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As Primeiras Férias não se Esquece Jamais!

Sem Crise

Por Jorge Cruz

As Primeiras Férias não se Esquece Jamais!

As Primeiras Férias não se Esquece Jamais!” segue uma linha cada vez mais universalista do cinema francês, que tenta em alguns mercados (e o brasileiro é um dos grandes exemplos) suprir a demanda de filmes de médio porte, despretensiosos, para ocupar as salas com um público que não chega a se empolgar com a experiência de um Lav Diaz, mas também está cansado de sagas e franquias fantabulosas. Inclusive, a força do Festival Varilux de Cinema Francês é resultado de uma demanda crescente em obras nesse estilo.

É possível analisar a narrativa mais padronizada do longa-metragem dirigido pelo estreante Patrick Cassir quando algumas referências vêm à nossa mente de imediato. Ao contar a história de um casal que parece só se conhecer de verdade quando faz uma viagem juntos, uma vaga lembrança de “Antes Só do que Mal Casado” (2007), refilmagem de “Corações em Alta” (1972) tocada pelos irmãos Farrelly. Trata-se de uma clássica produção que trazia “Ben Stiller se transformando de homem civilizado em um ser revoltado”, papel que ele desempenhava vez sim, vez também nessa época. Por coincidência (ou não) o protagonista de “As Primeiras Férias não se Esquece Jamais!” se chama justamente Ben, interpretado pelo engraçado Jonathan Cohen. Sucesso em séries de TV e como dublador, ele está escalado em mais uma aventura de Asterix e Obelix, anunciada para 2021, dirigida por Guillaume Canet.

Aqui há a tentativa de sempre de trazer questões contemporâneas para um texto pouco inventivo. O roteiro do próprio Cassir e da protagonista Camille Chamoux se ancora nas consequências das utilizações de aplicativos como Tinder, Airbnb e Trip Advisor em nossa rotina. A premissa é simples: Ben é um homem de meia-idade que preza pelo bem-estar. Pouco aventureiro, ele decide arriscar um encontro via rede de relacionamento. Assim, ele se envolve com Marion, vivida por Chamoux. Ela é uma mulher que tenta viver a vida com o máximo de intensidade. Adepta de viagens com hospedagem em locais pouco convencionais, perdeu as contas de quantos matches viraram pequenos relacionamentos. Comprando a ideia de se aproximar dessas experiências mais instintivas, Ben aceita viajar com Marion para a Bulgária.

Assistir “As Primeiras Férias não se Esquece Jamais!” em uma sessão pública (ao invés da cabine de imprensa, o Vertentes do Cinema esteve presente na pré-estreia do longa-metragem promovida pela A2 Filmes) foi fundamental para confirmar o que, de fato, funciona na obra. Um filme que aposta quase todas as suas fichas no humor físico, usando o talento de Cohen e sua sintonia em cena com Camille Chamoux. Por inúmeras vezes, o longa-metragem passa perto da barreira da ofensa gratuita, principalmente ao trazer uma visão carregada de exotismo em relação aos moradores da cidade búlgara onde as ações se passam inicialmente. Com construções bem caricaturais, a produção não se importa em ser escrachada ou escatológica em piadas que, de fato, funcionam.

Até porque o espectador não apenas antecipa as movimentações de um filme que trata sobre um relacionamento conflituoso no meio de férias no estilo Perrengue Chique – mas ele ama tudo isso. O cinema francês, quando dizemos que procura ser uma opção de abordagem universalista, consegue com a mesma eficácia que o cinema norte-americano desenvolver textos que provocam identificação imediata da plateia. É fácil encontrar uma pessoa que lhe conte uma história sobre uma desventura que se tornou engraçada pelo fato de ter acontecido durante uma viagem. Ali naquele momento da sessão, o que temos é um grupo de pessoas em um momento de lazer, projetando outros momentos de lazer que tiveram ao longo da vida.

O resultado é uma diversão despreocupada, que trilha sem dificuldades seu caminho para, aos poucos, fugir do besteirol e trazer um carga dramática mínima. A partir do momento que entendemos que a imprevisibilidade fez Ben se sentir mais vivo, porém Marion começa a ter dúvidas sobre o futuro do casal, estamos prontos para entrar no campo inevitável do aprofundamento da crise – aquela que surge do meio para o final do segundo ato. Contudo, nesse momento o longa-metragem paga o preço do foco total na comédia, trazendo conflitos que se dão de maneira repentina.

Esse desequilíbrio narrativo compromete a unidade comportamental da protagonista feminina. Tudo bem que esse estranhamento é pouco sentido pelo público – até porque Jonathan Cohen não consegue estar na cena sem ser engraçado. A questão é que “As Primeiras Férias não se Esquece Jamais!” precisa isolar algumas ações para usar as potencialidades da dupla de atores, cada um com recursos bem diferentes na transição entre comédia e drama. Essa fragilidade não tira nosso sorriso do rosto ao final da sessão, mas os atalhos que o filme se vale não resolve as questões com o mesmo bom humor que ele ensaiava conseguir entregar.

2 Nota do Crítico 5 1

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