Imagem e Palavra

As verborrágicas imagens de Godard

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Cannes 2018


Uma das características principais do cinema é a sua pretensão, especialmente se for do universo da Nouvelle Vague. Esta questão é o mote para analisar a nova obra do veterano Jean-Luc Godard, “The Image Book” conjugada com a ideia se é provocação ou irritação.

Tudo aqui é uma grande experiência imagética, que deseja desconstruir os próprios sentidos do espectador sendo descontinuo e irregular por propósito e querer máximo. Mas acima de tudo é uma homenagem ao cinema. A um universo que não existe mais. Que morreu. Que não pensa mais. Que não se perde em devaneios e verborragia. Que não se expõe. Apenas estagna-se em uma zona de conforto permitida, limitada e já mastigada por outros.

É exatamente isto que Godard quer passar, com toda sua pretensão de um senhor de mais oitenta anos que busca a juventude nos próprios pensamentos. Manter-se vivo, são, livre de todos e qualquer um. Entender sua arrogância é captar na essência sua dor, seu sofrimento por uma idiotização do nosso mundo moderno, que escolhe estar palatável, vide o próprio novíssimo francês atual (com mais tendência hollywoodiana e de cortes padronizados de uma televisão).

“The Image Book” é um experimento de um cinéfilo apaixonado pelo material bruto da sétima arte: imagens. Godard potencializa a máxima popular de que “uma imagem vale mais que mil palavras” com o ver e o ouvir. É desconexo, desconectado, em beat acelerado, metafórico, fragmentado, e arrogantemente verdadeiro. Usa-se o cinema como filosofia, como terapia, como desabafo, como um discurso revolucionário, como um passional acerto de contas.

O que é o cinema? Uma sucessão de cadenciadas ideias narrativas? Uma explosão subjetiva de seu criador (que só o mesmo entende)? Por cenas de filmes, principalmente de seus anteriores, por exemplo, “O Pequeno Soldado”, os diálogos são mantras, selecionados, como trechos de um livro, este por sua vez um elemento e meio altamente influenciador.

O polêmico, não francês, mas sim suíço, (e meio que odiado pelos franceses) disse que cinema é uma experiência do olhar. François Truffaut, da mesma época e retro-alimentador, escreveu que é “um prazer aos olhos”. Então, como definir (e mensurar) o que pode ou não ser feito. O que é cinema ou não. Toda e qualquer arte é autoral. E todo e qualquer diretor deve sofrer as consequências de sua escolha. É o livre-arbítrio.

Quando “The Image Book” “bagunça” nossas percepções ao nos destituir de nossas razões, nossas morais, nossas padronizadas liberdades, é mostrado que os artistas podem transcender em quantos filtros estéticos e formatos forem necessários e possíveis, como Stanley Kubrick em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. São poetas criativos, na vanguarda única de seus quereres.

É valorizar os clássicos e criticar as refilmagens (estas que denotam que não há mais boas ideias e que se precisa repetir o que já foi feito – com uma modernidade e um olhar do agora – por exemplo, “Fahrenheit 451″). É uma obra de colagem em que a imagem é a mais importante complementada por palavras.

“A guerra é aqui”, diz-se. É colocar realidade na realidade. É sobre morte, eternidade, histórias, torturas, censuras e sobre É sobre não esquecer de Rosa Luxembergo, visitando seu túmulo. “Nenhuma atividade começa sem arte”, diz-se.

Concluindo, “The Image Book” é o libertador e inquietante respiro de um combatente; e é a utopia ingênua de um querer guerrilheiro de preservar o cinema que hoje, pelas palavras de seu realizador, “morreu”.


Festival de Cannes 2018: “The Image Book | Le Livre d’image”


Do diretor francês Jean-Luc Godard (de “Acossado”, “A Chinesa“, “O Desprezo”, “O Demônio das Onze Horas“, “Eu Vos Saúdo Maria“, “Adeus à Linguagem“, “Nouvelle Vague“, “Filme Socialismo“). Experimental. 90 minutos.


Uma mistura entre fatos e ficção, explorando e refletindo sobre os países do mundo Árabe. Você ainda se lembra de como, há muito tempo, treinamos nossos pensamentos? Na maioria das vezes nós começamos de um sonho … Nós nos perguntamos como, na escuridão total, cores de tal intensidade poderiam emergir dentro de nós. Em voz baixa e suave Dizendo coisas ótimas Questões surpreendentes, profundas e precisas. Imagem e palavras Como um pesadelo escrito em uma noite tempestuosa. Sob os olhos ocidentais. Os paraísos perdidos. A guerra está aqui.


“The Image Book | Le Livre d’image” integra a mostra competitiva oficial do Festival de Cannes 2018.

3 Nota do Crítico 5 1

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