Direção: Amos Gitai
Roteiro: Amos Gitai e Marie-Jose Sanselme
Elenco: Juliette Binoche, Liron Levo, Jeanne Moreau, Barbara Hendricks, Dana Ivgy, Hiam Abbass, Tomer Russo, Israel Katorza, Yussuf Abu-Warda, Uri Klauzner
Fotografia: Christian Berger
Trilha Sonora: Simon Stockhausen
Produção: Laurent Truchot
Distribuidora: Pandora
Estúdio: Agat Films & Cie
Duração: 115 minutos
País: Alemanha/ Itália/ Israel/ França
Ano: 2007
COTAÇÃO: BOM
A opinião
O cinema do diretor israelense caracteriza-se por abordar a política, os conceitos ultrapassados, o radicalismo da religião e a alienação das pessoas perante os problemas do mundo. Os seus filmes defendem os argumentos apresentados dos conflitos entre judeus e palestinos. A faixa de Gaza faz parte da lista dos seus fantasmas que precisam ser expurgados contando histórias.
A trama é iniciada com uma fotografia granulada, com os reflexos da luz de um trem em movimento. Dois estrangeiros conversam e fumam. Dialogam o existencialismo do ser e do se definir. Divagam sobre rótulos e nacionalidades. “Uma vida nômade. Somos todos beduínos. Só estamos no mesmo trem. Nada político”, diz-se ao guarda do trem, que tenta intimidar e mostrar o pouco poder que possui. Guerra é isso: estimular uma liderança exacerbada, criando o desvio e o excesso desse poder. É um filme político, porém não tem a pretensão de ser, mas a inferência neste aspecto é clara. O surrealismo da morte cantada e dos objetos que identificam ao falecido e ao momento cria o lirismo e abranda o tema que se deseja transmitir.
Após a morte de seu pai, Ana (Juliette Binoche), uma mulher francesa de origem israelense, sai em busca de sua filha, que ela abandonara quando era adolescente. Essa jornada a leva à Gaza durante a desocupação de Israel.
Há a metáfora do recomeço. O viajante que não se encontra em lugar algum. Mostra o querer de se pertencer a uma raça, mas quando o impedimento é inevitável, as mãos são lavadas e as vidas correm em rumo a correnteza, excetos por alguns que explicitam, agressivamente, seus pontos de vista, idéias e crenças.
São dois irmãos. Um deles volta a casa para o enterro do pai. A filha já está lá. A história retrata a indiferença das atenções e dos amores familiares. Os diálogos apresentam-se ingênuos para transmitir a infantilidade da irmã, alienada do mundo e que abandonou a filha. O aprofundamento dos personagens cresce aos poucos, sem pressa. Ele, dormindo com os excluídos e ratos, quer que entendamos o valor de uma virtude. Ela dorme na casa grande. Com os preparativos para o funeral, acontecem momentos de surrealismo amador da catarse. “Um marido é pior que um pai. Disciplina”, diz-se.
Os diálogos são palavras como pedras. Silêncios e agressividades. Ana, a irmã, repete ações infantis, como se fosse uma retardada mental. Ela vê a possibilidade de mudar a sua vida, de reencontrar a sua filha, para quem foi deixada a maior parte do testamento, avisada por uma Jeanne Moreau excelente, e de conhecer outros lugares mais inóspitos. Então, os irmãos partem para Gaza.
Ele, o irmão, treina o exercito israelense e organiza a retirada de judeus em espaços palestinos. É a luta para que o pedaço que Israel tanto quer continue residindo na Palestina. O filme é extremamente atual, porque o conflito persiste e não tem data para acabar.
As pessoas engolem a raiva, as ocupações, as humilhações, as lutas, porém há um momento, que a água transborda do copo por pequenos acontecimentos. A violência guardada e reprimida explode e a solução é gritar até esvazia-la.
O poder é cada vez mais subjetivo. A autoridade parte do princípio de que o que é naquele momento é o que se pode ter. A limitação estimula a invencibilidade, definindo as escolhas. Dependendo do grau de sensibilidade e da manipulação de uma história contada por uma ‘vítima’, pode-se ou não modificar o entendimento deles. A personagem de Juliette Binoche chora e emociona. A cena é visceral, sem clichês, com uma carga dramática na medida certa. Excelente. Neste momento, o espectador percebe a mudança de estágios na vida dela. Da infância a era adulta. A trajetória é o crescimento de sua alma. “Exercito, guerra. Para que tanta agressividade?”, diz-se.
O caminho da irmã convive com judeus e com os palestinos. Ela vivencia culturas de ambos os lados e não sente a diferença. Os palestinos ensinam aos novos soldados a serem educados e civilizados. O outro lado também ensina, com o radicalismo típico. “Nossa resistência é legitima”, demonstra o exagero judaico.
O sistema é falho, pode-se burla-lo. Ana passeia por todos os lugares procurando a filha e querendo a aproximação, querendo ser de algum lugar, gostar de alguma coisa. O filme espera, pensa, reflete, observa e respeita o tempo dos acontecimentos. “O céu é o mesmo para todos”, diz-se. A visualização da perda de alguém oferece a volta da infantilidade mimada de se conseguir tudo e o impedimento de uma nova vida. O sentimento de não conhecimento do ver ou não alguém querido de novo desencadeia o desespero latente e a impotência por não conseguir o que se deseja.
Os altos e baixos do filme, com seus momentos de amadorismo e as cenas iniciais são explicitadas no final. O conjunto da obra possui um objetivo para que a mensagem seja passada. Reflete-se, mas falta algo, falta mais aproximação do roteiro com o espectador. Vale a pena ser visto pela história, pelas interpretações finais da Juliette Binoche, pela cena inicial do trem. Colocando na balança os prós e os contras, os prós ganham, rotulando o longa como bom.
Por mais de 20 anos Amos Gitai vem trazendo para as telas as imagens complexas da vida israelense e da diáspora. Empregando tanto a linguagem documental quanto a da ficção, ele usa sua câmera para revelar as contradições e ambivalências da História.
Tendo a paisagem de seu país como referência pictórica, ele atravessa tempo e espaço para colocar questões como migração, conflito e alienação, temas intimamente relacionados à identidade judaica.
Gitai nasceu em Haifa em 11 de outubro de 1950, filho de um arquiteto do movimento Bauhaus e de uma filha de pioneiros sionistas, e despertou para o cinema no mesmo dia, 23 anos depois, quando foi ferido em um helicóptero abatido numa missão de resgate na Síria durante a Guerra de Yom Kippur.
Participou como ator nos filmes “Bem Me Quer, Mal Me Quer”, como ele mesmo e “Kadosh – Laços Sagrados”.
Filmar em Israel lhe permite, segundo suas próprias palavras, se ”engajar num diálogo contínuo com a história à medida em que ela vai sendo escrita. O país está cheio de câmeras de TV, mas elas raramente captam a realidade mais profunda. As grandes redes decidiram que o conflito no Oriente Médio gera uma fantástica televisão. Mas a mídia não deveria somente buscar o impacto através de suas violentas imagens, mas também fornecer meios para que se possa analisar o que se vê. Como, na maioria das vezes isso não acontece, o cinema tem um papel muito importante a cumprir.”
“Eu não consigo fazer um filme a não ser que tenha um ponto de vista. Eu não faço imagens objetivas. Não acredito nelas. Como indivíduos percebemos o mundo de acordo com nossas posições dentro de uma rede de imagens. Estamos cercados por imagens e todas elas são subjetivas. O noticiário da CNN é subjetivo, a televisão palestina e a israelense são subjetivas. Temos que entender a maneira pela qual apontamos nossa consciência para uma série de pontos de vistas subjetivos. Neste contexto, um filme pode fazer algo subversivo: encontrar um ponto de vista particular para examinar o evento”.
Filmografia
2009 – A Guerra dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas
2007 – Aproximação
2007 – Cada um com Seu Cinema (segmento “Le Dibbouk de Haifa”)
2005 – Free Zone
2004 – Bem-Vindo a São Paulo (segmento “Modernidade”)
2003 – Alila
2002 – 11 de Setembro
2002 – Kedma
2000 – O Dia do Perdão – Kipur
1999 – Kadosh – Laços Sagrados
Juliette Binoche nasceu em Paris, 9 de março de 1964. Filha do cineasta, ator e escultor Jean-Marie Binoche, e de Monique Stalens, professora, realizadora, e atriz. A mãe de Juliette Binoche é de descendência polaca, e os seus avós maternos de origem polaca e católica estiveram presos em Auschwitz por serem considerados intelectuais.
Binoche tem também ascendência francesa, flamenga, brasileira e marroquina. Os seus pais divorciaram-se quando esta tinha apenas quatro anos. Ela e a sua irmã Marion foram levadas para um colégio interno.
Aos 15 anos foi estudar numa escola especializada, após o que já freqüentava o Conservatório Nacional de Arte Dramática de Paris. Aos 18, conseguiu um papel num pequeno filme independente, La fille du rallye. Enquanto esperava outras oportunidades de trabalho, trabalhou durante cinco anos como atendente em uma loja de departamentos e como modelo de pintura.
Em 2000, foi indicada para o Óscar de melhor atriz por seu trabalho em Chocolat, mas foi vencida por Julia Roberts (por Erin Brockovich). Além do cinema (é a artista mais bem-paga do cinema francês), Juliette também atua nos palcos da Broadway.
Filmografia
1982 – Liberty Belle
1983 – Fort bloque
1983 – Dorothée, danseuse de corde
1984 – The Chicks
1985 – Hail Mary
1985 – Family Life
1985 – Adieu blaireau
1985 – Rendez-vous
1985 – Le meilleur de la vie
1985 – Mon beau-frère a tué ma sœur
1986 – Mauvais Sang
1987 – Je vous salue, Marie
1988 – A Insustentável Leveza do Ser
1989 – Un tour de manège
1991 – Os Amantes da Ponte Neuf
1991 – Women & Men 2
1992 – Emily Brontë’s Wuthering Heights
1993 – Perdas e Danos
1993 – A Liberdade É Azul,
1994 – A Igualdade É Branca
1994 – A Fraternidade É Vermelha
1995 – The Horseman on the Roof
1996 – A Couch in New York
1996 – O Paciente Inglês
1999 – Children of the Century
1999 – Éloge de l’amour
2000 – Alice and Martin
2000 – La veuve de Saint-Pierre
2000 – Code Unknown
2000 – Chocolat
2002 – Jet Lag
2004 – In My Country
2005 – Caché
2005 – Bee Season
2006 – Breaking and Entering
2006 – Quelques jours en septembre
2006 – Paris, Eu te amo
2007 – A Viagem do Balão Vermelho
2007 – Eu, meu irmão e nossa namorada
2008 – Paris
2008 – L’heure d’été
Nasceu em 22 de janeiro de 1972 em Israel. Trabalhou em seis filmes do diretor Amos Gitai.
Filmografia
2007 – Aproximação
2005 – Free Zone
2005 – Munique
2003 – Alila
2002 – 11 de Setembro
2002 – Kedma
2000 – O Dia do Perdão – Kipur
1999 – Omega Code