Editorial de Aniversário
Um balanço dos 15 anos do Vertentes do Cinema
Por Redação
No dia 17 de setembro de 2009, o Vertentes do Cinema completa 15 anos de existência, do signo de Virgem, ascendente em Aquário e Lua em Virgem, nascido às 14:45 (o horário da primeira postagem) de uma tarde de primavera às portas do início do Festival do Rio. Tudo simboliza os valores essenciais e o sentido de identidade. E a data traz inevitavelmente tradições do imaginário popular: a de debutar, dançar a valsa e trocar o sapatinho à meia-noite. E/ou a de comemorar Bodas de Cristal, simbolizando um ciclo completado e um novo caminho de pureza, clareza e durabilidade. O cristal é um material transparente, delicado, mas sólido. Sim, nosso site, que surgiu como um impulso de falar abertamente sobre a sétima arte, especialmente a brasileira, sempre se equilibrou em ouvir muito antes para então traçar novas opiniões. Havia uma empolgação incontrolável (unida a uma felicidade desmedida) que estimulava toda essa necessidade propósito. Sim, era outro tempo, outra época, em um mundo que tinha tempo, tédio e desejo latente pelo conhecimento cinéfilo.
Nesse período, o Vertentes do Cinema atravessou ciclos e transformações no meio do audiovisual brasileiro e internacional. Algumas mudanças foram bem significativas, até mesmo drásticas, como por exemplo a popularização e massificação das redes sociais, que alteraram muito a forma de se produzir conteúdo. O público foi estimulado a não mais ler textos grandes. A receber informações mais resumidas. Isso afetou a crítica de cinema, que ainda está em busca de redefinições de propósitos contidos em sua própria essência, estimulando inclusive que profissionais das palavras tenham que trabalhar de graça, argumento este vendido como “o prazer do reconhecimento”. Nosso site sentiu tudo isso, principalmente na pandemia. Hoje parece que o mundo se tornou mais casual, mais efêmero, mais descartado e um filme terá muito mais trabalho de se cunhar como icônico. Talvez pela excessiva cartela de possibilidades existentes. A sensação que temos é a de que antes havia mais emoção, verdade, cinefilia e um amor incondicional pela sétima arte.
Sim, nesses quinze anos, o Vertentes do Cinema precisou se adequar a essas mudanças, até mesmo a dos quereres subjetivos, entrando em uma aprofundada análise do que éramos e o que almejávamos ser. Sim, agora até mesmo o nome Vertentes consegue representar toda essa identitária fluidez existencial. E assim, nosso site foi conduzido, por um rio que parecia ter controle e vontade próprios, ao universo mais independente do cinema. Nós potencializamos nosso foco em curtas-metragens brasileiros, que culminou inclusive no projeto Um Curta Por Dia, de exibir sempre um filme diferente todo dia por 24 horas e que para isso criamos até uma plataforma única e exclusiva no site. A cada passo o Vertentes do Cinema construía mais e mais sua identidade. E neste momento podemos dizer que somos o único site de crítica de cinema a exibir curtas-metragens. E isso tudo feito sem dinheiro, sem dinheiro, sem apoio e com uma equipe ultra reduzida de três pessoas.
Sim, o Vertentes do Cinema tem em seu DNA ser um espaço para se discutir cinema em suas mais infinitas e plurais vertentes. Nós recebemos muitos colaboradores. Cada um forneceu um olhar, uma ideia, uma nova opinião sobre a sétima arte. É, nosso slogan está mais atual do que nunca, porque crítica é opinião. E opinião é uma característica de todo e qualquer ser humano. A crítica só elenca novas percepções. Não é só dizer se é boa ou não.
Para comemorar os 15 anos, o Vertentes do Cinema após exibir quase 500 curtas-metragens, traz agora a Mostra Abrindo os Arquivos do Vertentes. Ao longo de todo esse período, o site produziu muito conteúdo. Olhando agora temos 8 HD de 2T repletos de entrevistas, coberturas de festivais, “invenções”, tentativas, num material que documentou toda uma época. De 15 a 30 de setembro, o público pode conferir e relembrar arquivos que marcaram o Vertentes do Cinema. E também, hoje, a partir das 17:00 até às 20:00 no Estação Net Rio, dentro da lojinha, haverá a festa de aniversário. Venha!
O ÍNICIO
O site Vertentes do Cinema foi criado como um impulso para ser uma nova opinião crítica sobre a sétima arte, mas também, principalmente, para ser um espaço total de liberdade de ideias e questionamentos. Durante muito tempo, os veículos midiáticos “precisavam seguir padrões sociais de conduta” e assim vários “podavam” os textos de seus escritores. Alguns muitos, inclusive esta foi a razão primordial de seu fundador Fabricio Duque, tinham suas críticas e matérias totalmente alteradas e – no cúmulo do absurdo – suspensas da publicação. Outras apareciam nos jornais e nas revistas como “tijolos” informativos sem nem mesmo o nome do jornalista responsável.
O PROCESSO
De lá para cá, desde 2009, após quatorze anos, podemos dizer que foi um “trabalho de formiguinha”, até porque o Vertentes do Cinema adentrou em três outros dilemas. Um deles era a conservação total da liberdade crítica, que em muitos momentos foi “ameaçada” por “propostas tentadoras” que sinalizavam que deveríamos apenas “adequar nossas ideias ao produto”, pois é, trocando em miúdos: teríamos que abrir mão da liberdade para “ganhar dinheiro e sucesso”. A outra foi manter a linha editorial que sempre focou no cinema independente em detrimento do comercial, como por exemplo dar preferência a um filme filipino de oito horas. Pois é, outro desafio. E o último deles foi “lutar” pelo Cinema Brasileiro, com foco, destaque, pensamento crítico, nunca “puxando saco” e sempre pontuando elementos necessários e primordiais, para que assim pudesse servir como um estudo em processo e não de palavras definitivas.
A EQUIPE
Outro fato que concretizou a excelência e respeito do Vertentes do Cinema foi a sua própria base de sempre se pautar pela liberdade total. Isso gerou um ciclo que reverberou na equipe. Muitos críticos tiveram a oportunidade de “usar” o site para crescer profissionalmente. Isto é muito gratificante: saber que o Vertentes do Cinema pode ser um degrau para voos maiores. Para exercer plenamente suas qualidades. Para transformar teoria em prática. E assim, vários estão em muitos outros veículos e já conceituados no mundo do audiovisual brasileiro. Nossa equipe agora conta apenas com colaboradores. São oito pessoas. Três mulheres e cinco homens. Fabricio Duque, o editor geral. Clarissa Kuschnir, co-curadora da Mostra Um Curta Por Dia e jornalista de cobertura de festivais. Ariel Spá, estagiário que cadastra os curtas e faz as artes da Mostra Um Curta Por Dia. João Lanari Bo, Pedro Sales, Paula Hong e Letícia Negreiros são colaboradores na produção de críticas, com uma crítica (cada um por semana). E o Vitor Velloso, que se formou na Facha, fazendo estágio supervisionado, e que hoje também colabora com críticas e na cobertura dos festivais de Minas Gerais (Tiradentes, Belo Horizonte e Ouro Preto). Lembramos que todos agora são colaboradores por não terem tempos flexíveis e exclusivos. Com isso, o Vertentes do Cinema necessita de novos membros para realizar as críticas por links recebidos (para suprir os especiais de diretores e outros profissionais do cinema; e as listas de filmes sobre determinados assuntos e temas), com disponibilidade de comparecer às cabines de imprensa e às pré-estreias, que possam estar presentes na cobertura de festivais. Nosso site durante esses quatorze anos adquiriu credibilidade e isso reflete no que os festivais e mostra de cinema desejam. Nosso site apresenta seu campo Críticas por Estreias da Semana (nos cinemas), Em Breve, Em Casa (os filmes e séries dos streaming), os Em Cartaz (filmes que continuam em exibição nos cinemas após suas estreias) e os em Destaque. No campo Festivais, a lista só aumenta de convites para que possamos realizar as coberturas.
FESTIVAIS DE CINEMA
O Vertentes do Cinema foi criado semanas antes do Festival do Rio 2009, realizando todas as coberturas até 2023. Em 2013, foi o primeiro Festival de Cannes, com cobertura até 2024. Em 2014, o primeiro Festival de Berlim também até 2024. Em 2014, teve o primeiro Festival de Toronto. E em 2018, o primeiro Festival de Sundance. Depois vieram o Festival de Roterdã, Locarno, Mostra de São Paulo. Após isso tudo, os festivais começaram a convidar o Vertentes do Cinema, mas com a equipe reduzida, os nãos ficaram constantes. Para que isso não mais aconteça, precisamos de membros dispostos e disponíveis para fazer a cobertura dos festivais, especialmente os nacionais. Por exemplo, este ano tivemos convite e logística completa do Olhar de Cinema, mas tivemos que recusar e fazer a cobertura online porque ninguém da equipe atual podia ir. É lógico que cobrir um festival não é só escrever e ver filmes. Tem que participar das coletivas de imprensas, tem que fazer a social, tem que preparar conteúdo online. Trocando em miúdos, tem que “mostrar a cara” e apresentar trabalho.
WEB DESIGNER
Durante anos, o Vertentes do Cinema passou por inúmeras mudanças para atender as demandas do publico. Podemos dizer que tiramos a sorte grande em ter conseguido um ótimo web designer. Mas também é muita coisa para um só programador. O site sempre precisa de se adequar a algo. Por exemplo, na pandemia, o foco era assistir aos filmes dentro em casa, nos streaming. Logo, nós criamos a categoria Em Casa. Antes, o foco era a categoria Estreias no Cinemas. Agora, o Estreia precisa voltar. E para isso, todos os filmes têm que ter críticas. O que fez o Vertentes do Cinema ser o Vertentes do Cinema foi a cobertura integral (de todos os filmes) em uma produção “insana” de conteúdo. Com a queda do número de membros, e com o esperado cansaço do único editor geral, a produção diminuiu e consequentemente os acessos também caíam.
NOTÍCIAS, REVISTA DA SEMANA E TUDO SOBRE
O Vertentes do Cinema ao logo dos anos construiu sua credibilidade também pela informação. As notícias sobre cinema e audiovisual eram publicadas diariamente. A Revista da Semana listava tudo o que acontecia na semana, com críticas, dicas e tudo mais. Já o Tudo Sobre tornou-se um marco do site. Todos aguardavam, e aguardam, o Tudo Sobre que é tudo o que você precisa sair sobre um festival de cinema, mostra de cinema, retrospectivas e cineclubes. Todas essas categorias sempre deram muito trabalho, porque não era “copiar e colar” do release oficial e sim, estudar e fornecer sempre o extra campo. Ir além. Noticiar o que ninguém falava. Era quase uma “escavação”.
AS CRÍTICAS
Outra categoria que ganhou destaque e credibilidade foram as críticas. Por termos liberdade total e irrestrita, as críticas eram sempre mais polêmicas, mais críticas, mais aprofundadas. Nós sempre acreditamos em uma outra forma de analisar um filme. De estudar o filme, de encontrar o que ninguém via, de dar uma nova opinião. Nós sempre partimos do princípio de que uma crítica é um processo. Nunca definitivo. E que um crítico precisa saber passar a ideia. Saber argumentar. Saber articular as palavras. E nunca, mas nunca, trazer suas predileções subjetivas. É lógico que isso é impossível. Até porque todo e qualquer ser humano, enquanto indivíduo social, sempre busca prevalecer sua ideia. Mas o que sempre trabalhamos foi com a dissociação. Assim como um ator precisa ser uma folha em branco quando prepara sua personagem, nós acreditamos que um crítico não deve ter e ser nada enquanto assiste a um filme. Outra coisa que trazemos para nossas críticas é a mitigação máxima do ego. Da prepotência. Da arrogância. Crítica não é dizer se gostou ou não. Crítica serve como um estudo in progress, até porque nós mudamos nossas percepções sobre um filme. E para complementar, nós sempre tentamos seguir o padrão Cahiers du Cinema da crítica, com o mínimo (sem máximo) de 700 palavras para longa-metragem e de 400 para curtas-metragens, mesmo durante um festival de cinema, que as críticas precisam ser escritas no mesmo dia.
VÍDEOS E ENTREVISTAS
O Vertentes do Cinema também sempre se preocupou com entrevistas. Em ouvir o que os realizadores e equipe dos filmes tinham a dizer. Com isso, desde o primeiro ano, muito conteúdo foi produzido, mas muita coisa está guardada nos inúmeros HDs. O que fazer com todo esse conteúdo? Nós também passamos por muitos sustos. O Youtube nos baniu por conteúdo impróprio (um trailer de um filme de arte). O Vimeo também (um filme com nudez). Depois de tudo, o Vertentes do Cinema criou a sua própria plataforma exclusiva de exibição de filmes. Assim, com liberdade, podemos passar qualquer tipo de obra.
OS CURTAS-METRAGENS
O Vertentes do Cinema sempre gostou muito de curtas-metragens. Nunca viu um cinema menor, com menor importância. O que seria do cinema sem os Irmãos Lumière, George Méliès? Mas sim o curta-metragem sempre foi tratado como o primo pobre, tanto que seu tempo de validade é no máximo dois anos, enquanto um longa chega a dez. Assim, sempre exibimos curtas, que compartilhávamos os links do Youtube e Vimeo no site. Só que nós nunca podemos passar os “proibidões”. Aquele curta clássico brasileiro que “infringia a moral e os bons costumes da época”. Isso estimulou a criação da Mostra Um Curta Por Dia.
MOSTRA UM CURTA POR DIA
A mostra nasceu de uma necessidade. De um outro impulso de nunca fazer um curta-metragem desaparecer, especialmente o Cinema Brasileiro. Ao resgatar um filme e exibi-lo, nós o acordamos e acendemos sua diversidade, memória, invenção e modernidade. A Mostra Um Curta Por Dia chega a seu décimo terceiro mês. Sim, o projeto inicial era de um ano, mas os 12 meses não foram suficientes. Assim, temos um projeto de um ano com 13 meses, que exibiu um filme diferente, todo dia, durante 24 horas, de forma gratuita, sem cadastro, em plataforma única e exclusiva dentro do site Vertentes do Cinema, e sendo exibido no mundo (quase) inteiro (não conseguimos a Coreia do Norte). Isso expande janelas de exibição e por um momento resolvemos a “cota de tela”. Teve curta que atingiu sozinho 40 mil visualizações em 24 horas. Nem o Canal Brasil consegue isso com os filmes brasileiros. Nossa equipe é reduzidíssima: apenas três pessoas. Clarissa Kuschnir que organiza a curadoria com Fabricio Duque, este que cumpre todas as função de receber os filmes, buscar as autorizações, colocá-los no formato da plataforma, para depois passar ao estagiário que os cadastra no site e faz as artes de divulgação. Sim, isso tudo sem edital, sem financiamento, sem apoio nenhum. E lembrando que toda essa equipe está nisso há 13 meses. Dia após dia. Somos a versão invertida de Robin Hood.
COMO A MOSTRA UM CURTA POR DIA QUER SER?
A ideia inicial era que cada curta fosse um arquivo. Que tivesse a logo/comercial do anunciante, mais a apresentação do diretor (e ou de alguém da equipe e/ou algum crítico), mais a exibição do filme, mais um Q&A com ou sobre a obra de uns 20 ou 30 minutos, fechando com os nossos créditos e mais uma vez a logo/comercial do anunciante. Mas já fechamos que todo esse ano de 13 meses será reexibido na íntegra, como uma segunda chance, de primeiro de janeiro de 2025 até 31 de janeiro de 2026. E durante todo esse tempo, nós prepararemos o segundo ano inédito.
ESPECIAIS, ARTIGOS E PODCASTS
O Vertentes do Cinema também sempre buscou estudar os realizadores, seus artistas e profissionais do cinema. E um Especial é isso: imergir na filmografia, escrever sobre todos os filmes e realizar uma matéria geral (um artigo) alinhando e conectando tudo. Sempre fizemos artigos livres. E tivemos um programa de radio (que durou quatro anos), Vertentes do Cinema, na Radio Uerj sobre diretores.
A sessão Especiais do Vertentes traz um perfil-retrospectiva com críticas, matérias especiais, artigos, entrevistas e vídeos de cineastas, atores, atrizes e outros profissionais do cinema, além de temáticas específicas da cinematografia brasileira e mundial. Paula Gaitan; Petrus Cariry; Bruno Safadi; Cavi Borges; Susanna Lira; Patricia Niedermeier; Yorgos Lanthimos; Xavier Dolan; Ari Aster; Ary Rosa e Glenda Nicário; Bertrand Bonello; Corneliu Porumboiu; Sergei Loznitsa; Lav Diaz; Cristiano Burlan; David Mello; Eryk Rocha; Felipe Bragança; Anna Muylaert; Federico Fellini; François Truffaut; Gabriel Mascaro; Game of Thrones; Guto Parente; Helena Ignez; Hong Sand-soo; Jean-Luc Godard; Júlia Murat; Juliana Rojas; Karim Aïnouz; Karine Teles; Ken Loach; Kim ki-Duk; Kleber Mendonça Filho; Luiz Rosemberg Filho; Marco Bellochio; Marco Dutra; Me-Cuidem-se!; Miguel Gomes; O Exterminador do Futuro; Rambo; Silvio Tendler; Star Wars; Steven Spielberg; Toy Story; Woody Allen.
AS REDES SOCIAIS
Um dos grandes “calcanhar de Aquiles” do Vertentes do Cinema foi a questão das redes sociais. Alimentar uma rede requer tempo e conhecimento. E isso quer dizer que tempo será retirado da produção de conteúdo. Nossas redes sociais sempre foram com poucos inscritos. Começamos no Facebook, depois no Instagram. E nunca tivemos Twitter. E quase não alimentamos o Letterboxd. Mas nós sabemos que o segredo de “crescimento” está aí. Sim, mas também há um dado curioso: nosso acesso do site nunca caiu. Sempre subiu. Nunca conseguimos explicar o fenômeno.