Aurora
Três mulheres, três gerações
Por Pedro Guedes
Durante a Mostra Sesc de Cinema 2019
Em menos de 15 minutos, “Aurora” nos apresenta a três personagens: uma criança, uma adulta e uma velhinha. Todas parecem dividir a mesma cultura e todas pertencem à mesma classe socioeconômica – aliás, não seria absurdo supor que as três nada mais são do que versões de uma mesma personagem em diferentes momentos de vida. Seja como for, as similaridades entre o trio não param por aí: todas elas têm ambições e olham para o mundo com olhar de curiosidade, mas ainda assim se sentem ocasionalmente deslocadas, como se não soubessem ao certo como devem se comportar ou o que devem fazer.
O fato de girar em torno de personagens com idades tão distantes, contudo, torna esta premissa ainda mais rica: é compreensível que uma menininha que chegou ao mundo há pouco tempo não compreenda direito como este funciona, mas é curioso – e revelador – que uma senhora idosa tenha as mesmas dúvidas. Neste sentido, “Aurora” propaga uma mensagem que faz todo o sentido: as dúvidas existenciais transcendem a idade. Não é porque uma pessoa é mais velha que ela necessariamente terá uma resposta para tudo; todos os seres humanos, do nascimento à morte, se encontram num processo de aprendizado infinito. A vontade de desbravar o mundo, no entanto, é uma característica também inerente ao indivíduo, não importando a faixa etária.
Dirigido e roteirizado por Everlane Moraes (com produção e co-roteiro de Tatiana Monge), como um legítimo exercício de observação, “Aurora” não se preocupa muito com a narrativa, mas sim com o âmago de suas personagens – mesmo que estas cruzem os 15 minutos de projeção sem proferirem uma palavra sequer (com a exceção de uma canção final). A fotografia de Pablo Ascanio mergulha o cotidiano das três em um preto e branco que realça a nostalgia de uma personagem por outra, ao passo que a montagem de Elena Cedeño confere o ritmo reflexivo que uma obra como esta exigia. Um belo trabalho, portanto.
2 Comentários para "Aurora"
Olá Pedro. Obrigada pela crítica. Apenas uma informação que queria corrigir: eu, Everlane Moraes, sou a roteirista e diretora do filme. A Tatiana Monge foi também a roteirista e produtora. Um forte abraço !
Olá, lógico! Reparando o erro já! Obrigado! 🙂