Tudo Sobre o Festival de Cinema de Gramado 2024
Anunciada toda a programação para a imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro em dois eventos inéditos
Por Redação
O Festival de Cinema de Gramado chega a sua edição 52 e se consolida como o segundo expoente da sétima arte brasileira e latina (este desde 1992), atrás apenas do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, mas o número um como o festival que nunca pulou um ano. São 52 anos ininterruptos comemorados em 2024, desde 1973, quando teve seu ponto inicial nas mostras promovidas durante a programação da VIII Festa das Hortênsias, no município de Gramado, no Rio Grande do Sul. E como nós do site adoramos simbologia, este ano podemos dizer que o Festival de Cinema de Gramado completa Bodas de Argila. Não poderia haver melhor metáfora, por ser um tipo de barro que se bem montado pode se tornar diversas formas. De 09 a 17 de agosto, durante o inverno brasileiro, e após toda a tragédia que a região sofreu, o festival manteve a data por resistência e necessidade de seguir adiante, para assim recobrar a própria força de sua população.
O Festival de Cinema de Gramado é um evento cinematográfico. Não podemos nos esquecer disso, visto que movimenta a economia do lugar e dessa forma ajuda a reconstruir tudo o que se perdeu nas enchentes. O festival também é visionário e inclusivo. Sabendo das dificuldades de conseguir convidar todos os jornalistas e críticos, o Festival de Cinema de Gramado realizou semanas antes dois encontros (fora do Rio Grande do Sul) para apresentar todas as novidades da edição 52. Uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. O Vertentes esteve presente nas duas com nossos representantes Clarissa Kuschnir (na paulistana) e Fabricio Duque (na carioca).
Na cobertura de Clarissa Kuschnir (quem assina os próximos parágrafos), presencialmente (e à convite do festival), direto de São Paulo:
Chegando em sua 52ª Edição (um dos mais antigos do Brasil), o Festival de Cinema de Gramado esteve presente pela primeira vez nos dias 17 e 18 deste mês em São Paulo e Rio de Janeiro para apresentar aos jornalistas e realizadores, a programação e a seleção dos documentários e curtas nacionais. Este ano, que por conta das enchentes no Rio Grande do Sul, o festival teve que adaptar as projeções, além Palácio dos Festivais, por terem que reduzir o número de convidados, devido a logística para se chegar ao estado.
“Fizemos uma coletiva em Gramado divulgando os curtas e longas Gaúchos, e os longas brasileiros de ficção, que foram 7 selecionados (este ano com um filme a mais) pelos nossos queridos curadores. Hoje aqui faremos uma divulgação especial e inédita, ou seja, quais serão os documentários e curtas nacionais que além de passarem no Palácio dos Festivais, estarão com exclusividade no Canal Brasil. Eu acho que isso amplia muito o público e é muito importante para os realizadores. Estou bastante feliz”, finalizou Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, que ainda enfatizou o retorno do patrocínio da Petrobras ao festival, que estava afastando há alguns anos.
Além de Rosa estiveram presentes para a conversa com os jornalistas, os curadores Marcos Santuario e o Caio Blat, que falaram sobre o processo de seleção, a atriz Bárbara Paz, que contou um pouco sobre seu novo projeto feito no Rio Grande do Sul pós enchentes e André Saddy, presidente do Canal Brasil.
“Na verdade, para mim a curadoria é um aprendizado enorme pois sempre estive do outro lado escrevendo filmes, competindo e participando. E é muito legal esse aprendizado, de estar do lado de cá. De ver como se estrutura um festival, como se constrói, como se seleciona e como se cria uma narrativa e o recorte. São centenas de filmes e quando você conseguiu ver todos os filmes de ficção e chega a uma lista prévia, tem centenas de documentários. Aí vai acabando o tempo, dando aquela angústia. A gente começa a ver três a quatro filmes por dia. Encontra com os realizadores na rua e não sabe onde enfiar a cara. Enfim, é um processo trabalhoso, mas muito satisfatório. Primeiro que é um privilégio ver centenas de filmes e o que se está fazendo no páis, em primeira mão. E segundo que quando essa lista fica pronta dá um orgulho enorme e uma satisfação de fechar essa lista toda. E é uma aprendizado pois quem manda aqui é o Santuario, e eu só vou aprendendo com ele”, disse Caio Blat sobre a curadoria deste ano.
“A primeira coisa que costumamos dizer neste momento é obrigado a todas e todos os realizadores que enviaram os filmes para a gente assistir, na tentativa de estar nesta tela que tanto me honra. Eu me orgulho muito de fazer este trabalho, no caso de ser o Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul e pela potência que ele tem. É uma responsabilidade enorme, para quem entra e para quem não entra, na nossa relação. Quem entrou parabéns. Vai ser uma festa potente, maravilhosa, com filmes inéditos, mesclando gêneros e histórias de várias partes do país. E para os demais, não desistam de nós. Continuem mandando filmes”, finalizou Marcos Santuario.
O festival que acontece de 09 a 17 de agosto abrirá com “Motel Destino”, de Karim Aïnouz. O longa que concorreu à Palma de Ouro no último festival de Cannes é inédito no Brasil. Já o encerramento fica por conta do Gaúcho Jorge Furtado e o seu “Virgínia e Adelaide”, protagonizado pelas atrizes Gabriela Correa e Sophie Charlotte, atriz que esteve presente do evento no Rio. Na seleção dos cinco documentários estão: “Clarice Niskier”, de Renata Paschoal, “Mestras”, de Aíla Roberto Carvalho; “Peomaria”, de Davi Kinski, “Toquinho Maravilhoso”, de Alejandro Berger Parrado e “Velho Chico, a Alma do Povo Xokó”, de Caco Souza.
Para os curtas nacionais foram escolhidos: “A Casa Amarela”, de Adriel Nizer; “A Menina e o Pote”, de Valentina Homem; “Ana Cecília”, de Julia Regis;” Castanho” de Adanilo ; “Fenda”, de Lis Paim; “Maputo”, de Lucas Abrahão; “Movimentos Migratórios”, de Rogério Cathalá; “Navio”, de, Alice Carvalho, Larinha R. Dantas e Vitória Real; “Pastrana”, de Melissa Brogni e Gabriel Motta; “Ponto e Vírgula”, de Thiago Kistenmacker; “Ressaca”, de Pedro Estrada e “Via Sacra”, de João Campos.
As exibições presenciais dos curtas-metragens ocorrerão nos dias 12 e 13 de agosto, com seis filmes por sessão, no Palácio dos Festivais. Já no Canal Brasil, a mostra vai ao ar do dia 12 ao dia 15 de agosto, sempre a partir das 19h, com três filmes por sessão. A mostra competitiva de documentários segue com exibição exclusiva pela grade linear do Canal Brasil, de 12 a 16 de agosto, às 20h20.
No evento que ocorreu no Rio De Janeiro foi apresentada mais uma novidade que é a homenagem a veterana atriz Vera Fisher, que levará o troféu Cidade de Gramado. A atriz com mais de meio século de carreira, estreou no cinema em 1972. no longa “Sinal Vermelho – As Fêmeas”, de Fauzi Mansur. Sem contar os inúmeros papéis na TV e no teatro.
Os outro homenageados que já foram anunciados são: Matheus Nachtergaele, que receberá o Troféu Oscarito; Mariëtte Rissenbeek, produtora alemã que foi Diretora do Festival Internacional de Cinema de Berlim entre 2019 e 2024, que recebe o Kikito de Cristal; e o diretor Jorge Furtado (que completou 40 anos de carreira). recebe o Troféu Abelin. O Kikito era o símbolo da cidade de Gramado e se tornou Troféu do festival. O nome do prêmio foi atribuído por Elisabeth Rosenfeld, artesã da cidade de Gramado, e responsável pela criação da estatueta com que são laureados os vencedores.
CONVERSA COM OS CURADORES DO FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO 2024
Na ocasião do evento em São Paulo, Clarissa Kuschnir conversou com os curadores Marcos Santuario e Caio Blat.
Clarissa Kuschnir: Como foi esse ano o processo que ficou só você e o Caio Blat, já que saiu a Soledad Villamil? Sem contar o que aconteceu no Rio Grande do Sul, nesse meio tempo.
Marcos Santuario: A gente começou a ver os filmes muito antes, que é a lógica da curadoria. Claro que encontramos vários realizadores, que falam de seus filmes e que vemos em festivais. Aí quando fecharam as inscrições já tínhamos visto muita coisa, sem saber que iria acontecer uma enchente. Aí tem essa coisa. O que vai acontecer com o festival? E Gramado decidi fazer o festival, porém, vai adequar um pouco. Vai ter que diminuir o número de convidados, uma parte da programação vai para a TV. Mas isso de alguma maneira só nos afetou nos documentários, porque como os longas de ficção passarão no palácio e serão exibidos e as equipes vão. Nos documentários poderia ter essa situação, pois as pessoas se inscrevem e querem passar no cinema. Mas temos uma potência enorme de filmes e todos os filmes querem como primeira tela Gramado. O trabalho com o Caio é genial. Ele é muito generoso. Ele é cheio de mil coisas para fazer e nos falamos a distância. Ele em um país, eu em outro. Fazíamos videochamada. Fomos falando a afinando, até chegar nestes sete filmes inéditos, com diretores que desafiam e causam desejo de assistirmos suas obras, e o trabalho inédito de Dira Paes, em um tema que é muito caro para ela que é o tema dos animais, do tráfego da Amazônia. É uma paixão dela e ela fez isso com muita poesia. E assim completa um time genial de realizadoras (4 que compõem a mostra) e os outros três como: Aly Muritiba com uma carreira sólida, Estômago 2 – O Poderoso Chef que é muito esperado, de uma segunda fase de um filme que marcou época. Para nós é uma alegria, uma felicidade. uma honra e um desafio enorme de tentar mostrar nestes sete longas de ficção e cinco de documentários o quão profícua, potente e maravilhosa está a produção brasileira atual.
Clarissa Kuschnir – Fale um pouco sobre ser ator e estar pelo segundo ano fazendo parte da curadoria de Gramado?
Caio Blat – Esse é o segundo ano. É uma surpresa, e um grande aprendizado e também, um grande prazer. O ano passado foi muito bonito e eu estava lá e os filmes que se destacam acabam tendo um boom na sua carreira, como o Mussum por exemplo que teve uma consagração e depois teve uma bela carreira. Então eu vou aprendendo e entendo a importância de cada seleção. Este ano foi um pouco mais solitário porque não tinha a Soledad. A gente ia trocando muita figurinha. Mas é aquilo que eu digo, a seleção ela vai se fazendo por mérito e a gente só testemunha que tem filmes de muita qualidade, de cineastas que têm história importante. Então essa lista vai surgindo naturalmente, conforme vamos assistindo aos filmes. E foi assim esse ano. Cineastas consagrados ou mais jovens. A Dira Paes por exemplo que é um patrimônio do cinema estreando como diretora em um filme belíssimo e sensível. Como ator eu tenho sempre uma visão das performances, da decupagem, do ritmo do filme e o Santuario, tem mais essa visão de um crítico, da temática de um filme, da importância, da relevância. Então, fazemos uma boa combinação e deixamos para os júris e os críticos moerem.
TODOS A SELEÇÃO OFICIAL DE FILMES DO FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO 2024
LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
Barba Ensopada de Sangue, de Aly Muritiba (SP)
Cidade; Campo, de Juliana Rojas (MS/SP)
Estômago 2: O Poderoso Chef, de Marcos Jorge (PR)
Filhos do Mangue, de Eliane Caffé (RN)
O Clube das Mulheres de Negócios, de Anna Muylaert (SP)
Oeste Outra Vez, de Erico Rassi (GO)
Pasárgada, de Dira Paes (RJ)
LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
A Transformação de Canuto, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho (São Miguel das Missões)
Até que a Música Pare, de Cristiane Oliveira (Antônio Prado/Nova Roma do Sul/Nova Bassano/Veranópolis)
Infinimundo, de Bruno Martins e Diego Müller (Lajeado/Santa Cruz do Sul/Sinimbu)
Memórias de um Esclerosado, de Thais Fernandes e Rafael Corrêa (Porto Alegre)
Um Corpo Só, de Cacá Nazario (Porto Alegre)
CURTAS-METRAGENS GAÚCHOS
A um Gole da Eternidade, de Camila de Moraes e Paulo Ricardo de Moraes (Novo Hamburgo)
Cassino, de Gianluca Cozza (Rio Grande)
Chibo, de Gabriela Poester e Henrique Lahude (Tiradentes do Sul)
Correnteza, de Diego Müller e Pablo Müller (Porto Alegre)
Entrega, de Luiz Azambuja e Pedro Presser (Porto Alegre)
Envergo mas Não Quebro, de Tatiana Sager (Porto Alegre)
Está Tudo Bem, de Rodrigo Herzog (Porto Alegre)
Flor, de Joana Bernardes (Esteio)
Janeiro, de Boca Migotto (Porto Alegre)
Não Tem Mar Nessa Cidade, de Manu Zilveti (Pelotas)
Natal, de Alan Orlando (Santa Maria)
Noz Pecã, de Aline Gutierres (Itaqui/Porto Alegre)
Pastrana, de Melissa Brogni e Gabriel Motta (Novo Hamburgo)
Posso Contar nos Dedos, de Victória Kaminski (Pelotas)
Viagem para Salvador, de João Pedro Fiuza (São Leopoldo/Porto Alegre)
Zagêro, de Victor Di Marco e Márcio Picoli (Bagé/Porto Alegre)
CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS
A Casa Amarela, de Adriel Nizer (PR)
A Menina e o Pote, de Valentina Homem (PE)
Ana Cecília, de Julia Regis (RS)
Castanho, de Adanilo (AM)
Fenda, de Lis Paim (CE)
Maputo, de Lucas Abrahão (SP)
Movimentos Migratórios, de Rogério Cathalá (BA)
Navio, de Alice Carvalho, Larinha R. Dantas e Vitória Real (RN)
Pastrana, de Melissa Brogni e Gabriel Motta (RS)
Ponto e Vírgula, de Thiago Kistenmacker (RJ)
Ressaca, de Pedro Estrada (MG)
Via Sacra, de João Campos (DF)
LONGAS-METRAGENS DOCUMENTAIS
Clarice Niskier, Teatro dos Pés à Cabeça, de Renata Paschoal (RJ)
Mestras, de Roberta Carvalho (PA)
Poemaria, de Davi Kinski (SP)
Toquinho Maravilhoso, de Alejandro Berger Parrado (SP)
Velho Chico, a Alma do Povo Xokó, de Caco Souza (SE)