Direção: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Elenco: Jayme Matarazzo, Marco Nanini, Elke Maravilha, Dan Stulbach, Maria Luisa Mendonça, Ary Fontoura, João Miguel, Tammy di Calafiori
Fotografia: Lauro Escorel
Trilha Sonora: Cristovão Bastos
Montagem: Letícia Giffoni
Direção de Arte: Tulé Peake
Figurinos: Rita Murtinho / Valéria Stefani
Produção: Francisco Ramalho Jr.
Distribuidora: Paramount Pictures Brasil
Estúdio: Paramount Pictures / Ramalho Filmes
País: Brasil
Ano: 2010
Duração: 125 minutos
A opinião
“A Suprema Felicidade” é o retorno, em grande estilo, de Arnaldo Jabor à direção, desde meados dos anos oitenta (24 anos sem dirigir um longa-metragem), com “Eu sei que vou te amar”, já que é o filme de abertura do Festival do Rio deste ano. O tema amor é recorrente em seus obras. A narrativa do longa em questão não se apresenta linear, interpolando épocas. O objetivo do roteiro é transpassar uma naturalidade poética e realista. “As coisas lindas ficarão”, diz-se entre cenas iniciais de sexo, sendo escutadas pelo filho do casal. Retrata-se personagens. O pipoqueiro que diz frases de duplo sentido (fazendo humor sem graça), do senhor que recolhe pertences já usados, e velhos, o exterminador (matador) de mosquitos, o carnaval, o término da guerra, a bebedeira, a vivência educacional de uma escola católica, a Lapa carioca e o cinema do Odeon (apenas como referência, tendo os filmes “Anjos do Inferno” e “Morro dos ventos uivantes” como exemplos citados). A fotografia interage cores e transições, quando modifica do colorido ao preto-e-branco, às vezes sépia, buscando a nostalgia. Isso faz com que instantes vividos do agora sejam transformados em lembranças do passado. A naturalidade pretendida não acontece. Os diálogos, não convincentes, apressados e melodramáticos, fornecem tom folhetinesco, com estrutura de uma novela que utiliza a técnica cinematográfica. O tom de teatralidade atinge as ações de seus personagens, ambientando o artificial e não o aprofundamento. E quando resolve extrair sentimentos passionais, perpetua-se o clichê e a ingenuidade. A macumba, o eclipse solar, a vidente que recebe espíritos – única a enxergar em uma casa de cegos, o “vício solitário” (masturbação) – condenada por um padre com trejeitos afetados, as cartas psicografadas da mãe de uma preterida namorada, o poder patriarcal (“Eu gosto de mulher dependente”, diz o pai). São encenações nem um pouco realistas. O elenco conta com Elke Maravilha fazendo a avó, Marco Nanini, o avô, Dan Stulbach, o pai, Mariana Lima, a mãe e o protagonista Jayme Matazzaro que vive a idade adulta. Há a busca generalizada da simplicidade e da pureza, mas o que se extrai é o fake (falso). “O que é infinito?”, “É o que não acaba nunca, não morre”, conversam avô e neto, entre referências a estrelas e a marcianos dominando a terra. Há o querer paradoxal da quebra do pudor e do politicamente correto (vendável e aceitável).
A crítica possui um limite, por exemplo quanto ao ateísmo. O questionamento religioso é brando e repete o óbvio. Há poesia real e bruta quando o avô permite que o protagonista, na versão criança, mate a curiosidade ao observar um homem morto. “O amor é coisa de viado”, diz-se inferindo a sexualidade do amigo. “Ninguém é feliz, com sorte a gente é alegre”, finaliza-se. E complementa-se “Nada é só bom”. Pois é, concluindo, é um filme que estrutura vácuos não explicativos. A fragmentação da narrativa não ajuda o ritmo. As interpretações teatrais e melodramáticas, excetuando-se no excelente trabalho de entrega de Jayme Matarazzo, com músicas sentimentais para que o espectador embarque na trama, não convencem, sendo patéticas em determinados momentos. A figura do Arnaldo Jabor é polêmica. Há os que amam e os que odeiam. Separei a referência dele do cinema apresentado por ele e chega-se a ideia formada de que o produto final não é bom. “Amacord brasileiro”, avalia o diretor, aludindo ao filme “Amacord”, de Frederico Fellini.
A Sinopse
No Rio de Janeiro de 1945, o menino Paulo vive com o pai Marco, aviador da FAB, e a mãe Sofia. Eles moram numa rua bucólica, repleta de personagens típicos, como o pipoqueiro Bené, que sempre narra façanhas sexuais, um triste vendedor de garrafas e uma turma de vizinhos briguentos. À medida que cresce, Paulo sente o ambiente familiar tornar-se cada vez mais opressivo, e compensa a distância de seu pai com a cumplicidade com o avô Noel, funcionário público boêmio que o inicia na vida noturna carioca. Em meio a inúmeras experiências, Paulo espera encontrar a verdadeira felicidade.
Nasceu em 1940 no Rio de Janeiro. Após ter dirigido o curta O Circo (1965), realizou em 1967 seu primeiro longa, o documentário A Opinião Pública. Com Toda Nudez Será Castigada (1973), ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e o Kikito de Ouro no Festival de Gramado. Em 1978, recebeu o Candango de Melhor Filme no Festival de Brasília por Tudo Bem. A partir dos anos 90, passou a trabalhar como jornalista e cronista de atualidades, tendo publicado diversos livros.