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A Hora do Mal

Problema de artifício

Por Vitor Velloso

A Hora do Mal

Após o interessante “Noites Brutais”, lançado em 2022, o diretor Zach Cregger chamou a atenção dos fãs de terror como um novo nome da indústria. Porém, esse rótulo não é necessariamente algo positivo. Afinal, Robert Eggers e Ari Aster entraram em uma estranha espiral; Fede Álvarez parecia ter encontrado um bom espaço no mercado até ser boicotado para a continuação de “Alien: Romulus”, de 2024; e David Sandberg, que mostrou algum potencial no início da carreira com o curta-metragem “Lights Out” (2013) e com o longa “Annabelle 2: A Criação do Mal” (2017), que, apesar de muito frágil, tinha algumas ideias interessantes, parece ter se tornado um diretor descartável de Hollywood, assim como Oz Perkins, que já virou motivo de piada. Contudo, até o presente momento, Zach Cregger segue sendo um diretor interessante de se acompanhar no gênero, e “A Hora do Mal”, a despeito dessa tradução de título questionável, é uma grata surpresa para um ano tão turbulento para o terror.

O filme se propõe a fragmentar sua narrativa para que o espectador compreenda os diferentes vetores dessa história que, apesar de enigmática, é bastante simples e direta. Aliás, a ideia do título original passa por essa lógica de um vetor inequívoco e retilíneo. Se, por um lado, há uma abordagem interessante ao seccionar as obsessões de cada personagem na resolução desse grande mistério, por outro, há certa dificuldade em lidar com o ritmo de cada uma dessas histórias, pois alguns personagens são mais interessantes que outros, algumas sequências são mais impactantes, e a própria estrutura transforma os segmentos em blocos episódicos, com fins dramáticos e ganchos que prendem a atenção do espectador para a próxima abordagem. Consequentemente, “A Hora do Mal” acaba permitindo que pequenas rupturas sejam criadas durante a experiência, já que a grande diferença dramática entre Justine (Julia Garner) e Archer (Josh Brolin), com motivações e dores distintas, cria barreiras nesse fluxo. Por exemplo, quando acompanhamos a história de um personagem que não faz parte desse eixo dramático central, o filme direciona seu desenvolvimento para um terror mais frontal, mais direto do que o padrão até então estabelecido, funcionando melhor como um exercício direto de gênero, mas sendo mais desorganizado nas ideias. Não por acaso, existe um elemento estranho nessa sequência, em que a “criatura” aparece como uma espécie de Pennywise, mas que, dentro do contexto dramático, não possui uma justificativa mais ampla para isso, além de uma suposição relacionada a um vício desse personagem, o que já pressupõe uma complexidade estético-narrativa que não parece estar estabelecida nesse universo.

Pelo contrário, “A Hora do Mal” funciona melhor quando se aproxima da ideia de “Noites Brutais”, ou seja, quando opera nas sombras, sem revelar seu arsenal ou expor excessivamente todos os seus dispositivos. Na verdade, quanto mais Zach Cregger expõe esse submundo que ele tanto desenvolve, mais seus projetos, tendo esses dois como referência, tendem a um caráter tolo, inerente à maior parte dos filmes do gênero, mas com um esforço excessivo de explicar o imponderável, um sintoma desagradável da Hollywood contemporânea. Afinal, a força desse antagonismo invisível é o trunfo da primeira metade, em que o espectador está às cegas em uma história sem pé nem cabeça que, de tão absurda, torna-se interessante. A partir do momento em que esse antagonismo ganha um rosto ou uma forma, há um novo estabelecimento da ameaça e dos conflitos, que até funciona em um primeiro momento, pois existe um carisma inevitável na maneira como o projeto apresenta esse elemento, com cores que se distinguem das paisagens e cenários comuns até então, uma postura em cena que chama a atenção e todo um esforço da própria fotografia, assinada por Larkin Seiple, para abarcar essa noção performática no interior da mise-en-scène, que se deforma com o recurso das anamórficas, um dispositivo relativamente óbvio, mas parcialmente funcional. O problema é que, após uma primeira cena de impacto, tudo se torna meio programático, e o espectador se pergunta quando foi que esse “outro filme” começou.

“A Hora do Mal” é interessante enquanto se propõe a algo diferente do padrão mais óbvio da indústria. Quando se entrega de vez ao caráter insano de sua história, perde força. O efeito é curioso, pois o clímax do filme se torna algo absolutamente esquecível e, quanto mais penso sobre o final, menos gosto do todo. Vale dizer que o mesmo acontece com “Noites Brutais”. Talvez essa seja a principal assinatura de Zach até o presente momento.

3 Nota do Crítico 5 1

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