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Caixa Preta

O subjetivo tecnológico

Por Vitor Velloso

Amazon Prime Video

Caixa Preta

Produzido pela Blumhouse Television, braço da produtora cinematográfica de mesmo nome, “Caixa Preta” surge de uma parceria com a Amazon Studios e traz Emmanuel Osei-Kuffour, Jr. na direção. O filme traz traços do suspense e do terror que é produzido pela empresa, contando com alguns conceitos que mesclam a tecnologia e a particularidade do horror subjetivo. Nessa mesma linha, o interessante “Upgrade” (2018) de Leigh Whannell, foi lançado como um projeto que encontra diferentes subgêneros e trabalha com um sentido de urgência diferente das demais obras, atualizando certos conceitos e promovendo um banho de sangue.

Agora, “Caixa Preta” vem com uma proposta de subjetividade maior, onde a psique do personagem afeta diretamente seus receios e as criaturas que encontra ao longo do “tratamento” que realiza. A projeção da mente e como a memória afeta a construção dos cenários e personagens, com falhas, glitches e interferências diretas, é uma ferramenta fundamental para o funcionamento do longa. Esse triunfo na articulação de uma narrativa que depende diretamente do interesse do espectador no desenrolar dos arcos dramáticos, até funciona em um primeiro momento, sendo capaz de criar uma série de perguntas que acompanharão o público até o fim. Contudo, essa construção cai por terra antes da metade e começa a demonstrar o caráter genérico na forma com que os diversos conflitos engendrados entre os personagens vai apresentando uma resolução relativamente preguiçosa.

Um exemplo disso é que nesse universo transmitido, entre o subjetivo e o programático, a repetição das ameaças revelaria essa suposição de um trauma conjunto (questão diretamente ligada à uma reviravolta do filme), mas as coisas caminham para um desenho de superação, onde uma espécie de possessão digital e mitológica vai bagunçar a coisa toda. Eis aqui a grande frustração envolvendo “Caixa Preta”: a enorme capacidade de provocar inúmeros questionamentos interessantes e não ser capaz de desenvolver nenhum, mesmo nesse espectro de um gênero cinematográfico conhecido pela limitação de explorar imagens com aberrações e situações limítrofes. E nesse percurso da particularidade do protagonista com as diversas situações que enfrenta ao longo da trama, não sobram oportunidades para sair das amarras de um certo lugar comum dessas produções televisivas.

Está claro que a intenção desse projeto, e dessa parceria Amazon e Blumhouse, não é criar pequenas pérolas do gênero, muito menos debater os rumos dos conceitos que vêm sendo trabalhados em outras produções. Mas até no grau de entretenimento o filme de Emmanuel Osei-Kuffour Jr. deixa a desejar conforme a progressão, que perde ritmo e interesse nas questões inicialmente apresentadas, permitindo que a reta final seja lenta e repleta de lugares comuns, cedendo à clichês desconcertantes e reviravoltas vexaminosas. Em meio a tantos desperdícios, fica claro que essa proposta de uma série de filmes: “Welcome to Blumhouse”, começa muito mal e não tem grandes pretensões para alavancar a qualidade geral das produções. A intenção da produtora é trabalhar com orçamentos baixos e conseguir grandes retornos com parcerias de distribuição, não importando a janela dessas exibições.

O fortalecimento da marca é constante e progressivo, na medida em que diversos projetos conseguem fazer sucesso mesmo com um nível de investimento abaixo do mercado. Ao mesmo tempo, mostra que a pretensão de se consolidar no mercado ao aproximar-se de um monopólio dessas produções carrega consigo uma infinidade de fragilidades, que estão traduzidas de maneira cirúrgica em “Caixa Preta”. Um filme que perde tanto fôlego que chega nos créditos finais com a necessidade de engajar o espectador a procurar respostas fáceis e curtas em meio ao universo de complexidades trabalhadas. Uma demonstração de falta de maturidade com fins lucrativos que apenas desintegra a moral de um projeto que inicia muito mal e tende a cair conforme o tempo.

2 Nota do Crítico 5 1

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