A Morte Branca do Feiticeiro Negro
Ponto de Força
Por Vitor Velloso
Durante o Festival Ecrã 2020 e Kinoforum 2020
O suicídio exposto aqui em “A Morte Branca do Feiticeiro Negro” é de uma violência assombrosa, mas absolutamente consciente. A História brasileira, manchada de sangue, é aplaudida nos tempos contemporâneos em alusão aos torturadores, ao fuzilamento, ou… “Quilombola não serve nem para procriar”.
O filme de Rodrigo Ribeiro é direto, concebe a partir da carta de Timóteo (negro escravizado que põe fim a sua vida em 1861) em uma materialidade buscada nos arquivos (no artigo é possível encontrar a carta na íntegra). A montagem se dá através de um jogo de representações e ancestralidade, recorrendo nesse passado que não se distancia de nós pelo eco da violência branca. Os 10 minutos de curta-metragem são absolutamente preenchidos pelos recortes de uma estrutura que dá matérias ao texto que surge na tela.
“A Morte Branca do Feiticeiro Negro” vai até o “surdo vazio do tempo, até que encontre no eco das vozes a plena e justa liberdade”, rompendo com o tecido formal dessa História unilateral, ignorado e apagada por quem detém o poder, uma herança de sangue e capital, pisando nos corpos negros.
O curta consegue nos levar à consciência do sentimento, filmando lugares que ajudam a reconstruir a história de Timóteo, mas alcança um tom que o difere de outras obras.
“A vida batendo minha porta e eu com medo da morte
É o mal que assombra eternamente quem não tem suporte
Temos pouco, não que os ancestrais não tenham tentado
Ainda que o muito seja só o vazio disfarçado
Tão pequenos diante do sangue da sua família”
“Eu abri meu coração, fechei minha armadura
Meta é amadurecer sem perder a ternura
É que eu voo alto, eu sou falcão” Djonga. Falcão.
Rodrigo voa alto, entrega a dor de uma ancestralidade calada, mas em sintonia com Djonga evoca a partir do peso brutal dessa História. Banzo.
Se há ausência de grandes palavras que posso utilizar neste breve texto, é porque creio que o filme existe por si só, tá tudo ali.
“Que corpos negros nunca mais se manchem de vermelho”
Assista ao filme de 10 a 14 de março na Mostra de Cinema de Gostoso 2021, clicando no link: https://innsaei.tv/#/