Curta Paranagua 2024

40 Dias – O Milagre da Vida

Em prol da vida ou em prol da escolha

Por Laisa Lima

40 Dias – O Milagre da Vida

A figura de Deus sempre foi alvo de muitos “serás”. Será Ele como retratam nas fotos? Será sua onisciência igual para todos? Será sua misericórdia livradora de uma ida ao inferno? Será sua perfeição, inatingível? Será sua existência, real? Muito especula-se, mas diversas afirmações surgem a partir destas e de outras incontáveis perguntas. A certeza de sua bondade, pelo menos, já se transpôs ao cinema na forma de obras como “A Cabana” (2017), de Stuart Hazeldine, e “Milagres do Paraíso” (2016), de Patricia Riggen. Agora, as opiniões Dele ao redor de um tema encarado por uns como pecado e por uns como direito, foram requisitadas no filme de Cary Solomon e Chuck Konzelman, “Em 40 Dias – O Milagre da Vida” (2020). E mais um “será” cabe aqui: será Ele contra o aborto?

Abby (Ashley Bratcher) é diretora da Maternidade Planejada, clínica onde a jovem presenciou um aborto (o local é voltado para este tipo de procedimento) em uma gestante de 13 semanas e, após anos no cargo, muda seu posicionamento e torna-se contra o ato. Instalado o rumo da história logo em seus primeiros minutos, “Em 40 Dias – O Milagre da Vida” é declaradamente uma dissertação sobre as razões pelas quais o aborto deve ser, de fato, abolido. O filme apresenta um conjunto de fatores determinantes para a escolha de um parecer a favor da ideia proposta, mas em nada dá margem para uma sequer hesitação do espectador na hora de seguir por um possível outro caminho.

Uma narração voice over de Abby é ouvida em momentos que mostrar em imagens o que precisava ser transmitido para o público, demandaria um tempo que o filme não tem. Ao invés disso, a preferência por cenas propositalmente encenadas para corroborar com o conteúdo contra aborto, são manejadas de forma a não ter um alívio. A todo momento são exibidos mais elementos criados para o pathos, ou seja, para chocar o espectador, fazendo-o aderir à concepção ali tida como correta. Este pathos, aliás, é uma aposta certeira para um cenário no qual se tem apenas um lado, que necessita da absorção sensorial da audiência para o total papel da obra ter sido cumprido. Para isto, momentos como a “montagem” das partes de um feto fora do útero por Abby e a sucção também de um feto durante um processo abortivo, são utilizados para não haver revide, afinal, quem seria cruel a ponto de apoiar tais práticas?

O rumo de “40 Dias – O Milagre da Vida” não pode ser visto como previsível, até porque seu final já era esperado desde o início do longa-metragem. A condução, no entanto, atira no espectador convicções que parecem óbvias, mas não para a personagem principal. A tensão, então, é munida dos acontecimentos fundamentados na mudança dos conceitos de Abby, que exibe um carisma por meio da interpretação de Bretcher. Os cristãos, como Marilisa (Emme Elle Roberts), que ficam nos portões da clínica todos os dias orando pelos sacrilégios (na opinião dos mesmos) ali cometidos, por sua vez, são dotados de uma quase plenitude, exibindo uma aparência solícita e atenciosa, mesmo com os pecadores, o que novamente atesta uma divulgada superioridade daqueles que compartilham dos mesmos preceitos que a obra ensina.

A direção da dupla Solomon e Konzelman difunde, sem meias palavras e sem camuflagem, o manifesto “prol-vida” e, por ligação, os princípios dos credores em Deus, buscando não só a aceitação da essência de “40 Dias – O Milagre da Vida”, mas a interligando à base de toda motivação. Uma progressão de acontecimentos pouco sutis atrelados a uma dose excessiva de sentimentalismo, embalados por músicas pop cristãs e direcionados por um roteiro que beira o educativo, exercem a função de demonstrar um consolo que a religião oferece, mas de um jeito imposto. O clima de “sessão da tarde” também dá as caras na superexposição da luz por conta dos dias sempre solares, na aparência arrumada de todos os personagens no filme e no ar visivelmente artificial.

Seja qual for a opinião do espectador, “40 Dias – O Milagre da Vida” procura reafirmá-la. A obra, apesar da adesão ou da repugnância do espectador, não se importa em levantar uma discussão, muito menos deixar alguém em dúvida. A real polêmica em relação a legalização do aborto é abordada por intermédio de uma fórmula: situação impactante envolvendo o assunto, conforto nas palavras de um religioso, e gradual sentimento de transformação da protagonista. O longa-metragem, entretanto, pode obter seu destino se alguma pessoa estiver procurando por uma opinião ainda não formulada por ela mesma, ou se o indivíduo tem o desejo de sentir-se representado. Aqui, é inexistente o espaço para indagação, a menos que o ofício exercido por Deus vire a mira dos mais argumentadores, até porque é normal a curiosidade sobre o que Ele considera como “vida”. A pergunta maior agora é, talvez, como lidar com as visões opostas de que ou uma criança é uma dádiva divina, ou que a escolha do aborto é uma dádiva construída na terra.

2 Nota do Crítico 5 1

Conteúdo Adicional

Pix Vertentes do Cinema

  • O filme apenas traz à tona a verdade não contada acerca do aborto e sobre a real intenção das clínicas abortistas: lucro. Nunca foi pela saúde/liberdade da mulher ou algo do tipo, sempre foi pelo dinheiro, mesmo que isso signifique assassinar um inocente. Logicamente é um assunto delicado, afinal, cada pessoa tem uma história e uma realidade. Mas não é pondo em risco a vida da mãe e matando um bebê que será resolvida essa questão.
    Assistam o filme, e tirem suas próprias conclusões! É baseado em fatos reais.

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