O pragmatismo formal de Navarro
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra CineOP 2019
O lirismo e a poesia cinematográfica de Edgar Navarro possui um ponto máximo à seu público, “Superoutro” é o eixo central de uma obra dedicada a anarquia e ao intelectualismo marginal, sendo referência geral à resistência do cinema burocrático e da indústria, não por acaso, o mesmo, entrou para a lista da Abraccine dos 100 melhores curtas da história do cinema brasileiro.
Partindo de um momento histórico distinto do momento se sua produção, analisar hoje o é um exercício de anacronismos isolados, onde parte das questões do cinema de Navarro, seja um espectro temático ou estético, se mantém atualizadas, vide momento sociopolítico que vivemos atualmente, de um desmonte cultural educacional e sobretudo um recuo (fruto de um medo opressor) vulgar da arte diante de um momento tão necessário quanto o que vivemos. Por isso devemos celebrar a vitória de Kleber e Karim em Cannes, que representa um movimento contrário à normatividade.
“Abaixo à gravidade” O berro não vem fora de contexto, a necessidade de manter-se acordado diante da realidade brasileira e promover a fricção de uma proposta encenada, e a verdade em si provoca no espectador um sentimento único de isolamento diante da inevitabilidade dos acontecimentos mundanos, que tensionam a factualidade do que é projetado no ecrã. Aqui, não há necessariamente uma flexibilidade na misancene, pois a forma recusa a própria ideia formal do senso comum. Não pode-se confundir tal negação com um flerte à antiestética, mas sim uma possibilidade maior de potência artística em um contexto necessariamente esquizofrênico e bipolar na dimensão política, onde o social é assassinado por uma proposta genocida que toma como inimigo uma ideologia contrária à uma moral cristã-militar.
A aproximação, anacrônica, do contexto de produção de “Superoutro”, com a atualidade, é algo assombroso neste momento, dessa maneira, o ode à autoria exacerbada, à técnica e ao estilo, soa como um retrocesso perigoso do fazer cinematográfico. Tal prática torna-se um engessamento no processo de análise das obras contemporâneas, pois a inflexibilidade que se aplica nesse olhar mantém um status burocrático e pequeno burguês de uma arte que deveria ser primariamente produzida para analfabetos. E esta possivelmente é uma das chaves que transforma o média em um projeto tão dúbio, complexo e pouco acessível, pois onde há uma recusa da linguagem burguesa à uma aproximação com parte da intelectualidade da mesma.