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Boca

A novela do lixo

Por Fabricio Duque

Durante o Festival do Rio 2010

Boca

“Boca” aborda a vida de Hiroito de Moraes Joanides, que viveu na classe média alta, debandou a frequentar a Boca do Lixo, tradicional reduto de prostituição nos anos 1950 e 1960 em São Paulo. Depois que seu pai foi assassinado e Hiroito, acusado pelo crime, virou um dos criminosos mais procurados pela polícia pela exploração de tráfico de maconha e prostituição, além de cometer assassinatos. A figura do personagem, altiva, prepotente e decidida no quer quer, é mostrada em cenas iniciais de arquivo com depoimento do próprio bandido. A fotografia satura a imagem ao cinza, às vezes tendo a cor da cortina da janela como filtro da cena mostrada, desejando com isso, criar uma atmosfera nostálgica, como uma fotografia envelhecida. A narrativa é de um filme policial daquela época, incluindo a histeria das prostitutas e a lésbica de terno. Hiroito mostra o sadismo inerente de sua vocação natural. Os pingos para matar formigas. O prato de comida, e banho, que compra a necessidade de uma criança, a fazendo trabalhar quase como um escravo, manipula o espectador a aceitar o bom gesto, para depois retornar a sua carga negativa.

Em “Boca”, a personagem principal lê “As Flores do Mal”, livro escrito pelo poeta francês Charles Baudelaire, considerada o marco da poesia moderna e simbolista. Há o politicamente correto quando se transpõe à tela. O sexo comportado, os tiros ingênuos, as batidas e perseguições policiais que não convencem, a câmera lenta, os conflitos que se resolvem rápidos demais, tudo faz com que não haja convencimento, comportando-se como uma trama folhetinesca, utilizando-se a técnica cinematográfica. A trilha sonora funciona por usar músicas antigas (italianas e brasileiras) não repetitivas da mesmice. Aqui, os diálogos – com frases de efeito, com prepotência verborrágica e afetação – deixam no ar a pretensão. Hiroito foi o responsável por implantar a cocaína no universo da boca do lixo. Os fades (passagens temporais) são longos e desnecessários. “Até a policia é vitima dos bandidos”, diz-se. A recorrência da falta de naturalidade cansa o espectador e expõe o clichê por causa, principalmente, da caricatura vocabular e dos elementos elipsados e perdidos. “Você nunca está satisfeito”, diz-se revelando o óbvio que se perde no meio do caminho.

2 Nota do Crítico 5 1

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