Antonio e Camila são homenageados em Tiradentes
A abertura oficial da Mostra de Cinema de Tiradentes 2020
Por Vitor Velloso
A noite de abertura da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, contou com as apresentações musicais e a homenagem a Antônio Pitanga e Camila Pitanga. Antes da Homenagem, participação especial de Camila Morena, Josi Lopes, Júlia Ribas e Lira Ribas. Com discursos emocionados, ambos falaram da necessidade de representar a negritude nas telas brasileiras, de ancestralidade e da falta de perspectiva para a cultura nacional e Brasil. Benedita da Silva falou emocionada sobre a honra de poder ter Antônio como parceiro para a vida.
O discurso inflamado do ator, atravessou o Cine Tenda e fez com que o público presente sentisse o impacto de sua fala. Para além de sua história brilhante, a lucidez de suas linhas acabaram marcando a noite como o ponto mais alto. Camila falou sobre a resistência necessária para se enfrentar “tempos de trevas”, mas cobrou cautela ao se debater algumas questões políticas, para relembrar que essa luta não é de agora.
Durante as falas sobre o momento que o Brasil atravessa, a fala direcionada ao atual governo brasileiro foram bastante enfáticas com relação ao desmonte cultural que eles estão procurando causar, mas não percebe que a reação é direta e dura. Citando a fala anterior do pai, que lembrou Abel Gance: “Mas o cinema é a luz no escuro, nós somos essa luz no escuro. Temos a urgência de olhar para o outro”. Lembrando ao público que esse processo de troca constante durante as questões criativas, são necessidades da alma e dos corpos que precisam relembrar suas questões ancestrais.
Ambos exuberantes em beleza, talento e presença. A trajetória dessa família é um exemplo de vida para todos os brasileiros, muito acima da questão artística, que acaba atravessando diversos pontos sociais e políticos que jamais devem ser esquecidos.
Tudo isso se confirmou no debate que ocorreu no dia seguinte, revelando a humildade dos dois com relação ao público e a carreira que construíram. Durante a conversa, mediada por Pedro Maciel, curador, a trajetória de ambos foi retomada, desde o princípio, passando por histórias pessoais, como Glauber ajudando Antônio no teatro etc. Em tom informal, o diálogo foi construindo um imaginário da família Pitanga que encantou seu público, emocionando parte do mesmo.
A Universo Produção conseguiu fazer uma homenagem que está a altura da carreira dos dois, respeitando por completo tudo aquilo que eles construíram ao longo desses anos e fazendo com que quem estivesse presente aqui na Mostra de Tiradentes se sentisse parte desse momento tão belo pro Cinema Brasileiro.
Para além disso, é possível traçar um paralelo nos primeiros dias da Mostra de Tiradentes, que justificam determinadas escolhas da Universo, pois além da homenagem ao mestre Antônio Pitanga, a abertura que contava com o longa do ancião Rosemberg Cariry, que precedia o dia da exibição de Helvécio Ratton, que por sua vez era exibido no dia anterior ao de Geraldo Sarno. Essa Mostra que compila nossos grandes nomes do cinema brasileiro, possui a importância de mostrar que a produção deles está longe de chegar ao fim e que nossa arte pode respirar em paz mesmo que a cultura esteja ruindo em claras incitações à necessidade de combater essas forças que são capazes de levar à potência de nossa verve ao povo.
E com isso, é importante falar como diversas produções que estão sendo exibidas aqui, chamam atenção para este combate necessário a esta censura velada que fantasia suas decisões com o aval da caneta, ainda que de forma anticonstitucional. Projetos como “Bicha-Bomba”, “Sangue”, “Rancho da Goiaba” e “Minha História é Outra”, são capazes de mostrar ao público aqui presente, toda a força de nossa expressão artística.
A Mostra demonstrou que o Cinema Brasileiro está vivo e mais presente que nunca.