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Abá e Sua Banda

A humanização animada das frutas tropicais brasileiras

Por Clarissa Kuschnir

Assistido durante a 7ª Edição do Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação

Abá e Sua Banda

Como é bom ver uma animação que vai muito além do entretenimento. Assim é o brasileiríssimo “Abá e Sua Banda”, que entrega um musical de qualidade (bem à moda das obras internacionais), mas sem perder em nada nossa identidade. Aqui, o filme usa as técnicas de animação em 2D e 3D, numa beleza visual que impressiona em diversas cenas. Muitas vezes é como se estivéssemos vendo uma pintura em tela. O roteiro é um show à parte: repleto de referências (de Beatles a Carmen Miranda), que agradam tanto o público infantil quanto os adultos. Para as crianças, porque a obra traz as frutas tropicais, como personagens humanizados. 

Já para os maiores (e acompanhantes), a animação consegue transmitir uma pegada mais politizada, mas de uma forma leve (sem forçar nada) quando projeta na tela questões-discussão (muito em pauta): a importância da consciência de classes; da preservação da natureza; do desmatamento e principalmente o de se usar a música e a cultura como arma para sobrevivência do povo, num lugar que está sob o comando de uma monarquia ficcional. E quem já não viu isso por aí na realidade de muitos países? Sim, mais atual impossível, e com uma narrativa condutora totalmente lúdica. É, espero mesmo que os adultos possam entender bem isso, porque as crianças tenho certeza que captarão a mensagem.     

Dirigido por Humberto Avelar (que acumula em sua carreira centenas de animações para a TV, cinema e publicidade) e com roteiro de Silvia Fraiha, César Coelho, Daniel Fraiha e Sylvio Gonçalves, “Abá e Sua Banda” ambienta-se no Reino do Pomar, onde o jovem príncipe Abá, um jovem abacaxi tem como objetivo de vida tornar-se um grande músico e tocar no Festival da Primavera. Um sonho que vem de berço, já que sua falecida mãe, A Rainha Nanás, foi a maior cantora do reino.  Mas depois da morte acidental da matriarca durante o festival, quando Abá ainda era bebê, o Rei Caxi, desiludido e deprimido, resolveu acabar com o festival. Com o objetivo de colocar Abá como seu sucessor, o Rei pede para seu primo Don Coco, que está comandando o reino, ajudar o jovem príncipe a se preparar para o trono. 

Sim, há filmes que a força da crítica, que faço aqui, está na construção do conto da própria história. Assim, continuando, mesmo com o festival acontecendo bem longe do reino, e sabendo que o show não pode parar, Abá corre atrás de seu sonho.  Abrindo uma digressão aqui, lembrei-me da ficção musical “Footloose – Ritmo Louco” (que teve sua refilmagem em 2011), por se passar em uma pequena cidade estadunidense e que por causa de um trágico acontecimento, o pastor da cidade acabou proibindo qualquer tipo de música e dança. O final, nós cinéfilos dos anos 80, conhecemos muito bem. Voltando à história, Abá, em sua determinação pela música, se vê obrigado a tomar medidas mais drásticas, potencializando o ditado popular de que “os fins justificam os meios”. Ele junta-se a Ana, uma banana baterista, rebelde e defensora do povo, e seu amigo de infância Juca, um caju gaitista, o único que sabe do segredo do príncipe. Longe do reino, Abá começa a perceber que a vida é bem diferente de fora dos muros do palácio. Ele passa a sentir na pele o que as outras espécies de frutas sofrem com áreas desmatadas, frutas sendo expulsas de seus territórios e rios secando, tudo provocado pelo governo tirano de Don Coco, que quer criar uma espécie única. “Abá e Sua Banda” é uma fábula político-social. 

Com uma trilha empolgante assinada pelo compositor, pianista e arranjador André Mehmari e canções originais de Silvia Fraiha, Milton Guedes e André Mehrari, “Abá e Sua Banda” conta com as dublagens de: Filipe Bragança como o príncipe Abá; Carol Valença como Ana, a banana; Robson Nunes como Juca, o Caju; Mauro Ramos como o Rei Caxi; Rafael Infante como Melão Rosa e a grande Zezé Motta em participação especial como Titikaba, líder de uma reserva na floresta.  E ainda tem o próprio cineasta Humberto Avelar, como o vilão Don Coco.

“Abá e Sua Banda” está tendo uma ótima carreira em festivais, tantos nacionais quanto internacionais. No Brasil, recebeu o prêmio de melhor longa de animação na 31ª edição do Ecocine – Festival Internacional de Cinema Ambiental, e sua estreia mundial foi na abertura da mostra infantil, do 53º edição do Festival de Gramado. A Animação ainda esteve no 57º Festival de Brasília, Mostra Internacional de São Paulo, Mostra Infantil de Florianópolis e Mostra Competitiva de animação do 45º Festival de Havana. Tive a oportunidade de assistir ao longa, no encerramento da 7ª edição do Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação e rever, na pré-estreia em São Paulo, e, posso afirmar que é uma diversão garantida. 

4 Nota do Crítico 5 1

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