A Grande Mentira
Mistério e amor: A Londres Hollywoodiana
Por Vitor Velloso
Bill Condon possui uma carreira duvidosa que passa por “Crepúsculo: Amanhecer” e “A Bela e a Fera (2017)”, agora, com o suporte de dois atores renomados, Ian McKellen e Helen Mirren, busca realizar um filme de crime e mistério. Adotando integralmente a estrutura de gênero, o longa busca unir uma questão dramática com este suspense inerente do texto. A principal dificuldade de “A Grande Mentira” é encontrar o caminho a seguir, gerando uma problemática que custa a experiência inteira.
Acreditando estar contando uma narrativa complexa e inteligente, Condon investe nas emoções de gatilho rápido, a fim de captar o espectador enquanto organiza uma situação maior, uma reviravolta brutal no roteiro, o problema é… o plot twist é completamente previsível. Nos primeiros dez minutos de projeção, é possível saber onde irá desaguar toda aquela história.
Utilizando todos os clichês possíveis, o filme se desenvolve na história de Betty e Roy, Helen e McKellen respectivamente, que se conhecem em um site de namoro. Com o passar do tempo algumas mentiras, de ambos, são descobertas e a relação se modifica. Nessa conjuntura, o projeto mantém uma narrativa cadenciada entre a comédia, o drama e mistério, nunca concretizando nenhum dos gêneros, cambaleando entre todos eles.
Condon mantém uma estrutura formal industrial, sem apelar para nenhum artifício de linguagem muito elaborado, o diretor se mantém na padronagem dos longas norte-americanos que buscam uma concepção cultural britânica. A fotografia não foge ao padrão, mantém-se na ideologia de não atrair atenção para si, mas não agrega veementemente. A montagem segue o ritmo Hollywoodiano, seccionando os atos de maneira a respeitar uma síntese temporal particular de cada movimento dramático.
Mas em “A Grande Mentira” onde não há equívoco, não há grandes acertos, tornando-se a tônica geral durante a projeção. Enquanto há um grande esforço em concatenar o público em um lugar comum e de fácil acesso, tudo se perde em tentativas fracassadas de ampliar a narrativa com seu mistério canhestro. Como dito acima, tudo é dotado de uma previsibilidade tão tóxica ao roteiro, que rompe completamente a experiência que se tem na sala de cinema, já que cada movimento vira uma necessidade constante de avanço da trama.
Assim, não é possível falar em frustração, já que não há expectativa geral, mas o exercício se torna cansativo com o passar do tempo, que somado às diferenças bruscas de ritmo entre os atos, o cansaço é iminente, em especial no meio do segundo ato, onde há um retrocesso tamanho na continuidade da história contada.
A constante sensação de estar assistindo algo que já foi reprisado no cinema diversas vezes, situa o longa nessa premissa que acredita ser mais complexa que é, e não há nada menos gratificante que perceber que a direção se vangloria de estar realizando uma trama “inteligente”, sendo seguido pela montagem e trilha, quando a auto-sabotagem se torna maior que a própria estética.
Infelizmente, não existem muitas possibilidades de defesa para “A Grande Mentira”, ainda que haja algum argumento favorável ao posicionamento do filme em questão à relação entre o casal e como não existe o sub-julgamento, convencional na indústria, da mulher. Mas ainda assim, o tratamento não se diferencia gravemente de outros projetos contemporâneos, pelo contrário, é pouco explorado essa política na relação interpessoal.
Hollywood mais uma vez demonstra sua inabilidade com construções versáteis em meio ao mercado (claro, referindo à maioria), provando que suas intenções visam cifras e não uma dramatização que faça a diferença em meio a janela de lançamento. Ainda que conte com um elenco forte e sólido, o filme não consegue destaque e entra para a lista dos esnobados do ano. Não de maneira injusta, mas pela construção que se dá aqui em “A Grande Mentira”, não pode-se pedir algo diferente. McKellen e Helen seguram as pontas dentro da capacidade do roteiro, esbanjando carisma e levando o público até o fim da projeção, mas o destaque absoluto é para Helen, que protagoniza as melhores cenas do longa. Chegando próximo ao fim do ano, a Warner poderia estar mirando alguma indicação ao Oscar, mas as possibilidades são remotas, melhor mirar em Coringa.