Anima Mundi 2018: Segundo Dia: Curtas 6


O Segundo Dia do Anima Mundi

Por Vitor Velloso


Meu segundo dia do festival foi curto, pois ainda estava terminando minha cobertura do Ecrã, assisti ao longa “Tito e os Pássaros” e a sessão “Curtas 6”. Teve uma pequena apresentação sobre o longa além de uma brevíssima apresentação dos curtas que iam ser exibidos. Os diretores de “Tito e os Pássaros” comentaram sobre suas pretensões ao realizar o longa, falaram sobre a situação política que o Brasil vive, sobre a falta de interesse por parte dos políticos em manter o país e a cultura de pé. Sobre este longa que faz parte da competição infantil, lançarei a crítica separadamente. Vamos ao “Curtas 6”!

A sessão tem início com “Nebula”, dirigido por Nowrotek. O curta de três minutos e meio é extremamente cativante, não possui narrativa, apenas formas surgindo na tela. Uma música começa a tocar, se iniciando por um piano, a partir deste momento todas as notas passam a reagir na animação, cada nota de uma maneira diferente, assim como cada instrumento. A experiência é envolvente, pena que é curta.

“8 patas” é um curta realizado por Fabrício Eduardo Rabachim. Com dois minutos de duração, o filme brasileiro tem como temática principal a aracnofobia. Constrói a atmosfera com uma animação ágil, porém, bastante frágil, não é possível se empolgar ou se assustar com o curta. Infelizmente, ela não possui nada além dessa breve tentativa de entreter, além disso, o estilo de animação que decidiram usar não contribui, apenas retirou a possibilidade de algum desenvolvimento de sentimento na obra.

“O Homem na caixa” conseguiu redimir a terra tupiniquim com uma trama repleta de clichês, sim, mas que consegue entreter com seu clima fatalista e fúnebre. Na trama um homem é preso por um assassinato, que não teve a intenção de cometer. Na cadeia, um misterioso homem promete ajudá-lo dizendo a seguinte frase: “Em troca, você me dá metade de tudo que você tem”. A proposta dos diretores (Ale Borges, Alvaro Furloni, Guilherme Gehr) é usar o destino e as decisões como ferramenta de estruturação narrativa. O filme é bem sucedido, e a platéia reagiu bastante positivamente, acho que levará uma boa colocação ao final da competição.

“Biciklisti” é um curta croata do Veljko Popovic, que tenta ser engraçado. É para um público mais adulto, pois contém nudez. É possível dizer que contém nudez em uma animação? Fica a pergunta. Voltando. O filme conta a história de uma corrida que está acontecendo em uma pequena cidade da Croácia, onde uma mulher observa a linha de chegada de sua varanda. Dois ciclistas a olham e passam a competir pelo prêmio, mas principalmente na intenção de conquistar a moça, sem que ela tenha dado algum sinal de retribuição destes olhares. Enfim, é uma parábola extremamente sem graça, que utiliza de flashes da imaginação dos personagens para refletir um possível futuro incerto. Sua animação possui cores bastante vívidas e a perspectiva é um tanto quanto limitada, mas nem essa proposta conseguiu salvar o filme.

John Morena já é um dos meus animadores favoritos deste festival, isso porque ele havia feito um desafio a si mesmo: Realizar um curta por semana. Totalizando 52 no ano. Além de ter cumprido com êxito a ideia, seus filmes são extremamente originais. “Face Value” possui 47 segundos, mas fez todo mundo no cinema rir. É impressionante como ele consegue usar a forma para expressar suas ideias (o maior trunfo da animação). Não dá para dizer muito, pois também não há uma narrativa, mas ele utiliza uma famoso meme de 2017 para criticar um segmento do capitalismo. Um dos melhores da noite.

“Belosnejie” é um curta russo dirigido por Ira Elshansky, que usa o stop motion como ferramenta, na trama, um personagem feito de massinha, está preso em um quarto branco, onde recebe, por uma gaveta, alguns objetos. Toda vez que ele se move, deixa um pedaço de si no chão. Girando em torno deste conceito, Ira conseguiu arrancar da audiência um pequeno susto durante a projeção, o que me surpreendeu um pouco, pois, isso quer dizer que todos já estavam torcendo pelo protagonista. Esse breve engajamento emocional com o pequeno personagem, rende um suspiro curioso no filme. Interessante e preciso na proposta.

“Le Sujet” foi o penúltimo da sessão, curta canadense do Patrick Bouchard. Com seus 10 minutos de duração, o filme monta uma atmosfera funesta a partir de um necrotério e a dissecação de um cadáver, ao mesmo tempo brinca com o imaginário do legista. É profundo, atinge pontos cruciais da psique do ser humano e das nuances de um trabalho como este. Suas belezas e, claro, o revés. Brincando com a possibilidade de se extrair algo mais íntimo do corpo. É curiosa a forma como a animação mantém o ritmo, auxiliada pelo uso mais realístico da representação, que mescla com o fantasioso. Possui um excesso de lentidão na narrativa, mas consegue compensar ao final.

Encerrando a sessão “Entre Sombras” um curta português e francês, dirigido pela Mónica Santos e Alice Guimarães. O filme utiliza o stop motion de pessoas reais, realizando um noir bastante original em sua proposta. Em um mundo onde as pessoas são capazes de guardar seus corações em bancos, a protagonista trabalha com o fichamento desses corações. A partir daí vou acabar estragando a narrativa. A fotografia lembra muito os filmes noir e a atmosfera de ultimato reina a mise-en-scene do curta. Uma proposta bastante diferente do convencional, que funciona muito bem, mantém um fluxo crescente e instigante.

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