A Crueldade do Festival do Rio 2019
Um panorama de percepções e os premiados com o “Troféu Vertentes do Cinema”
Sim, caros leitores, o Festival do Rio é cruel e sádico em sua própria essência. Como assim ofertar ao público cinéfilo uma quantidade exorbitante de filmes em um período tão curto de dez dias? É uma infâmia, mas que nós adoramos e esperamos o ano todo. Preparar-se ao festival é uma experiência traumática de ansiedades, de cansaços exaustivos e no pós-limite das energias. Todos sem exceção, dos organizadores a seus espectadores, passando pela produção, não só veste a camisa, como tatua o Festival do Rio no corpo por suor, estresse e impossibilidades de dormir. Tudo já começa bem antes. Arquitetar os horários a fim de permitir que se assista ao maior número de obras cinematográficas. Contudo, inevitavelmente, é impossível manter uma cobertura completa.
Sim, nós do Vertentes do Cinema nós desdobramos e nos desnudamos para entregar a nossos Vertenteiros e a nossas Vertenteiras a mais completa análise crítica sobre os filmes dessa maratona cinéfila carioca. Nós sentimos a completa exaustão e todas as adversidades do caminho: filmes que atrasam que impedem outros, trânsito nada amigável, uma sinusite inesperada e inoportuna… Talvez o Universo também queira copiar o Festival do Rio em achar que todos são robôs, mas no final da história saímos zumbis.
Outra crueldade é para com o público e principalmente com seus realizadores. Compreendo a ansiedade e a vontade de se ter críticas imediatas “fast food” de ser, mas o cansaço bate no fim do dia (que já é madrugada) e as análises ficam para depois, mais atrasadas. Desculpe-nos! É porque nós optamos por assistir ao maior número de obras e realizar com calma e mais tempo. Porém, os críticos Jorge Cruz e Roberta Mathias parecem mais Rambos, devido à qualidade textual em pouquíssimo espaço de tempo após os filmes. E ao Vitor, que mesmo morando na Ilha do Governador, cobriu com garra e força as mostras Première Brasil Documentário e Novos Rumos. Parabéns e obrigado!
Talvez o cansaço extenuante seja por causa do Festival do Rio acontecer no final de ano, em dezembro, que pela primeira vez na História, começou no dia de aniversário do crítico-fundador deste site, Fabricio Duque, que foi quem sofreu a tão “bendita” sinusite (e atrasou bem suas críticas – “casa de ferreiro, espeto de pau”). Talvez isso também explique as sessões quase vazias. Alguém especulou que foi por falta de divulgação. Pode ser. Sempre tem alguém especulando sobre alguma coisa. Inerência do ser humano enquanto indivíduo social. Mas este ano a estranheza imperou e o Festival precisou de Financiamento Coletivo para acontecer. Mais de duas mil pessoas ajudaram e se tornou um símbolo de resistência e de união.
Nossa cobertura do Festival do Rio 2019 também aconteceu (e acontece) nas redes sociais em tempo real. Um trabalho que rodou a geografia da cidade com amor incondicional pela sétima arte (principalmente pelo nosso cinema brasileiro), que somos duros quando precisamos ser, até porque pai que é pai não passa a mão na cabeça e sim ensina a pescar. Sim, cada filme gera na cabeça desses críticos a necessidade de uma crítica. Pois é, vivemos na plenitude da tensão.
Troféu Vertentes do Cinema
MELHOR LONGA-METRAGEM COMPETIÇÃO: “Anna” (Anna), de Heitor Dhalia
MELHOR DOCUMENTÁRIO COMPETIÇÃO: “Sem Descanso” (Restless),de Bernard Attal
MELHOR LONGA NOVOS RUMOS: “Chão” (Landless), Camila Freitas
MELHOR CURTA-METRAGEM COMPETIÇÃO: “As Viajantes” (The Travelers), de Davi Mello; “Carne” (Flesh), de Camila Kater; e “Copacabana Madureira” (Around Copacabana), de Leonardo Martinelli (empate)
MELHOR CURTA NOVOS RUMOS: “Entre” (Between), de Ana Carolina Marinho e Bárbara Santos
MELHOR ITINERÁRIOS ÚNICOS: “Madame” (Madam), de André da Costa Pinto e Nathan Cirino
MELHOR FRONTEIRAS: “O Paradoxo da Democracia” (The Paradox of Democracy), de Belisário Franca
MELHOR GERAÇÃO: “Que os Olhos Ruins Não te Enxerguem” (May The Evil Eyes Not See You), de Roberto Maty
MENÇÃO HONROSA GERAÇÃO: “Alice Júnior” (Alice Júnior), de Gil Baroni
DOCUMENTÁRIO HORS CONCOURS: “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou” (Babenco – Tell Me When I Die), de Bárbara Paz
FICÇÃO HORS CONCOURS: “Pacarrete” (Pacarrete), de Allan Deberton
NOVOS RUMOS HORS CONCOURS: “Sofá” (Firefly), de Bruno Safadi
CURTAS HORS CONCOURS: “Amnestia” (Amnestia), de Susanna Lira
RETRATOS MUSICAIS: “Gilberto Gil Antologia Vol.1 (1968/87)” (Gilberto Gil Anthology Vol.1 (1968/87), de Lula Buarque de Hollanda
MELHOR CENA DE FILME: O choro preciso de catarse silenciosa da Margot Robbie em “O Escândalo”, de Jay Roach