Coletiva de Imprensa: “Inocentes” e “Pendular”

 



Coletiva de “Inocentes” e Pendular”

Transcrito Por Fabricio Duque


Depois da coletiva de imprensa de “Vazante”, um barraco histórico (de ânimos e iras exaltadas) que colocou sua diretora Daniela Thomas literalmente em um fogo cruzado de palavras, ideologias, passados, acertos de contas sobre a escravidão e a representatividade do negro no cinema, os filmes de hoje, o curta-metragem “Os Inocentes”, de Douglas Soares; e o longa-metragem “Pendular”, de Julia Murat, versaram sobre arte, pornografia e os limites do ator em se entregar sem tabus, preconceitos e limites.

Nosso site gravou a coletiva na íntegra. E irá ao ar uma semana após o Festival de Brasília. Fique ligado!

Sobre “Inocentes”, o diretor disse: “É o tesao do olhar e da forma do corpo. Um exercício do com o meu olhar sobre as obras fotográficas de Alair Gomes. Eu procurei misturar épocas. Antigamente, a tecnologia era racista. Os filmes da Kodak não eram feitos para fotografar negros. Busquei referência no curta “Sal Grosso”, de Ana Cristina Murta e André Amparo (de 2006), sobre três pessoas que dublam um churrasco na laje com uma câmera tele. Há muito de performance. Trazer as referencias de Alair para o filme, como “Mulheres Apaixonadas”, de Ken Russell (de 1969) e o que assisto na internet. A fotografia testou filtros para tirar o amarelo da areia e conservar o visual pictórico na definição e na nitidez em trabalhar com texturas, chegando neste desenho que define a expressividade da imagem. Alair não separava arte da pornografia. E no boquete interrompido, eu que fiz”. Maria do Rosário, a mediadora, complementa: “Vocês saíram dos corpos Apolíneos. Aqui é mais Dionisio que grego clássico da beleza. Queria mais corpos”.


A Réplica

O diretor Douglas Soares solicitou uma Réplica a nosso site. “Acabei de ler seu resumo transcrito do debate é um ponto me incomodou. Quando você cita a “tecnologia racista” que mencionei, seria muito importante que você tentasse corrigir minha fala. Eu trouxe esse elemento como um terceira via do porquê talvez não tivesse negros nas fotos de praia. Mas de fato, isso é uma incógnita entre os pesquisadores. O motivo mais plausível é de que aquela Ipanema do passado não era aberta para que esses corpos negros ali transitasse. Eu acho que citar apenas a tecnologia dos filmes analógicos como motivo, diminui muito a questão social e exime a população dessa culpa. Não me sinto à vontade de fazer essa sugestão, mas pra ficar mais honesto com o meu discurso, eu queria propor essa revisão”.

Sim. Sua sugestão é extremamente válida e pertinente. Portanto, está acatada e replicada.


Sobre Pendular

Sua diretora Julia Murat disse: “Foi um processo confuso de dança e escultura. Nós fomos criando junto. Em todo o processo. Neste período, minha mãe (Lucia Murat) começava a filmar “Em Três Atos”. Nosso filme começou antes. Tudo foi muito conversado. Há influencia minha na dela e dela na minha. Tentamos criar uma ideia de que a divisão não é de cinquenta porcento. A fita simbólica é impossível. Está mais para encontros possíveis que o tesao e o afeto. Está tudo amalgamado. Um reflexo da vida que joga pro roteiro e o roteiro joga para vida. Um desejo de recriar com o máxima veracidade. Na cena do crítico, o ator Márcio Vitto ficou muito agoniado para não ser presunçoso e artificial. Não queria citar só pra mostrar que você sabe e sim o que está realmente no cotidiano. Ele fez aulas de artes durante o processo para construir esse lugar do critico”.

O corpo como obra

jogo que a raquel faz e ver a interpretacao do ator: a atriz e personagem – personagem e atriz – uma busca no choro plastico

Raquel Karro (que estuda os gestos), atriz principal, Ela, disse: “O processo durou um ano e tive muito tempo para processar. Foram muitos atravessamentos com a minha vida. Tinha um bebê de quatro meses e meio no inicio do processo. Questionei como continuar a carreira sendo mãe. O filme ajudou muito por um via inversa – das questões de ter ou não o filho na personagem. Foram quatro meses me preparando sozinha”

Julia: “O roteiro estava super amarado. Ficou a dança contemporânea: Raquel era acrobata e Neto Machado, dançarino de rua. Nós jogamos o tempo todo. Era a metafísica interativa da artista plástica do filme construindo obras que não estava familiarizada (alterando a própria obra), como os plásticos. Há também a obra do pulmão de plástico que representa a morte da mãe da artista que morreu de câncer de pulmão. Estudei os gestos que eles faziam e trouxe para a dança. A própria cena de esticar a fita e a primeira transa é performática quase artificial. Baseei-me no filme “Roda da Fortuna”, de Vincente Minnelli, com Fred Astaire, de 1953, que é comentada no filme “Santiago”, de João Moreira Salles. De um pulinho vira um pulinho. O momento da passagem definiu tudo”.

O filme passa por um momento complicado. Sua faixa indicativa subiu de dezesseis anos para dezoito. “Estamos recorrendo politicamente, mas não vamos ganhar. Pelo escrito da lei não pode aparecer pênis, mas sexo pode. O mundo está ficando pior infelizmente. Nós, eu e Matias, meu marido, criamos junto para ter tesao e libido e manter o tesao. Eles não se unem mas sim se influenciam. A influência do corpo dela no mundo dele, uma conexão”

“A escultura matéria-prima foi primordial para entender o trabalho. Rodrigo, a escultura e Raquel, ocupando o chão com potência. É onde o encontro do x e y estavam – um parente da batalha naval, de afetos e encontros. Uma representação muito gráfica e muito elucidativa”. A casa muda quando ela chega e assim reestrutura o espaço do local – com tapetes. “Tudo que pertencia a ela era um rolo de tapetes”.

Aguarde mais no nosso site.

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