Walk Run Cha-Cha
E Então Nós Dançamos
Por Jorge Cruz
Após vinte anos de serviços prestados em quase quarenta curtas-metragens (documentais ou ficcionais) a cineasta Laura Nix consegue sua primeira indicação no Oscar 2020 por “Walk Run Cha-Cha“, um filme mais preocupado em ser do que dizer. Uma obra que se afasta de toda a (des)construção social dos seus oponentes na respectiva categoria. Para a parte do público sedenta por completar listas, que com seus bloquinhos tentam elencar por ordem de relevância o que entende ser “o melhor curta-metragem documentário”, o estranhamento pode tornar essa produção algo sem graça, talvez sem sentido. Para aqueles que se deixarem levar pelo canto de Nix, o resultado final será de puro encantamento.
O filme conta a história de um casal que dançava e se amava sem culpa no Vietnã quando jovens. A guerra civil que lá se estabeleceu fez com que Chipaul Cao deixasse Millie Cao para trás e se tornasse um refugiado nos Estados Unidos. Antes que “Walk Run Cha-Cha” nos colocasse a par dessa situação e seus desdobramentos, ele explora maneiras de se entender a dança de salão. Uma atividade que há muito deixou de ser a porta de entrada para a interação social tão fundamental, posto que tão perdida. Se antes era “coisa de velho”, como muitos gostam de apregoar de forma discriminatória, cada vez mais cedo (e cada vez em maior quantidade) precisamos de momentos como os vividos por Paul e Millie na pista de dança.
Ultrapassado esse ponto, o que Nix faz é de uma construção aparentemente simples, porém com um impacto tremendo. Ela monta “Walk Run Cha-Cha” como se o casal, alternando suas inserções narrativas, fizessem com as palavras uma dança. Uma valsa interrompida apenas quando eles nos permitem conhecer sua família. Sem mastigar ou jogralizar o que quer que seja, a obra deixa claro como música e dança são elementos não apenas de intercâmbio cultural como auxílios para superar as dificuldades de adaptação de imigrantes.
O curta-metragem se propõe a construir uma narrativa, com uma condução de sensações do espectador. Nesse “pingue-pongue” entre o homem e a mulher o filme passa por drama e romance. Quando parecia se perder na segunda metade, com uma longa sequência de ensaio, Nix faz uma transição para entendermos seu intento: ela passa a materializar todas as sensações conduzidas por ela e narrada por eles. É quando “Walk Run Cha-Cha” nos libera das palavras, uma vez que tudo já foi dito. O momento é de nos preparar para o palco em um grand finale bastante meloso – e talvez muitos achem exageradamente piegas. Contudo, uma conclusão exatamente da maneira como seus protagonistas imaginavam ter.