Tudo sobre a edição online do É Tudo Verdade 2020

Tudo sobre a edição online do É Tudo Verdade 2020

Festival acontece por streaming por causa da pandemia do novo Coronavírus

Por Julhia Quadros

O festival internacional de documentários “É Tudo Verdade” ocorre entre os dias 26 de março e 5 de abril de 2020, desta vez, em sua primeira versão online, devido ao fechamento das salas de cinema e centros culturais, em virtude da pandemia do coronavírus. Apesar dos empecilhos, que impossibilitam a organização presencial do evento, é possível acompanhá-lo, com uma programação reformulada devido às circunstâncias, através da internet. Com a realização do Governo do Estado de São Paulo, Itaú Cultural, Sesc e Spcine, é possível assistir a diversos longas-metragens e curtas-metragens, além de séries e entrevistas trazidos nesta versão peculiar do “É Tudo Verdade”.

O festival, que existe desde 1996, tem como objetivo fomentar a produção, distribuição e exibição de documentários, como defende seu fundador e diretor Amir Labaki, que, no primeiro ano de realização do evento, produzido pela Kinoforum, argumentou: “as grandes mostras do cinema não dedicam a devida atenção para gêneros cinematográficos específicos, ligados a pesquisas estilísticas e temáticas”. Para ele, o cinema documental era estigmatizado no Brasil e, como o gênero ganhava espaço nas cinematografias internacionais, acreditava que merecia uma expressão maior no eixo Rio – São Paulo. Já em sua terceira edição o “É Tudo Verdade” era reconhecidamente, o mais importante evento latino-americano dedicado ao cinema documental.

Nesta vigésima quinta edição, em 2020, será exibida a obra televisiva “A Herança da Coruja”, de Chris Marker, restaurada postumamente há apenas dois anos, após quase trinta anos de inacessibilidade. Realizada ao fim dos anos 1980, o documentarista discute os valores da Grécia Clássica presentes na sociedade moderna, como “democracia”, “misoginia”, ”amnésia” e “tragédia”. O nome da série se dá porque a coruja é o símbolo da deusa grega Palas Atena, cuja figura fora citada por Hegel em sua representação romana quando ele diz que “a coruja de Minerva só voa ao anoitecer”. Assim como a coruja, o saber só se dá com o distanciamento e o silêncio da noite, em que a atividade intelectual dá lugar à observação. Assim como o próprio cinema documentário, o saber e as ideias só seriam observados à penumbra, com olhar atento, distante e vigilante da coruja. Através desta analogia, Marker encontra no animal a metáfora perfeita para as suas propostas nesta obra, revisitada após sua morte em 2012.

Além disto, a programação traz uma homenagem para as antigas edições do evento, como o destaque para os filmes dirigidos por mulheres exibidos ao longo do festival, como na mostra “As Diretoras no É Tudo Verdade”. Os sucessos das realizações iniciais também podem ser vistos na mostra “Os Primeiros Premiados”, que traz três longas-metragens e um curta-metragem e “Ano 1: A Safra Brasileira no É Tudo Verdade 1996”, que apresenta três longas-metragens e seis curtas-metragens nacionais, que foram convidados a participar no primeiro ano do evento, que ainda não era competitivo, que, de acordo com Labaki, “reflete o momento de ignição das transformações que marcaram desde então a produção audiovisual não-ficcional no país”. Neste ano, há, também, a mostra “A Situação Cinema”, que exibe cinco filmes brasileiros dedicados à fruição cinematográfica. Também, o evento apresentará uma homenagem ao cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que morreu aos 83 anos em fevereiro deste ano.

Neste ano, também será possível acompanhar a série de entrevistas “Cineastas do Real”, em duas temporadas, a primeira realizada em 2015 e a segunda, em 2017, dirigida por Amir Labaki, que traz 26 episódios de 25 minutos de entrevista a cada um dos realizadores de documentários selecionados por ele. Também, mais um olhar para a direção feita por mulheres é proposto na série de 40 capítulos “Women Make Film: um novo Road Movie através do Cinema”, realizada por Mark Cousins em 2019. A série tematiza mais de 700 filmes rodados por mais de 183 diretoras de diferentes nacionalidades ao longo da história do Cinema. O cineasta traz um olhar para a decupagem e a Linguagem Cinematográfica, observando obras de autoras como Àgnes Varda, Alice Guy Blaché, Heddy Honigmann, Jane Campion, Kinuyo Tanaka, Maya Deren, Petra Costa, Safi Faye, Sally Porter e Sumita Peries, entre outras. Produzindo a série ao longo de cinco anos, o autor Cousins fora questionado sobre o produto final de sua obra, com a pergunta se ela poderia ter sido dirigida por uma mulher, a que o diretor responde “De verdade, este filme poderia ter sido feito por qualquer amante do cinema que tenha paixão e curiosidade, na verdade.”

O evento será dividido em duas etapas. A primeira, será a disponibilização dos filmes até o dia 5 de abril, de acordo com a data delimitada. Será possível acessá-los nos sites do Itaú Cultural ( www.itaucultural.org.br) e da Spcine Play (www.spcineplay.com.br), que totalizam 30 títulos. Já em setembro, apresentará as produções inéditas selecionadas para as mostras competitivas brasileira e internacional e os programas fora de concurso, de forma presencial, em uma data a ser especificada. Neste momento de pandemia e reclusão é curioso nos atentarmos para o espaço que o cinema ocupa nas mídias digitais e como a realização de filmes transcende a materialidade no mundo contemporâneo, levando, inclusive à realização de festivais muito significativos, como o “É Tudo Verdade” em uma plataforma online. Devemos ter um novo olhar para o Cinema, desta vez, na penumbra e distanciado, observando a situação e gerando um pensamento sobre ele, tal qual a coruja de Chris Marker.

Assista tudo AQUI!

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

A situação do cinema – Título brasileiros dedicados à fruição cinematográfica

“Cinemagia: A História das Videolocadoras de São Paulo” (Alan Oliveira – 2016)
“Cine Mambembe: O Cinema Descobre o Brasil” (Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi – 1998)
“Cine São Paulo” (Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli – 2017)
“O Homem da Cabine” (Cristiano Burlan – 2007)
“Quando as Luzes das Marquises se Apagam – a História da Cinelândia Paulistana” (Renato Brandão. 2018)

Os primeiros premiados

três longas-metragens e um curta-metragem premiados nas primeiras edições do “É Tudo Verdade”

“A Pessoa É Para o Que Nasce” (Roberto Berliner. 1998)
“Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos”. (Marcelo Masagão. 1998)
“A Negação do Brasil” (Joel Zito Araújo. 2000)
“Rocha que Voa” (Eryk Rocha. 2002)

Ano 1: a safra brasileira no “É tudo verdade” 1996 : Longas e curtas-metragens nacionais que foram convidados a participar em 1996 da primeira edição do “É Tudo Verdade”

Longas-Metragens

“Carmen Miranda – Bananas is my Business” (Helena Solberg. 1994)
“No Rio das Amazonas” (Ricardo Dias. 1995)
‘Yndio do Brasil” (Sylvio Back. 1995)

Curtas-Metragens

“Criaturas que Nasciam em Segredo” (Chico Teixeira. 1995)
“São Paulo – Cinemacidade” (Aloysio Raulino, Marta Dora Grostein, Regina Meyer, 1994)
“São Paulo – Sinfonia e Cacofonia” (Jean-Claude Bernadet. 1994)
“Un Poquito de Água” (Camilo Tavares e Francisco “Zapata” Betancourt. 1996)
“Vala Comum” (João Godoy. 1994)
“Maracatu, Maracatus” (Marcelo Gomes. 1995)

As diretoras no “É Tudo Verdade”

Ciclo inédito de dez documentários nacionais dirigidos por mulheres que marcaram a história do festival

“Aboio” (Marília Rocha. 2005)
“O Aborto dos Outros” (Carla Gallo. 2008)
“Carmen Miranda – Bananas Is My Business” (Helena Solberg. 1994)
“Domingos” (Maria Ribeiro. 2009)
“Dona Helena” (Dainara Toffoli. 2006)
“Os Melhores Anos de Nossas Vidas” (Andrea Pasquini. 2003)
“Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas” (Sandra Werneck, 2017)
“Nasceu o Bebê Diabo em São Paulo” (Renata Druck, 2002)
“O Segundo Encontro” (Veronique Ballot. 2019)
“Um Passaporte Húngaro” (Sandra Kogut. 2001)

Homenagem a José Mojica Marins

“Maldito – O Estranho Mundo de José Mojica Marins” (André Barcisnki e Ivan Finotti. 2000″
“Mojica na Neve: Esta Noite Encarnarei em Sundance” (André Barcisnki, André Finotti e Ivan Finotti. 2001)

Chris Marker

A Herança da Coruja (L‘Heritage de la Chouette) Dir. Chris Marker. França, 1989.
Em treze episódios, a partir de treze palavras incorporadas ao vocabulário moderno, o diretor francês Chris Marker (1921-2012) discute, com mais de 50 convidados, o legado cultural e político da Grécia clássica para o mundo contemporâneo. Com a participação de Angélique Ionatos, Cornelius Castoriadis, Elia Kazan, George Steiner, Giulia Sissa, Jean-Pierre Vernant, Michel Serres e Theo Angelopoulos, entre outros

1. Symposium ou As Ideias Recebidas Em Paris, Tbilisi, Atenas e Berkeley, historiadores brincam com reconstituições do “symposium”, o banquete grego, em volta de lautas mesas.

2. Olympism ou A Grécia Imaginária A herança grega reconstituída no imaginário contemporâneo levou a desvios terríveis de leitura em prol de ideologias totalitárias, como o nazismo.

3. Democracia ou A Cidade dos Sonhos Qual é exatamente o significado da palavra democracia quando ela se refere às antigas cidades Estado ou aos nossos sistemas políticos contemporâneos?

4. Nostalgia ou O Retorno Impossível Ítaca é o icônico e distante lar do qual ninguém deveria se esquecer: essa seria a lição universal da “Odisseia” de Homero.

5. Amnésia ou O Sentido da História Construído sobre testemunhos ou “autópsia” – que, literalmente, significa ver a si mesmo –, nosso conceito de História passou por grandes transformações desde Heródoto.

6. Matemática ou O Império dos Signos O espaço geométrico e a linguagem matemática constituem um legado universal deixado pelos gregos. Como articulamos essa lógica perfeita à complexidade das ciências contemporâneas?

7. Logomaquia ou As Raízes das Palavras Todos os significados de “logos” vieram de um pequeno território entre Éfeso e Patmos. Segundo Aristóteles, o homem luta com uma arma específica: o discurso. O destino de logos seria a batalha de palavras?

8. Música ou O Espaço Interno Entre imitação e criação, a busca pelo belo e harmonioso anima as buscas pessoais dos artistas e serve para grandes esquemas coletivos – as religiões em particular.

9. Cosmologia ou O Uso do Mundo Uma reflexão sobre a criação – cosmogonia divina e a criatividade humana – guia por uma viagem da estatuária grega ao Korai, da Acrópole, exibida em Tóquio, e à Górgona, um espelho da morte.

10. Mitologia ou A verdade das Mentiras Há um conjunto de mitos aos quais nos referimos constantemente. Um questionamento sobre sua gênese, seu lugar na psique, sua transmissão e sua natureza.

11. Misoginia ou As Armadilhas do Desejo A concepção grega de sexualidade era muito diferente da atual. O que os gregos pensavam sobre desejo em um mundo em que heterossexualidade e homossexualidade, longe de serem opostos, eram modelos de existência diferentes, mas compatíveis?

12. Tragédia ou A Ilusão da Morte Grandes números trazidos pelas tragédias gregas nos ajudam a entender os mecanismos de fundação das práticas humanas – todo o caminho até uma sociedade como a do Japão, aparentemente longe da nossa.

13. Filosofia ou O Triunfo da Coruja Em torno da figura metafórica, mas também muito real, da coruja, reflexões entrelaçadas sobre o lugar do pensamento na existência cotidiana e na ação pública – ora com, ora contra o legado grego.

Women make film

(Limite de 1000 acessos por episódio)

Confira abaixo os temas debatidos nos cinco episódios de “Women Make Film”

Episódio 1 – Como as diretoras definem o tom de seus filmes, constroem verossimilhança, apresentam personagens, gravam diálogos e enquadram cenas.

Episódio 2 – Como as diretoras montam cenas, constroem jornadas e descobertas, retratam crianças e exercitam o minimalismo, a edição, pontos de vista e closes.

Episódio 3 – Como as diretoras retratam corpos, sexualidade, lares, religião, trabalho, política, surpresas e comédia.

Episódio 4 – Como as diretoras lidam com o melodrama, a ficção científica, as representações do inferno e de tensão, a estase, cortes nos filmes, a memória e o tempo.

Episódio 5 – Como as diretoras filmam interiores, o existencial, o amor e a morte, os fins, música e dança.

03/4 a 10/4 ou até o limite de acessos

Cineastas do Real

Dir. Amir Labaki. 2015 e 2017, 26 episódios de 25 minutos.
Temporada 1 – 2015 Vladimir Carvalho, Sylvio Back, Jorge Bodanzky, Helena Solberg (foto), Sílvio Tendler, João Batista de Andrade, Arnaldo Jabor, Eduardo Escorel, Aurélio Michiles, Roberto Berliner, Carlos Adriano, Carlos Nader, João Moreira Salles.
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Temporada 2 – 2017 Jorge Furtado, Zelito Viana, Cao Guimarães, Lucia Murat, Joel Pizzini, José Joffily, Maria Augusta Ramos, Eryk Rocha, Kiko Goifman, Ugo Giorgetti, Hermano Penna, Sergio Muniz, Vincent Carelli.

Como assistir o É Tudo Verdade – Guia de Plataformas: http://etudoverdade.com.br/br/pag/manual

Cronograma de entrada de filmes: http://etudoverdade.com.br/br/pag/cronograma

Programação completa: http://etudoverdade.com.br/br/pag/on-line

OS FILMES

Mostra On-line no Itaú Cultural Em parceria com o É Tudo Verdade, o Itaú Cultural apresenta um ciclo exclusivo de cinco título brasileiros dedicados à fruição cinematográfica, no site do Itaú Cultural

Cinemagia: A História das Videolocadoras de São Paulo. Dir.: Alan Oliveira. 2016,100’. A saga de um templo perdido da cinefilia: a videolocadora, nossas pequenas cinematecas de bairro varridas do mapa pela oferta audiovisual via internet.

Cine Mambembe: O Cinema Descobre o Brasil. Dir.: Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. 1998, 56’. (foto) Um casal de cineastas documenta o batismo ou a reconexão com a experiência cinematográfica dos frequentadores, aqui no Norte e Nordeste, das projeções de filmes em espaços não-convencionais com que por mais uma década percorreram o país.

Cine São Paulo. Dir.: Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli. 2017, 78’. A batalha pela reforma e reabertura de um secular cinema em Dois Córregos, no interior de São Paulo, pelo apaixonado empenho de seu dono septuagenário, seu Chico, um personagem que parece herdado de um antigo clássico do neo-realismo italiano.

O Homem da Cabine. Dir.: Cristiano Burlan. 2007, 90’. Um retrato de uma dezena de operadores cinematográficos, flagrados nos últimos momentos da projeção de filmes em celuloide, antes da radical conversão dos circuitos à tecnologia digital.

Quando as Luzes das Marquises se Apagam – a História da Cinelândia Paulistana. Dir.: Renato Brandão. Brasil, 2018, 86’. A ascensão e queda da Cinelândia paulistana, o elegante e popular circuito de salas de cinema de rua, desenvolvido sobretudo entre os anos 1930 e 1950 e hoje virtualmente liquidado, com a migração de parte das telas para os shopping-centers.

OS PRIMEIROS PREMIADOS

Acesso: www.itaucultural.org.br. De 26/3 a 5/4.

Complementando o ciclo já iniciado mas interrompido nas Terças do Itaú Cultural, três longas-metragens e um curta-metragem premiados nas primeiras edições do É Tudo Verdade.

A Pessoa É Para o Que Nasce. Dir.: Roberto Berliner. 1998, 6’. A vertigem da visão. A ausência que provoca excesso. O compromisso com a sobrevivência. A experiência da vida através da falta. Três irmãs cegas cantam em troca de esmola em Campina Grande, Paraíba. Melhor filme da competição brasileira do É Tudo Verdade 1999.

Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos . Dir.: Marcelo Masagão. 1998, 73’. Memória do século XX. Biografias reais e ficcionais de pequenos e grandes personagens dos últimos cem anos discutem a banalização da morte – logo, a banalização da vida. Melhor filme da competição internacional do É Tudo Verdade 1999.

A Negação do Brasil. Dir.: Joel Zito Araújo. 2000, 90’ (foto). Os tabus e estereótipos sobre o negro na telenovela brasileira. Baseado em sua tese sobre o assunto e em suas lembranças, o cineasta analisa as influências das telenovelas brasileiras nos processos de identidade dos afro-brasileiros. Melhor filme da competição brasileira do É Tudo Verdade 2001.

Rocha que Voa. Dir.: Eryk Rocha. Brasil- Cuba, 2002, 94’. Um ensaio sobre as reflexões do cineasta Glauber Rocha (1939-1981), um dos mais importantes realizadores do século 20 e pai do diretor, num dos períodos menos conhecidos de sua vida: o exílio em Cuba, entre 1971 e 1972. Melhor filme da competição brasileira do É Tudo Verdade 2002.

ANO 1: A SAFRA BRASILEIRA NO É TUDO VERDADE 1996

Acesso: www.spcineplay.com.br. De 26/3 a 26/4.

Três longas-metragens e seis curtas-metragens nacionais que foram convidados a participar em 1996 da primeira edição do É Tudo Verdade, ainda um evento não-competitivo. Segundo Amir Labaki, “’Ano 1 – A Safra Brasileira do É Tudo Verdade 1996’ reflete o momento de ignição das transformações que marcaram desde então a produção audiovisual não-ficcional no país”.

Longas-Metragens

Carmen Miranda – Bananas is my Business. Dir.: Helena Solberg. 1994, 91’ (foto). Descoberta aos vinte anos, a atriz e cantora Carmen Miranda (1909-1955) seduziu o coração dos brasileiros e conquistou os EUA, em Hollywood e nos palcos. Solberg utiliza trechos de filmes, reencenações e entrevistas com amigos e parentes para retratar uma mulher que pagou caro por sua fama e carreira.

No Rio das Amazonas. Dir.: Ricardo Dias. 1995, 76’. Uma viagem na Amazônia com a participação do naturalista e compositor Paulo Vanzolini (19242013). O filme trata particularmente da ecologia da região, com ênfase no modo de vida das populações ribeirinhas.

Yndio do Brasil. Dir.: Sylvio Back. 1995, 70’. Um ensaio a partir de uma centena de filmes que mostram como o cinema retratou os índios brasileiros desde que foram filmados pela primeira vez, em 1912.

Curtas-Metragens

Criaturas que Nasciam em Segredo. Dir.: Chico Teixeira. 1995, 21’. A vida de cinco anões que moram na cidade de São Paulo, sob a ótica do universo dos bufões, pessoas marcadas pelo estigma de garantir diversão de outras.

São Paulo – Cinemacidade. Dir.: Aloysio Raulino, Marta Dora Grostein, Regina Meyer. 1994, 30’. A cidade em cinco atributos: transformação, anonimato, multidão, precariedade e dimensão.

São Paulo – Sinfonia e Cacofonia. Dir.: Jean-Claude Bernadet. 1994, 40’. Ode de amor e ódio à cidade de São Paulo.

Vala Comum. Dir.: João Godoy. 1994, 30’. A partir de uma vala comum clandestina no cemitério de Perus, um passado oculto emerge para exumar parte da história recente do país.

Maracatu, Maracatus. Dir.: Marcelo Gomes. 1995, 14’. As diferenças culturais entre as várias gerações de integrantes do Maracatu rural, ritual afroindígena que tem suas origens nos engenhos de açúcar de Pernambuco.

AS DIRETORAS NO É TUDO VERDADE

Acesso: www.spcineplay.com.br De 26/3 a 23/6.

Ciclo inédito de dez documentários nacionais dirigidos por mulheres que marcaram a história do festival.

Aboio. Dir.: Marília Rocha. 2005, 72. No interior do Brasil, adentrando as extensões semiáridas da caatinga, há homens que ainda hoje conservam hábitos antigos, como o costume de tanger o gado por meio de um canto. Suas vozes ecoam lamentos improvisados e sem palavras, que se prolongam pelos campos do sertão. Melhor documentário da competição de longas-metragens brasileiros, É Tudo Verdade 2005.

O Aborto dos Outros. Dir.: Carla Gallo. 2008, 72’. Um filme sobre maternidade, afetividade, intolerância e solidão. A narrativa percorre situações de abortos realizados em hospitais públicos, previstos em lei ou autorizados judicialmente, e situações de abortos clandestinos. O filme mostra os efeitos perversos da criminalização para as mulheres e aponta a necessidade de revisão da lei brasileira.

Carmen Miranda – Bananas Is My Business. Dir.: Helena Solberg. 1994. 91’. Descoberta aos vinte anos, a atriz e cantora Carmen Miranda (1909-1955) seduziu o coração dos brasileiros e conquistou os EUA, em Hollywood e nos palcos. Solberg utiliza trechos de filmes, reencenações e entrevistas com amigos e parentes para retratar uma mulher que pagou caro por sua fama e carreira.

Domingos. Dir.: Maria Ribeiro. 2009. 72’. O dia-a-dia de um artista cuja obra se baseia exatamente na vida “simples”, os amores, a velhice, o amor pelo trabalho: esse é o mote de “Domingos”, um documentário sobre o consagrado autor de “Todas as Mulheres do Mundo”.

Dona Helena. Dir.: Dainara Toffoli. 2006, 55’. Helena Meirelles faleceu em 2005, doze anos depois de ter sido “descoberta” pela revista norteamericana Guitar Player, que a colocou entre os 100 melhores guitarristas do mundo, ao lado de músicos como Roger Waters e Eric Clapton. Ela nasceu no sertão do Brasil e desde criança era apaixonada pela viola. Passou a sua juventude entre comitivas de boiadeiros e prostíbulos, lutando pelo direito de tocar.

Os Melhores Anos de Nossas Vidas. Dir.: Andrea Pasquini. 2003, 65’. Histórias de preconceito, abandono e superação são contadas pelos moradores do Santo Angelo, uma cidade erguida para o tratamento de hansenianos. O testemunho humano dos moradores remanescentes revela as marcas que ficaram do tempo em que a internação era compulsória. Condenados ao isolamento de uma vida inteira, encontraram no amor e na revolução, na música e no cinema as principais armas para enfrentar seus dramas pessoais.

Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas. Dir.: Sandra Werneck, 2017, 71’ (foto). O título remete a um dos gritos de protesto de mulheres que foram às ruas no Brasil e se organizaram em redes sociais para fazer frente ao machismo e ao conservadorismo. Através de depoimentos de mulheres públicas ou anônimas que passaram por situações de violência, revela-se como, apesar de conquistas legais, a mulher permanece em situação de vulnerabilidade.

Nasceu o Bebê Diabo em São Paulo. Dir.: Renata Druck, 2002, 52’. Uma investigação sobre três lendas urbanas paulistas: O Bebê Diabo, a Loira do Banheiro e a Gangue do Palhaço. Originadas em boatos, foram noticiadas pelo extinto jornal Notícias Populares (NP) em épocas distintas. A partir desta busca, é revelado um universo onde fantasia e realidade se confundem.

O Segundo Encontro. Dir.: Veronique Ballot. 2019. 70’ (foto). Inédito. Um dos renovadores da fotodocumental brasileira em seu trabalho para “O Cruzeiro”, Henri Ballot (1921-1997) registrou o encontro inaugural entre os irmãos Villas-Boas e a tribo Kayapó em 1953 no Xingú. Mais de seis décadas depois, sua filha retorna à tribo, reencontrando índios retratados por Ballot.

Um Passaporte Húngaro. Dir.: Sandra Kogut. 2001, 72’. Através do pedido de um passaporte, Sandra Kogut parte em busca da história da família, dividida entre dois mundos e dois exílios: aqueles que se foram e aqueles que permaneceram, os imigrantes que chegaram ao Brasil na década de 40 em decorrência da 2ª Guerra e os que não puderam sair da Hungria.

HOMENAGEM A JOSÉ MOJICA MARINS

Acesso: www.spcineplay.com.br. De 26/3 a 26/4.

Maldito – O Estranho Mundo de José Mojica Marins. Dir.: André Barcinski e Ivan Finotti. 2000, 70’. A vida e carreira de José Mojica Marins (1938-2020), um dos pioneiros da produção independente brasileira e criador de um dos maiores personagens do cinema nacional, o Zé do Caixão.

Mojica na Neve: Esta Noite Encarnarei em Sundance. Dir.: André Barcinski, André Finotti e Ivan Finotti. 2001, 13’. Documentário de curta-metragem sobre a acolhida a Mojica pela Meca do cinema independente americano, o Sundance Festival, para a projeção especial de “Maldito”.

SÉRIES

WOMEN MAKE FILM: UM NOVO ROAD MOVIE ATRAVÉS DO CINEMA

Acesso: www.spcineplay.com.br. De 03/04 a 10/04, 1000 visionamentos por episódio.

A partir de mais de mil clips de filmes rodados em treze décadas nos cinco continentes por mais 183 diretoras, Mark Cousins discute a história e a linguagem do cinema desenvolvidos pelas obras de cineastas como Àgnes Varda, Alice Guy Blaché, Heddy Honigmann, Jane Campion, Kinuyo Tanaka, Maya Deren, Petra Costa, Safi Faye, Sally Porter e Sumita Peries, entre outras.

Women Make Film- Um Novo Road Movie Através do Cinema (Women Make Film – A New Road Movie Through Cinema) Dir. Mark Cousins. Reino Unido, 2019. Narrado por Tilda Swinton, Sharmila Tagore, Jane Fonda, Adjoa Andoh, Thandie Newton, Kerry Fox e Debra Winger. 40 capítulos, 840 minutos. Gratuito e legendado em português.

TEMAS POR ORDEM DE PROJEÇÃO

– Como as diretoras definem o tom de seus filmes, constroem verossimilhança, apresentam personagens, gravam diálogos e enquadram cenas.

– Como as diretoras montam cenas, constróem jornadas e descobertas, retratam crianças e exercitam o minimalismo, a edição, pontos de vista e closes.

– Como as diretoras retratam corpos, sexualidade, lares, religião, trabalho, política, surpresas e comédia.

– Como as diretoras lidam com o melodrama, a ficção científica, as representações do inferno e de tensão, a estase, cortes nos filmes, a memória e o tempo.

– Como as diretoras filmam interiores, o existencial, o amor e a morte, os fins, música e dança.

Confira a relação completa de filmes citados no site www.womenmakefilm.com.

Agradecimentos especiais a Mark Cousins e Dogwoof.

“WOMEN MAKE FILM” POR AMIR LABAKI

Andarilho e prolífico, Mark Cousins tem revisitado a história do cinema lançando luz sobre áreas tradicionalmente invisíveis a partir de ensaios fílmicos de fôlego épico. Em 2011, “Uma História do Filme: Uma Odisseia” reapresentava em 15 capítulos a trajetória do cinema para além da clássica narrativa centrada na Europa e em Hollywood. Ainda em produção, “Carta para Grierson” revisita a história dos documentários.

Produzido durante cinco anos, “Women Make Film: Um Novo Road Movie Através do Cinema” viaja pelo continente submerso da produção cinematográfica feminina. Mais de 700 filmes, rodados nos cinco continentes por 183 diretoras, frisam a contribuição original das mulheres para o desenvolvimento da linguagem e da história do cinema. Uma lista com todas as produções citadas encontra-se em www.womenmakefilm.net.

Narrada por Tilda Swinton, Sharmila Tagore e Jane Fonda, entre outras, a série se divide em 40 capítulos temáticos, distribuídos por cinco partes, totalizando 14 horas. Cousins discute como as cineastas iniciam e encerram seus filmes, enquadram e acompanham seus personagens, rodam melodramas e comédias, danças e canções, e tratam de amor e sexo, trabalho e religião, vida e morte. O Brasil marca presença em dois episódios, como cenário de “O Amor Natural”, de Heddy Honigmann (em “Sexo”) e com “Elena”, de Petra Costa (em “Memória”).

Partindo das pioneiras contribuições de ensaístas como Cari Beauchamp e Claire Johnston (1940-1987), desenvolve-se um autêntico curso de cinema pelo olhar feminino, a ser deleitado em sua íntegra ou autonomamente, apenas em cada uma de suas partes. A experiência cinematográfica, coletiva e individual, redefine-se para sempre desde o embarque na jornada guiada por Cousins.

ENTREVISTA: MARK COUSINS

Pergunta – Que impacto o filme pode ter?

Mark Cousins – O título de trabalho é “Abridor de Olhos”. A ideia é que se veja filmes de uma nova maneira. Iniciamos tudo bem antes dessa onda atual – que estava bastante atrasada – de desafiar a dominância masculina no cinema. “Women Make Film” quer mudar o foco e acredita que o cinema é andrógino e que a dominância masculina limitou essa arte.

Pergunta – O que você espera do filme?

Cousins – É uma exortação. “O título poderia ser “Women, Make Film! (Mulheres, Façam Filmes!)”. É um chamado às armas, mas também uma celebração de grandes filmes – alguns que conhecemos, muitos que não.

Pergunta – Como conseguir mais diretoras na indústria?

Cousins – É preciso uma mudança total de mentalidade, e ela já começou. A natureza bissexual e andrógina do cinema é clara desde seu início, mas foi asfixiada (até por algumas mulheres, já que nem todas as poderosas chefes de estúdios contrataram outras mulheres).

Pergunta – Como explicar que o filme é dirigido por um homem?

Cousins – De fato, isso é digno de nota. Mas eu sou só uma de muitas vozes. As outras incluem a historiadora Cari Beauchamp, produtora associada, Barbara Ann O’Leary, da Directed By Women, Gaylene Gould, Anna Bogutskaya e muitas outras no British Film Institute, Lizelle Bischoff etc. E, antes disso, outras desafiaram o senso comum. Eu conquistei esse espaço porque, por mais de uma década, venho questionando a história do cinema e mobilizando pessoas. Tornei-me especialista em filmes dirigidos por mulheres – e, na era Trump, em que especialistas são ridicularizados, precisamos de tantos quanto possível.

Pergunta – Esse filme poderia ter sido feito por uma mulher?

Cousins – De verdade, este filme poderia ter sido feito por qualquer amante do cinema que tenha paixão e curiosidade, na verdade. Nós o fizemos com nossos recursos e não esperamos um farol verde.

Pix Vertentes do Cinema

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