Balanço Geral, Vencedores e Cotação dos Filmes do Festival do Rio 2025
Evento carioca chega a sua 27a. edição, premia “Pequenas Criaturas” como Melhor Longa Brasileiro de Ficção e exibe “O Riso e a Faca”, escolhido por nosso site como o Melhor Filme do Festival
Por Fabricio Duque
E se encerra mais uma edição do vigésimo sétimo Festival do Rio. O Vertentes do Cinema foi criado em 2009, semanas antes do festival começar, e neste 2025 chega aos seus dezesseis anos. Sim, uma vida totalmente voltada a sétima arte. É, até parece bordão dizer que eu nunca estou preparado para viver isso e todo ano é muito intenso e com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e em todo lugar. Essa experiência chega a ser surreal, desesperadora e posso até dizer surtada demais. Visto que para os cinéfilos “raiz”, os que a Nouvelle Vague chamava de “jovens turcos” precisam “lidar” com as perdas. Ao ter que escolher um filme em detrimento de outro, por inúmeros fatores, que beiram o físico e ao intangível, nós, eu me incluo, recebemos uma “facada”. Não, nós não dominamos a arte “desprendida” dessas perdas. Sim, faz parte do jogo. Mas há anos eu “alfineto”, com humor absurdo inclusive, de que os organizadores são cruéis e bem sádicos. Como em sã consciência e lógica temporal, conseguimos assistir aos 124 filmes brasileiros do Festival do Rio 2025, além de todos os outros internacionais esperados. Pois é. É, talvez um festival, e o do Rio não poderia ser diferente, funcione como uma terapia de choque à realidade, tentando “curar” nossos estágios mimados que todo e qualquer amante do cinema traz embutido na própria personalidade. Ah, esses cinéfilos também precisam conviver com um “outro público”, que vai mais pela social experiência performativa. Para dizer que foi. Para publicar nas redes sociais. Para ser “gado” do imaginário popular. Isso os “permite” se comportar da mesma forma que no sofá de casa: comendo pipoca em filme silencioso, olhando o celular e conversando com seus próximos conhecidos. Sim, para a gente assistir a uma sessão está se tornando cada vez mais torturante. Enfim. Tipicidade e o “preço que se paga”. Mas imagine isso tudo após ter visto 50 filmes. Pois é, sim, nós ainda somos meio “doidões”. Somos assim. E permanecemos dessa forma mesmo que tudo esteja mudando rápido demais e se tornando cada vez mais um desafio. Enfim, vamos ao Festival do Rio 2025! Este preâmbulo ficou longo demais.
Como disse, o Festival do Rio chega em 2025 a sua 27a edição, entre 02 e 13 de outubro, oficialmente, com extras no antes e no depois, pois se iniciou no dia primeiro deste mês com uma sessão aos patrocinadores, em especial a Shell, do filme “Sexa”, estreia na direção da atriz Gloria Pires, e finalizou com três dias a mais de exibições com a já tradicional Repescagem. Como disse, ainda que o Festival do Rio tente ajudar, sempre perderemos. E minha questão é: será que essa competição de obras brasileiras, 124 na verdade, cavaladas é saudável ao Cinema Brasileiro? Explico. O festival organizou essa programação com sessões no Cinema Odeon e no Estação Net Gávea. O trajeto dificulta o conseguir chegar. Por exemplo, a sessão reprise com debates na Cinelândia termina por volta das 18:30 (horário que se inicia os debates até 19:00) e a sessão no Shopping da Gávea começa 19:15. É logicamente impossível. Há anos levanto esse problema. É justo, já que nosso cinema sofre diariamente com a dificuldade de exibir seus filmes? Outra questão, dentro disso tudo, é que nem todos os debates incluem os curtas-metragens. O festival alega que o tempo de conversa pós filme é curto e que se dá preferência aos longas. Justo com os curtas-metragistas? Pois é, mais um tópico para o Festival do Rio pensar para o próximo ano.
Sobre a nossa cobertura, o leitor deve ter percebido que estamos muito mais nas redes sociais. Isso foi uma decisão minha, porque o mundo mudou e ficou mais creator e influencer. Desde o Festival de Cannes deste ano, mais potencializado em Gramado e Brasília, o Vertentes do Cinema sentiu a necessidade, por demanda externa e quase “obrigatória”, de investir um tempo maior para engajar o site no Instagram, e assim nós praticamente fizemos a cobertura do Festival do Cinema quase toda por lá. Eu entendi, finalmente, que realmente precisava “dançar conforme a música” e não “brigar” com a “modernidade”. Isso, logicamente, fez com que matérias e críticas fossem atrasadas. Até porque a minha relação com os filmes e com a crítica vem passando por uma “crise” que se instaurou na pós-pandemia e ainda não voltou totalmente. Sim, essa “crise” é extremamente pertinente a fim de reposicionar propósitos, visto que a quantidade de filmes está tão gigante agora e o “ter que fazer tudo” virou uma “missão robótica”. Nós vivemos um paradoxo. Mesmo com tanta liberdade e com tantas possibilidades, nós retrocedemos e nos tornamos reféns e dependentes das mídias sociais. Quantas horas você assiste shorts do youtube? Quando foi que você parou tudo e leu um livro? Ou relaxou? Ou não pegou o celular (e/ou tremeu as pernas de ansiedade) quando via um filme? Pois é, vivemos uma patologia. Só que eu me recuso a entregar todos os pontos e assim nossos stories e reels, ainda que instantâneos, são produzidos com conteúdo. E essa ação, feita por mim, surtiu efeito. O Instagram do Vertentes do Cinema conseguiu engajamento orgânico que chegou a 300 mil visualizações, em destaque para “Papagaios”, de Douglas Soares, exibido em Gramado, que não veio ao Rio, mas está na Mostra de São Paulo 2025. Esse trabalho é demorado, entre selecionar o material, editar, legendar e publicar se gasta uma média de 5 a 6 horas por dia. Às vezes, beira oito horas. Será que vale à pena? Enfim.
Ao contabilizar os filmes assistidos no Festival do Rio 2025, confesso que tomei um susto. Assisti apenas a 34 longas e 19 curtas. E olha que nossa cobertura prévia tinha visto 28 filmes, com 11 já com críticas no Vertentes do Cinema. Para mim, foi um número muito baixo. Perdi obras de diretores e diretoras que acompanho há anos, como Naomi Kawase, Hong Sang-Soo e Lucrécia Martel. Sim, pode parecer fútil, mas eu sinto uma vazio, quase em forma de luto. Não pelo esperar, até porque muitos já estão próximos de estrear, mas pela sensação de que não cumpri nossa missão como devia (talvez até por uma arrogância competitiva de ouvir do outro um “nossa, você não assistiu esse?”). Sim, nós somos estranhos.
Sobre os filmes exibidos no Festival do Rio 2025, a programação, que todo ano “briga” por ineditismo com a Mostra de Cinema de São Paulo, uma “rixa” que já dura anos, trouxe obras do Festival de Cannes, de Veneza, de Berlim, de Sundance, de Locarno, entre outros. Dos que já tinha assistido, “Valor Sentimental”, de Joaquim Trier, junto com “Dois Procuradores”, de Sergei Loznitsa, talvez tenham sido meus favoritos. Seguindo com “Dossiê 137”, de Dominik Moll. E “Alpha”, de Julia Ducournau, foi sem dúvidas meu pior filme. Aqui, o festival fez a estreia de “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, no Rio de Janeiro. E dos filmes vistos durante o festival, duas obras marcaram tanto, que uma ganhou o destaque de Melhor Filme internacional, “O Riso e a Faca”, de Pedro Pinho; e destaque de Melhor Filme Brasileiro para “As Vitrines”, de Flavia Castro. Além do destaque de Melhor Curta-Metragem para “Peixe Morto”, de João Fontenele.
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Da competição oficial da Première Brasil, o júri, presidido por Eric Lagesse, seguido dos membros: Carolina Kotscho, fundadora da Loma Filmes; a figurinista Claudia Kopke; a diretora espanhola Elena Manrique; o curador de cinema Javier Garcia Puerto; a diretora brasileira Luciana Bezerra; e a produtora mexicana Paula Astorga, recebeu a “missão” de assistir a 11 longas: “Ato Noturno”, “A Vida de Cada Um”, “Coração das Trevas”, “Cyclone”, “Dolores”, “Love Kills”, “Pequenas Criaturas”, “Quase Deserto”, “Ruas da Glória”, “#SalveRosa”, e “Virtuosas”; aos 15 curtas; e aos 6 documentários: “Amuleto”, “Apolo”, “Cheiro de Diesel”, “Dona Onete – Meu Coração Neste Pedacinho Aqui”, “Honestino”, e “Massa Funkeira”. Assim como o júri da Novos Rumos: a diretora brasileira Beth Formaggini (Presidente); o diretor brasileiro Davi Pretto; o realizador brasileiro Lucas H. Rossi; o produtor brasileiro Rafael Sampaio; e a atriz brasileira Thalita Carauta. E também o júri do Prêmio Felix, composto pelo jornalista e crítico francês Franck Finance-Madureira (Presidente); a diretora brasileira Carolina Durão; a diretora brasileira Chica Andrade; e o idealizador do Cine Drag Hedu Carvalho (em drag, Dudakoo).
A cerimônia de Premiação de entrega dos Troféu Redentor, e prêmios adicionais, apresentado por Clayton Nascimento e Luisa Arraes, seguiu sem surpresas e foi marcada por mudanças. Uma delas foi a volta do Voto Popular. A outra foi a inclusão da categoria de Melhor Figurino. Mas o mais importante foram os discursos, de luta social por sobrevivência, em destaque para “#SalveRosa” (que levou três prêmios: Melhor Atriz para Klara Castanho – que com 23 anos interpreta uma adolescente com 13 – mais que merecido; Melhor Figurino; e Melhor Filme de Ficção pelo Voto Popular), sobre pais que “escravizam” seus filhos por canais de internet; e para os documentários “Cheiro de Diesel”, “Honestino” e “Apolo”. Confesso que o meu destaque de Melhor Filme, peço inclusive desculpas aos outros, foi para “Pequenas Criaturas”, de Anne Pinheiro Guimarães, que inclusive foi o Melhor Longa Brasileiro de Ficção escolhido pelo júri oficial, por construir um tempo narrativo único e sensivelmente naturalista em abordar dramas familiares em uma Brasília dos anos oitenta.
CONFIRA A LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DO FESTIVAL DO RIO 2025
PREMIÈRE BRASIL: MOSTRA COMPETITIVA
Melhor Longa-metragem de Ficção
Pequenas Criaturas, de Anne Pinheiro Guimarães
Melhor Longa-Metragem de Ficção: Voto Popular
#SalveRosa, de Susanna Lira
Melhor Longa-Metragem Documentário
Apolo, de Tainá Müller e Ísis Broken
Melhor Longa-Metragem Documentário: Voto Popular
Cheiro de Diesel, de Natasha Neri e Gizele Martins
Prêmio Especial do Júri
Cheiro de Diesel, de Natasha Neri e Gizele Martins
Melhor Direção de Longa-Metragem de Ficção
Rogério Nunes, por Coração das Trevas
Melhor Atriz
Klara Castanho, por #SalveRosa
Melhor Ator
Gabriel Faryas, por Ato Noturno
Melhor Direção de Documentário
Mini Kerti, por Dona Onete – Meu Coração Neste Pedacinho Aqui
Melhor Atriz Coadjuvante
Diva Menner, por Ruas da Glória
Melhor Ator Coadjuvante
Alejandro Claveaux, por Ruas da Glória
Melhor Roteiro
Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, por Ato Noturno
Melhor Fotografia
Luciana Baseggio, por Ato Noturno
Melhor Direção de Arte
Claudia Andrade, por Pequenas Criaturas
Melhor Montagem
André Finotti, por Honestino
Melhor Som
Ariel Henrique e Tales Manfrinato, por Love Kills
Melhor Trilha Sonora Original
Plínio Profeta, por Apolo
Melhor Figurino
Renata Russo, por #SalveRosa
Melhor Curta-Metragem (ex aequo)
Sebastiana, de Pedro de Alencar
O Faz-Tudo, de Fábio Leal
MOSTRA NOVOS RUMOS
Melhor Longa-Metragem
Uma Em Mil, de Jonatas Rubert e Tiago Rubert
Melhor Longa-Metragem: Voto Popular
A Herança de Narcisa, de Clarissa Appelt e Daniel Dias
Melhor Direção
João Borges, por Espelho Cigano
Melhor Atriz
Ana Flavia Cavalcante e Mawusi Tulani, por Criadas
Melhor Ator
Márcio Vito, por Eu Não Te Ouço
Menção Honrosa de Melhor Atriz
Docy Moreira, por Espelho Cigano
Prêmio Especial do Júri
Nada a Fazer, de Ângela Leal e Leandra Leal
Melhor Curta-Metragem
Ponto Cego, de Luciana Vieira e Marcel Beltrán
Menção Honrosa de Curta-Metragem
Os Arcos Dourados de Olinda, de Douglas Henrique
PRÊMIO FELIX
Melhor Filme Brasileiro
Ato Noturno, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher
Melhor Filme Internacional
A Sapatona Galáctica (Lesbian Space Princess), de Leela Varghese e Emma Hough Hobb
Melhor Documentário
Copacabana, 4 de Maio, de Allan Ribeiro
Prêmio Especial do Júri
Me Ame Com Ternura (Love Me Tender), de Anna Cazenave Cambe
CONFIRA NOSSAS COTAÇÕES-NOTAS DOS FILMES
5 CÂMERAS
“O Riso e a Faca”, de Pedro Pinho
“Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola
“In-I in Motion”, de Juliette Binoche
“Incêndios”, de Denis Villeneuve
“Laudelina e a Felicidade Guerreira”, de Milena Manfredini
“Pequenas Criaturas”, de Anne Pinheiro Guimarães
“Valor Sentimental”, de Joaquim Trier
“Vida Privada”, de Rebecca Zlotowski
“As Vitrines”, de Flavia Castro
4 CÂMERAS
“O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho
“Amores Brutos”, de Alejandro G. Iñarritu
“Uma Baleia Pode ser Dilacerada como uma Escola de Samba”, de Marina Meliande e Felipe M. Bragança
“Couture”, de Alice Winocour
“(Des)Controle”, de Rosane Svartman
“Os Diários de Ozu”, de Daniel Raim
“Diu”, de Camila Schincaglia
“Dois Procuradores”, de Sergei Loznitsa
“Dossiê 137”, de Dominik Moll
“O Estrangeiro”, de François Ozon
“Fernão de Magalhães”, de Lav Diaz
“Homo Argentum”, de Mariano Cohn e Gastón Duprat
“Jacaré”, de Victor Quintanilha
“Nosferatu”, de Cristiano Burlan
“Para Vigo Me Voy!”, de Lírio Ferreira e Karen Harley
“Peixe Morto”, de João Fontenele
“Ponto Cego”, de Luciana Vieira e Marcel Beltrán
“Quarto do Pânico”, de Gabriel Amaral Almeida
“Querido Mundo”, de Miguel Falabela e Hsu Chien
“Replika”, de Piratá Waurá e Heloisa Passos
“Rua do Pescador, N. 6”, de Bárbara Paz
“Ruas da Glória”, de Felipe Sholl
“Safo”, de Rosana Urbes
“#SalveRosa”, de Susanna Lira
“Sexa”, de Gloria Pires
“Transferências”, de Gabriel Edel
“Tremembé”, de Vera Egito e Daniel Lieff
“Twinless”, de James Sweeney
“Virtuosas”, de Cíntia Domit Bittar
“Yes”, de Nadav Lapid
3 CÂMERAS
“90 Decibéis”, de Felipe Barbosa
“Alice”, de Gabriel Novis
“Ângela Diniz – Assassinada e Condenada”, de Andrucha Waddington
“Apolo”, de Tainá Müller e Ísis Broken
“Ary”, de André Weller
“Ato Noturno”, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
“Coração das Trevas”, de Rogério Nunes
“A Cronologia da Água”, de Kristen Stewart
“Dolores”, de Marcelo Gomes e Maria Clara Escobar
“Final 99”, de Frederico Ruas
“Futuro Futuro”, de Davi Pretto
“Habitar o Tempo”, de Cristiana Grumbach
“Minha Terra Estrangeira”, de Coletivo Lakapoy, Louise Botkay e João Moreira Salles
“Morra, Amor”, de Lyanne Ramsay
“Não Sei Viver Sem Palavras”, de André Brandão
“Orphan”, de Lászlo Memes
“Quando Eu For Grande”, de Mano Cappu
“Quatro Meninas”, de Karen Suzane
“Renoir”, de Chie Hayakawa
“Réquiem Para Moïse”, de Susanna Lira e Caio Barreto Briso
“Romaria”, de Carla Simon
“Samba Infinito”, de Leonardo Martinelli
“Sonhos”, de Michel Franco
“A Voz de Hind Rajab”, de Kaouther Ben Hania
2 CÂMERAS
“& Filhos”, de Pablo Trapero
“Amor, Doce Confusão”, de Toti Loureiro
“Cyclone”, de Flavia Castro
“Depois da Caçada”, de Luca Gadagnino
“Do Outro Lado do Pavilhão”, de Emília Silveira
“Dois Pianos”, de Arnaud Desplechin
“O Faz-Tudo”, de Fábio Leal
“Hamnet: A Vida antes de Hamlet”, de Chlóe Zhao
“The Mastermind”, de Kelly Reichardt
“Meu Amigo Satanás”, de Aristeu Araújo e Carlos Segundo
“Quase Deserto”, de José Eduardo Belmonte
“Sebastiana”, de Pedro de Alencar
“A Vida de Cada Um”, de Murillo Salles
1 CÂMERA
“Alpha”, de Julia Ducournau
“Honey, não!”, de Ethan Coen
“Love Kills”, de Luiza Shelling Tubaldini