Festival goiano abre a programação com longa psicodélico, encontro sobre a mulheres na animação, discussão sobre políticas públicas regional, além da exibição das mostras competitivas de curtas nacionais e internacionais
Por Clarissa Kuschnir
A sétima edição do Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação já me trouxe ótimas impressões logo em sua abertura e na primeira noite das mostras competitivas de curtas. E nada melhor que iniciar um festival, com um longa que consegue mergulhar fundo nas emoções adultas. Pelo menos para mim, a produção espanhola e polonesa “Rock Botton”, inspirado na música homônima de Robert Wyatt, e na vida do próprio músico inglês fundador de algumas bandas entre elas a Soft Machine, trouxe-me uma sensação do quanto as animações podem contar histórias tão instigantes usando recursos animados além da imaginação, trazendo a cultura hippie dos anos 70 com a realidade das drogas, sexo e rock-and-roll. E esta é uma animação que mesmo causando estranheza para alguns, rende boa horas de conversa. E como rende.
Logo no primeiro dia das mostras competitivas de curtas nacionais e internacionais, o festival já deu a ideia do que a curadoria se propôs a trazer, com muitos curtas realizados através de histórias pessoais dos realizadores, sem deixar de ir para o universo ficcional.
“É uma honra chegar nessa sétima edição e conseguir trazer os realizadores da mostra competitiva nacional. Isso é um desejo desde muito tempo e essa é a segunda edição que estamos conseguindo honrar. Eu acredito que precisamos deste espaço de encontro de assistir e conhecermos uns aos outros, além de saber o que está acontecendo sendo produzido e de possibilidades de coprodução. E isso fortalece ainda mais nossa produção. E eu tenho ainda muito mais orgulho de estar produzindo este festival aqui fora do eixo, no centro do Brasil. aqui em Goiânia”, disse Camila Nunes, idealizadora do Lanterna Mágica, durante a abertura das mostras competitivas.
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Um dos destaques para mim foi “Anacleto e o Balão”, de Carol Sakura e Walkir Fernandes, de Curitiba. Baseado em fatos reais e adaptado de um livro lançado em 2015 pela diretora, o protagonista tem como um companheiro um balão vermelho que dá o nome de Anacleto. E ambos se tornam companheiros. Mas uma hora, Anacleto tem que voar e seguir seu caminho. E toda animação é sem diálogos. Isso me remeteu a infância, onde um dia quando criança em casa, eu perdi um balão e fiquei muito triste. Outros curtas que me chamaram a atenção foram: “A Rede”, de Beatriz Lima, do Rio de Janeiro que tem sua estreia no festival retratando a história, através da rede de dormir, “Eu e o Boi, o Boi e Eu” , de Jane Carmen Oliveira, da cidade de Pedro Leopoldo( MG), que pelos olhos de sua protagonista mirim, apresenta a popular festa do Boi da Manta, e “Guaracy”, de Eliete Della Viola e Daniel Bruson, de Sorocaba (SP), em que se resgata pela da técnica de Stop Motion a memória de seu avó com de imagens de arquivos, recortes de papel , impressão em acetato e até filmagens feitas sobre ele.
Já a mostra internacional se destacou como temas como: holocausto, ditadura, guerra, Alzheimer e perdas. Ou seja, curtas com temas mais adultos e importantes, me chamando a atenção da água como elemento, em diversas produções. Um dos curtas que mais me marcaram na primeira noite foi “Papillon”, de Florence Mialhe, da França. Como uma obra impressionista, e muito poético, a animação retrata a vida do nadador e atleta judeu Alfred Nakache que participou das Olimpiadas, após sobreviver ao Holocausto e perder sua mulher e filha em Auschwitz. Outro destaque foi “It Shoudn’t Rain Tomorrow”, de Maria Trigo, da Alemanha. O curta traz o desafio de uma filha que volta a morar com sua mãe, que perde a memória.
Ainda dentro da programação de curtas estrangeiros, o segundo dia trouxe a Mostra Gondwana sem caráter competitivo com a exibição de curtas da África, Américas e índia. As produções foram: “Sakaki”, de Barcabogante, do Brasil e Bolívia, “Black Barbie”, de Comy Arthur, da Gana, “Dona Beatriz Ñsîmba Vita”, animação que percorreu e foi premiado em diversos festivais pelo Brasil, dirigido por Catapreta, e “Abloom”, de Anirud Sah, da índia.
“A mostra apresenta a importância de além de reverenciar a ancestralidade africana que a maioria dos brasileiros têm é discutir a animação de uma forma política de outra pessoas e racialidades produzindo. O que vemos tanto nas curadorias quanto em resultados de premiações é que ainda tem uma recorte muito hegemônico, seja de territórios, de raça ou de gênero, Coisas que vamos discutindo para vislumbrar um futuro mais democrático e de mais equidade, em relação de animação. São filmes que trazem a tona à sua própria identidade”, disse Kalor, curadora da mostra.
Com a preocupação de debater importantes temas, o Festival Lanterna Mágica 2025 preparou ótimas mesas iniciando os encontros com um painel das mulheres no audiovisual com representantes tanto brasileiras quanto estrangeiras, seguido de uma apresentação com Reynaldo Marchesini que mostrou técnicas de como atrair financiamentos para projetos de audiovisual, focado em animação. No segundo dia de encontros, destaque para o debate sobre políticas públicas para a animação brasileira e no estado de Goiás. Todas essas mesas, farei uma matéria a parte, destacando melhor, cada encontro de mercado.
E o público que compareceu na noite do terceiro dia do festival, teve a oportunidade de assistir ao longa convidado de animação “Arca de Noé” (leia a crítica aqui), do diretor Sérgio Machado e Alois di Le. E ainda vem muito mais por aí! Acompanhe minha cobertura diária no Vertentes do Cinema!