Camerata Jovem – Conduzindo Sonhos à Realidade
Histórias impressionantes em padrões rigorosos
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra Recine 2021
“Camerata Jovem – Conduzindo Sonhos à Realidade” de Marcio Ribeiro, é um caso de documentário com boas intenções formalizadas por uma linguagem que não consegue se distanciar da padronização institucional.
A questão interna da obra, parte para a exposição do coletivo e da importância da prática musical para cada um daqueles jovens. Inicialmente, quando a apresentação é feita em planos rápidos, com detalhes e a música de fundo, a coisa toda já se apresenta em uma base institucional para o espectador, contudo quando passa a traçar as particularidades dos músicos e de suas regiões de moradias, o filme ganha um corpo distinto que aloca um tom político imediato na projeção. Porém, quanto mais nos aproximamos dessa história, mais informações gostaríamos dessa transformação e do projeto em si, coisa que passa batido na maior parte do tempo, inclusive pela falta de informações com relação às comunidades citadas.
Quanto mais a obra entra nas realizações, mais se distancia do projeto de forma material, a ausência de conteúdo que trata das particularidades econômicas, do financiamento ou mesmo de como a estrutura funciona, faz com que “Camerata Jovem – Conduzindo Sonhos à Realidade” seja uma obra que nos permita ver a felicidade nos olhos dos músicos, mas sem compreender como tais questões foram fomentadas e concretizadas. Essas ausências, aliadas às músicas de fundo constante e uma série de recortes curtos que apenas ampliam uma base da superfície na compreensão do projeto em si, faz tudo parecer uma montagem dos resultados. Essa maneira institucional da exposição, incapaz de levar adiante uma abordagem mais completa dos próprios sonhos de cada um, chega ao seu ápice na imagem do evento “Person of the Year”, com Moro vislumbrando o concerto. Existe uma certa necessidade de aprovação internacional, a partir da fala de Fiorella Solares, a diretora geral: “Alguns desses jovens tem condições de ficar na Europa.”
As boas intenções de mostrar como essa ideia foi capaz de tirar famílias da pobreza e salvar os jovens envolvidos, acaba caindo em uma assimilação excessivamente imediata que torna a experiência frágil em seu todo. É uma pena, pois o espectador terá de pesquisar mais sobre, para melhor entender. O que fortalece a impressão institucional.