Entrevista com o ator Néstor Guzzini do filme “Meu Mundial – Para vencer não basta jogar”
NESTOR GUZZINI vive nas telas o pai de Tito. Nascido em Montevidéu em 1973, Nestor sempre quis ter uma carreira nas artes. Aos 16 anos, ele se juntou ao Antimurga B.C.G. Desde 2002, ele participa de projetos de TV, rádio e cinema, principalmente interpretando personagens de comédia. Depois disso, Guzzini fez papéis de protagonista e ganhou nove prêmios de melhor ator em diversos festivais pelo seu trabalho no longas “Tanta Agua” (2013), “Mr. Kaplan” (2014) . Ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Gramado 2018, na competição internacional, e também da Asociación de Críticos de Cine del Uruguay, ambos prêmios pelo seu papel em “Meu Mundial – Para vencer não basta jogar”.
Vertentes do Cinema: Como foi para você realizar este papel que possui tantas camadas e dilemas morais?
Néstor Guzzini: Fico muito feliz que tenha visto isso essa camada, pois eu enquanto ator tenho que respeitar a história. É uma história clássica e o pai, neste filme, é como uma espécie de voz da consciência, que deseja que seu filho estude, se desenvolva e isso tem que acontecer na história, se não funcionaria. E agradeço muito ao diretor, Carlos, por permitir que mostremos mais de uma face e que possamos esclarecer a miséria, a pobreza… É um mundo em que se vivia com muita carência econômica. Ele entende que este mundo pode ser perigoso para seu filho, pois pode ser agressivo para ele. Sente que não tem mais peso econômico dentro de sua casa. Então nossa intenção era mostrar essas questões reais.
VC: Como você enxerga essa pressão que a mídia e a população faz sobre essas jovens promessas?
NG: Claramente um pré-adolescente, jamais deveria ter que sustentar sua família. Mas em determinadas situações, a realidade mostra que essa discussão é mais difícil que parece. Eu enquanto torcedor, percebo que os jogadores são muito jovens às vezes e isso demonstra um certo egoísmo da nossa parte. Por isso, eu acredito que eles deveriam ter um desenvolvimento na escola, pois sem isso não é possível.
VC: Você acha que por tratar-se de futebol, este filme terá uma abertura maior na América Latina, já que existe uma tradição cultural no continente?
NG: Sim, acho que por ser uma história universal, há espaço para ele nos cinemas. Por outro lado, temos como contrapartida, sabemos que para contarmos essa história, deveríamos compreendê-la como uma questão real e algumas pessoas irão questionar isso. Pois não é uma história apenas sobre futebol, mas sobre família também.
VC: Recentemente tivemos Kléber Mendonça Filho como Júri da Semana da Crítica, o sucesso do cinema brasileiro nos festivais, Larraín e Trapero conquistando o mundo e Lucrecia Martel presidindo o Júri em Cannes este ano. Acredita que agora o cinema latino terá mais êxito com o público?
NG: É importante que diga isso, mas não sei se é de fato uma abertura tão grande. Sou ator, não sou produtor, mas acho que a relação com o grande público não vai mudar tanto, porém, indo aos festivais venho percebendo que há uma aceitação maior e vêm sendo muito respeitado. Para mim é muito difícil assistir um filme brasileiro no Uruguai, pois a maioria dos filmes que chegam são norte-americanos. Por sorte temos a Cinemateca, onde vi muitos filmes brasileiros e isso me deixa muito feliz. O que eu acho importante, é que é uma questão humana, de anos para cá pude ver crianças e jovens que nunca tinham ido ao cinema, assistir pela primeira vez um filme latino, onde estamos trabalhando e isso para mim é muito importante.
VC: Obrigado!