Confira o que aconteceu na coletiva de imprensa do Festival Imovision 2025
A primeira edição do Festival de Cinema Europeu Imovision reúne cineastas em coletiva e evento em São Paulo
Por Clarissa Kuschnir
Da programação do primeiro e inédito evento de cinema europeu contemporâneo organizado pela Imovision, nós contamos por aqui (veja matéria completa do Tudo Sobre). E para complementar, a distribuidora host promoveu uma coletiva (São Paulo) e abertura (Niterói) para apresentar, à imprensa e convidados, alguns cineastas que vieram representar seus filmes. Na conversa que ocorreu no Reserva Cultural da Paulista estiveram presentes os cineastas: Morgan Simon, de “Entre Nós e o Amor”; Frédéric Farrucci, de “O Último Moicano”; Audrey Diwan, de “Emmanuellle”; Alexandro Avanas e Eleni Roussinou, diretor e a atriz de “A Síndrome da Apatia”; e George Gachot, de “Misty – A História de Erroll Garner”. Na capital paulista, a conversa foi mediada pela jornalista Flávia Guerra e pelo crítico de cinema Luiz Carlos Merten, além da presença de Jean Thomas Bernardini, proprietário da Imovision e das redes de exibição Reserva Cultural.
“Nunca tivemos um festival europeu nessa categoria. E como temos um catálogo recheado de filmes europeus então ficou um pouco mais fácil fazer um festival. Aqui no Brasil, a Imovision distribuiu quase 600 filmes. Destes, uns 400 são europeus. Então é natural fazermos um festival, no qual entendemos profundamente. E temos a facilidade de trazer o talentos, como os que estão aqui”, enfatizou Jean-Thomas ao ser perguntado sobre o que o motivou a organizar esse festival, e emendou dizendo que o festival estará em 75 salas espalhadas pelo país, o que dará oportunidade para que o público fora das capitais possa ver títulos inéditos e independentes. “É um tipo de cinema que é para qualquer público, até para quem não está acostumado a ver cinema independente”, afirmou Jean.
Em relação aos títulos escolhidos, Jean Thomas disse que foi como qualquer festival, e que cada país selecionado tende a dialogar de alguma forma com algum tipo de público. Ele acha ótimo que uma festival tenha filmes clássicos, porém a curadoria preferiu focar em filmes novos que acabaram de sair, para que o público pudesse apreciar essa nova safra de filmes europeus contemporâneos.
Um dos títulos mais esperados é “Emmanuelle”, que ganha uma nova roupagem do clássico erótico porn soft dos anos 70, pelas mão da cineasta francesa Audrey Diwan.
“Eu gosto da ideia de não dar resposta ao público, mas através dos filmes gosto de perguntar. Eu gosto de realizar os filmes como material de discussão espero que o público esteja lá por este motivo”, disse Audrey sobre seu “Emmanuelle”, que nesta versão tem um olhar mais feminino para a personagem, em contraponto ao filme clássico, que era vista como um objeto sexual masculino. E segundo a diretora foi um desafio transformar uma personagem tão sexy, e desejada por tantos homens, através do olhar de outra mulher. A diretora ainda complementou que tentou abordar a personagem menos erótica, ou seja, o “menos é mais” para ela, bem diferente da “Emmanuelle” dos anos 70. Ainda segundo a diretora, foi um trabalho conjunto da equipe, de como ela poderia trabalhar esse feminino. E realmente vemos uma Emmanuelle mais feminista e mais dona de seu próprio corpo.
Um dos pontos muito interessantes das conversas entre mediadores e realizadores foi quando se falou sobre a exploração imobiliária nas cidades. A jornalista Flávia Guerra começou abordando a cidade de São Paulo, que está se acabando e perdendo a identidade por causa da quantidade de prédios sendo construídos e nós brasileiros não fazemos nada. E foi com esta afirmação que ela questionou o cineasta Francês Frédéric Farrucci de “O Último Moicano”, que traz justamente a luta de uma personagem que vive como pastor na Ilha de Córsega e que tem que enfrentar a especulação imobiliária dos “poderosos”. “Eu não vejo o personagem como um herói local. Ele é focado a tentar pensar como ele se tornar herói tendo que fazer tudo sozinho, porém pensando no coletivo, e não só nele”, disse.
Flávia complementou com a palavra apatia sobre nosso olhar para que essa especulação imobiliária mude. E aproveitando o ensejo, a palavra apatia é retratada no filme “Síndrome de Apatia”, do grego Alexandro Avanas, que aborda sobre a chamada “Síndrome da Resignação”, sofrida no filme por uma das filhas de um casal de refugiados russos, que vivem Suécia. A síndrome faz com que a menina fique em coma, numa dissociação da realidade, depois de lembrar de um trauma do passado. A atriz premiada grega Eleni Roussinou está no Brasil e faz o papel de uma enfermeira que cuida de várias crianças com essa síndrome.
E tem mais drama familiar como o diretor Morgan Simon, de “Entre Nós e o Amor”, trazendo para as telas um complicado relacionamento entre uma mãe e seu filho adolescente.
“É um filme muito pessoal. É um retrato da minha mãe. Quando eu me mudei, eu olhei para minha mãe de forma diferente. É um projeto que tenho há anos. E eu achei interessante falar de uma mulher que tem 50 anos, que tem problemas financeiros e que não é o centro das atrações da sociedade e que se sente fracassada. E o filme diz o contrário. A felicidade pode ser perto de você, do seu local, e alguém pode olhar para você diferente e fazer com que haja uma renovação de vida”, disse o diretor.
Conhecido por ter dirigido documentários sobre Maria Betânia, Nana Caymmi e João Gilberto, o franco suíço apaixonado pela música brasileira George Gachot traz desta vez o Jazz como pauta com “Misty – A História de Erroll Garner”. Ao ser perguntado o porquê desta mudança para o Jazz, o diretor disse que quando era criança era proibido de ouvir Jazz, e que agora pode falar sobre isso e sobre esse grande músico por quem sempre foi fã.
Os representantes dos filmes, ao serem perguntados pelo jornalista Alex Gonçalves, do Cine Resenhas, sobre o cinema brasileiro (e qual cada um conhecia), os filmes citados foram: “Aquarius” e “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho; a série “Os Outros”, produzido pela Globoplay; e “Cinemas, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes. Sorte dos pernambucanos, que estão se sobressaindo pelo mundo.