Tudo Sobre a Mostra Cinema de Resistência com obras de Lucia Murat
Entre 28 de maio e 23 de junho, 34 trabalhos da brasileira serão exibidos no CCBB Rio de Janeiro, trazendo temas urgentes como ditadura, feminismo, desigualdade e povos originários
Por Fabricio Duque
Se procuramos no dicionário o significado do substantivo feminino Resistência, encontraremos que é “o ato ou efeito de reagir; propriedade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo”. Sim, resistir traduz-se também por não se entregar, por não aceitar calado desconfortos e violências a liberdades de expressão. A cineasta brasileira e carioca Lucia Murat precisou lutar mais do que o normal para sobreviver. Sofreu na pele durante a ditadura todas as agressões e “punições” por pensar diferente, por ter opiniões contrárias e “rebeldes” do “progresso e futuro”. Agora, mais que merecido, a diretora recebe a homenagem de ter suas obras selecionadas na Mostra Cinema de Resistência: Um Olhar Sobre o Brasil Invisível, que acontece de hoje, 28 de maio até 23 de junho, primeiro no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e depois segue para o CCBB de São Paulo, de 4 a 29 de junho. Lucia Murat usou seu próprio cinema para ouvir e coletar histórias, e depois as transformar em ficção, como uma Comissão da Verdade. Para que assim a memória nunca desaparece, tampouco, e especialmente, o sentimento da luta-sobrevivência. A realizadora quer manter vivo que nada do que passou foi em vão. Não, não é só “A Memória Que Me Contam”, e sim a memória afetiva do sofrimento. Lucia Murat também nunca perde o sorriso, nunca fica séria, assim como a personagem de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, sempre expressa a felicidade de ter se “salvo”. De estar viva. E fazendo filmes. E sendo uma cineasta ativa e ativista.
A Mostra Cinema de Resistência: Um Olhar Sobre o Brasil Invisível, com curadoria de Denise Costa Lopes, mergulha nas obras da premiada Lucia Murat, exibindo 34 dos mais de 65 filmes da cineasta, que percorrem feridas abertas de nossa história recente. A mostra contará com quatro debates em torno de temáticas relevantes abordadas por Murat. O primeiro, sobre ditadura e memória, será na abertura, às 18h30, com a participação da curadora Denise Lopes e de três ex-presas políticas: a historiadora Jesse Jane, a socióloga Dulce Pandolfi e a própria cineasta Lucia Murat. A mediação será feita pelo jornalista Ancelmo Gois.
Em um cenário de instabilidade política no Brasil e no mundo, a mostra propõe um convite à reflexão por meio das obras da cineasta e ex-jornalista, cuja filmografia entrelaça memória, experiências pessoais, ficção e realidade histórica. Ao longo de quase um mês, o público poderá assistir a 13 longas-metragens, 2 filmes de média e curta-metragem, além de 19 episódios em vídeo, organizados em quatro módulos temáticos: Ditadura e Memória, Povos Originários, Questões Femininas e Desigualdades. A programação será acompanhada por debates com artistas, ativistas e intelectuais, ampliando o diálogo proposto pelos filmes.
• Ditadura e Memória (28 de maio): A diretora revisita experiências vividas durante o regime militar, explorando lembranças e traumas por meio de personagens femininas e narrativas que misturam realidade e ficção.
• Povos Originários (8 de junho): Filmes que destacam a diversidade cultural indígena e o olhar respeitoso da cineasta sobre essas comunidades, suas tradições e desafios contemporâneos.
• Questões Femininas (15 de junho): O protagonismo das mulheres aparece sob diferentes perspectivas, abordando temas como maternidade, envelhecimento e relações afetivas.
• Desigualdades (21 de junho): Obras que retratam o cotidiano de pessoas em contextos de vulnerabilidade social, com foco em trajetórias humanas e potentes.
Em todos os módulos, o estilo da diretora se destaca pela combinação entre diferentes linguagens artísticas — como teatro, dança e artes visuais — e pela forma como transforma histórias individuais em retratos universais, oferecendo ao público uma experiência sensível e reflexiva. Todos os debates contam com a presença de artistas, pensadores e convidados especiais, promovendo trocas a partir das temáticas apresentadas nas sessões.
Lucia Murat soma 14 longas-metragens feitos exclusivamente para as salas de cinema, consolidando-se como a cineasta latino-americana com a maior produção no formato. Em grande parte desses trabalhos, assinou simultaneamente a direção, o roteiro e a produção – um feito notável e raro, mesmo entre os grandes nomes do audiovisual. Premiada em diversos festivais internacionais e nacionais, como Chicago, Miami, Huelva, Havana, Moscou, Mar del Plata, Festival do Rio, Brasília e Gramado, Lucia teve seu último filme “Hora do Recreio“ (2025) – laureado com a Menção Especial do Júri Jovem na Mostra Generation 14 Plus do Festival de Berlim 2025. Aos 76 anos, a cineasta segue usando o audiovisual como meio de conscientização social.
O filme “Hora do Recreio” não será exibido na Mostra Cinema de Resistência: Um Olhar Sobre o Brasil Invisível. Apenas é citado como referência da filmografia de Lucia Murat. Mas os leitores pode conferir nossa crítica AQUI!
“Filmar como forma de resistir. Essa parece ter sido a máxima que norteou o trabalho ininterrupto da cineasta Lucia Murat por 41 anos. Pela primeira vez, 34 produções poderão ser vistas em conjunto numa mostra no CCBB do Rio de Janeiro e São Paulo. A mostra abre a possibilidade de discussão sobre temas caros e urgentes do Brasil, como a ditadura militar de 1964, as violências contra os Povos Originários, as desigualdades sociais e questões do feminino”, comenta Denise, a curadora da mostra.
“A obra de Lucia é atravessada por uma série de marcas estilísticas e temáticas recorrentes: como a dissolução das fronteiras entre os formatos cinematográficos, presente desde seu primeiro longa-metragem; o enfoque na memória; a narrativa desconstruída; e a busca por trazer à tona comunidades e temas geralmente marginalizados ou silenciados. A partir de algumas dessas características, foi possível para a curadoria organizar sua produção em quatro grandes eixos que estruturam a mostra: Ditadura e Memória, Povos Originários, Questões Femininas e Desigualdades”, escreve o release oficial.
CONFIRA A SEGUIR A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA CINEMA DE RESISTÊNCIA NO CCBB RJ
28/05 – Quarta-feira
14h – A Memória que me contam – Longa-metragem (2012, 100 min, 14 anos)
16h – Que bom te ver viva – Longa-metragem (1989, 97min, 14 anos).
18h30 – Abertura e Debate: DITADURA E MEMÓRIA.
Convidados: Lucia Murat, Jesse Jane, Dulce Pandolfi e Denise Lopes.
Mediação: Ancelmo Gois
29/05 – Quinta-feira
16h – O Pequeno exército louco – Documentário – Média-metragem (1984, 50min, 12 anos)
18h – Uma longa viagem – Documentário – Longa-metragem (2011, 95min, 16 anos)
30/05 – Sexta-feira
16h – Quase dois irmãos – Longa-metragem (2004, 102min, 16 anos)
18h – O mensageiro – Longa-metragem (2024, 108min, 14 anos)
31/05 – Sábado
16h – A Memória que me contam – Longa-metragem (2012, 100min, 14 anos)
18h – Que bom te ver viva – Longa-metragem (1989, 97min, 14 anos)
01/06 – Domingo
16h – O pequeno exército louco – Documentário, média-metragem (1984, 50min, 12 anos)
18h – Uma longa viagem – Documentário – Longa-metragem (2011, 95min, 16 anos)
02/06 – Segunda-feira
16h – Quase dois irmãos – Longa-metragem (2004, 102min, 16 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
18h – O mensageiro – Longa-metragem, (2024, 108min, 14 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
04/06 – Quarta-feira
16h – A nação que não esperou por Deus – Documentário, longa-metragem (2015, 90min, Livre)
18h – Brava gente brasileira – Longa-metragem (2000, 103min, 16 anos)
05/06 – Quinta-feira
16h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos):
Aprisionados, 30min
/ A reviravolta, 30min
/ Na guerra pela terra, 30min
/ Incendiado vivo, 30min
/ A morte como solução, 30min
18h30 – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Julião, 30min
06/06 – Sexta-feira
16h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos):
Terçados, facões e ferramentas, 30min
/ Tapajós, um projeto de morte, 30min
/ Açúcar com estricnina, 30min
18h – Terra Livre, 30 min
/ O bicho que come cru, 30min
/ Em troca de um fogão, 30min
/ O papel aceita tudo, 30min Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
07/06 – Sábado
16h – A nação que não esperou por Deus – Documentário, longa-metragem (2015, 90min, Livre)
18h – Brava gente brasileira – Longa-metragem (2000, 103min, 16 anos)
08/06 – Domingo
14h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos)
Na guerra pela terra, 30min
/ Incendiado vivo, 30min
/ A morte como solução, 30min
16h – Aprisionados, 30min
/ A reviravolta, 30min
/ Terra Livre, 30 min
18h – Debate: POVOS ORIGINÁRIOS
Convidados: Lucia Murat, Dilmar Puri, Orlando Calheiros
Mediação: Denise Lopes
09/06 – Segunda-feira
16h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos)
O bicho que come cru, 30min
/ Em troca de um fogão, 30min
/ O papel aceita tudo, 30min
/ Terçados, facões e ferramentas, 30min
/ Tapajós. Um projeto de morte, 30min
/ Açúcar com estricnina, 30min
19h – Episódio da série Testemunhos (1992, 12 anos): Julião, 30min
11/06 – Quarta-feira
17h – Episódios da série Mulheres no Cinema (1992, 12 anos):Carmen Santos, 30min
/ Gilda de Abreu, 30min
18h – Olhar estrangeiro – Documentário, longa-metragem (2005, 70min, 14 anos)
12/06 – Quinta-feira
17h – Daisy – Curta-metragem (1992, 20min, 14 anos)
18h – Em três atos – Longa-metragem (2015, 75min, 14 anos)
13/06 – Sexta-feira
17h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Beatriz Ryff, 30min
18h – Ana. Sem título – Longa-metragem (2020, 110min, 14 anos)
14/06 – Sábado
17h – Episódio da série Mulheres no Cinema (1992, 12 anos): Carmen Santos, 30min / Gilda Abreu, 30min
18h – Olhar estrangeiro – Documentário, longa-metragem (2005, 70min, 14 anos)
15/06 – Domingo
15h30 – Daisy – Curta-metragem (1992, 20’, 14 anos)
16h – Em três atos – Longa-metragem (2015, 75min, 14 anos)
18h – Debate QUESTÕES FEMININAS
Convidados: Luciana Bezerra, Jaqueline Pitanguy
Mediação: Denise Lopes
16/06 – Segunda-feira
17h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Beatriz Ryff, 30min
18h – Ana. Sem título – Longa-metragem (2020, 110min, 14 anos)
18/06 – Quarta-feira
17h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Antônio Callado, 30min
18h – Doces poderes – Longa-metragem (1997, 93min, 16 anos) Sessão com acessibilidade (legendas descritivas)
19/06 – Quinta-feira
17h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Abdias Nascimento, 30min
18h – Maré, nossa história de amor – Longa-metragem (2007, 105min, 16 anos)
20/06 – Sexta-feira
17h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Apolônio de Carvalho, 30min
18h – Praça Paris – Longa-metragem (2017, 110’, 16 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
21/06 – Sábado
15h30 – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Antônio Callado, 30min
16h – Doces poderes – Longa-metragem (1997, 93min, 16 anos)
18h – DEBATE DESIGUALDADES
Convidados: Lucia Murat, Luiz Fernando Gallego, Babu Santana
Mediação: Denise Lopes
22/06 – Domingo
16h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Abdias Nascimento, 30min
18h – Maré, nossa história de amor – Longa-metragem (2007, 105min, 16 anos)
23/06 – Segunda-feira
16h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Apolônio de Carvalho, 30min
18h – Praça Paris – Longa-metragem (2017, 110min, 16 anos)
SERVIÇO
Mostra “Cinema de Resistência: um olhar sobre o Brasil invisível”
Data: 28 de maio a 23 de junho de 2025
Entrada gratuita
Classificação etária: consulte a programação
Retirada de ingressos: a partir das 9h do dia de cada sessão/atividade, pelo site bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB
Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Tel. (21) 3808-2020 | [email protected]
Informações sobre programação, acessibilidade, estacionamento e outros serviços: bb.com.br/cultura
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida: entrada pela Porta Presidente Vargas (Estacionamento CCBB).