Diretor: Ferzan Ozpetek
Roteiro: Ferzan Ozpetek, Gianni Romoli
Elenco: Stefano Accorsi, Margherita Buy, Pierfrancesco Favino, Serra Yilmaz, Ennio Fantastichini, Ambra Angiolini, Luca Argentero, Filippo Timi
Fotografia: Gianfilippo Corticelli
Música: Neffa
Direção de arte: Massimilano Nocente
Figurino: Alessandro Lai
Edição: Patrizio Marone
Produção: Tilde Corsi, Gianni Romoli
Distribuidora: Medusa Distribuzione; Petrini Filmes
Duração: 110 minutos
País: Itália/ França/ Turquia
Ano: 2007
COTAÇÃO: BOM
Na Astrologia, Saturno é a energia que usamos para estruturação, para superar nossas limitações através do esforço sério e dedicado. O planeta diz como superamos nossos medos e como vencemos as nossas dificuldades, indicando as responsabilidades, em que lugar existe uma cobrança, como o indivíduo se sente limitado. Rege o medo, a humildade, o correto, o sistema, os moralismos, a longevidade, as coisas já estabelecidas, o carma, as estruturas formadas, as regras arcaicas da sociedade, a disciplina, o limite, a realidade, o tempo, aquilo que devemos superar, o medo de vencer as próprias estruturas, é a consciência dos próprios limites. Saturno de 7 em 7 anos determina o tempo: com 7 anos existe a troca de dentes; com 14 anos nascem os pelos; com 21 anos escolhe-se o amor; com 28 anos aprendemos a dizer não; com 35 anos acontece uma expansão, é o apogeu da personalidade e com 42 anos a estruturação. O filme “Saturno em oposição” direciona o espectador por esse caminho. Quando a oposição acontece, a transformação é iminente. Inicia-se com características que definem a cultura italiana. O sarcasmo agressivo, a explosão passional e a percepção humanizada sobre as coisas e pessoas. A narração é direta, verborrágica e sem pudores.
“Não gosto de etiquetas”, diz-se desejando fugir do clichê, usando a auto-ironia. Davide é um escritor que hospeda em sua casa um grande grupo de amigos: o bancário Antonio, casado com a psicóloga anti-fumo Angélica e amante da florista Laura; Neval tradutora turca casada com o policial Roberto, pouco integrado no grupo; Sergio, ex-namorado de Davide, com o qual manteve um relacionamento de amizade embora Davide agora more com Lorenzo; Roberta, amiga de Lorenzo, louca pela astrologia e com problemas de drogas.Inesperadamente, o drama se instaura no grupo e essa “família” tentará superar a perda afetiva e o impacto da dor. Eles dizem o que pensam, sem suavizar as frases. “Como você complica a vida?”, alfineta-se com ingenuidade. Os elementos cinematográficas indicam que o tom pretendido é o novelesco. Há lágrimas de efeito, choro forçado, música melodramática. Tenta buscar o naturalismo na artificialidade. Um querer arriscado do diretor Ferzan Ozpetek (de “O Primeiro que disse”) que no contexto não ajuda muito. É como se o feitiço fosse usado contra o feiticeiro. A vida deles mostram pequenos segredos, como fingir não fumar. O cotidiano editado e ágil corrobora o gênero de novela exagerada, tentando o equilíbrio, porém permanecendo na corda bamba.
A atmosfera soa pretensiosa, desejando a inteligência, mas conseguindo o óbvio do nada. A estranheza das relações interpessoais demora a apresentar respostas à trama. Aos poucos, ligamos os pontos e descobrimos aprofundamentos complexos, que misturados com a suavização, geram momentos excelentes. É um filme de instantes espaçados. Falta montagem. É muito solto e artificial, errando a mão. A consequência é o não enquadramento dos personagens à história e do não convencimento para com quem assiste de fora. Há inúmeros clichês. Como o silêncio quando uma notícia ruim é contada. Mas por outro lado, o tango dos amantes antes de trair é uma cena incrível, tendo a camera acompanhando e depois afastando, interferindo na ação mostrada. Há uma sutil interatividade. Fantástico. “Mesmo sabendo que para sempre não existe”, diz-se. Há vulgaridades inteligentes. A expressão “Masturbação filosófica” e o diálogo “- É gay? – Não, sou veado. – Não é a mesma coisa? – Não, eu sou das antigas”, expõe uma crueldade de auto ironia nostálgica e aceitável. Sobre ser gay: “O problema não é aceitar, é compartilhar”, descamba-se ao clichê novamente. O diretor repete neste filme o recurso de projetar finais felizes dentro do sofrimento apresentado. “Meu defeito é se intrometer. Eu exagero sempre”, desabafa-se. Não espere um final feliz. É melancólico, depressivo, saudosista. Concluindo, um filme longo que possui inúmeros fiais porque não se sabe como acabar. Fica entre três pilares: a pretensão, ingenuidade e amadorismo. Possui altos e baixos que se equilibram, definindo o contexto como um longa-metragem bom, sem anexos.
Ferzan Özpetek nasceu em 03 fevereiro de 1959, na Turquia.
Filmografia
2010 – O Primeiro que Disse
2008 – Um Dia Perfeito
2007 – Saturno em Oposição
2003 – A Janela da Frente
2001 – Um Amor Quase Perfeito
1999 – Harem Suare
1997 – O Banho Turco
Entrevista
Saturno em Oposição é um filme coral, a historia de um grupo de amigos. No filme se respira um clima parecido com o de “Um amor quase perfeito” (Le Fate Ignoranti, 2001), sete anos depois. É uma escolha bem pensada ou somente uma coincidência?
São dois filmes bem diferentes, mesmo se numa primeira analise pode parecer que tenham alguns pontos em comum. Le Fate Ignoranti era a historia de uma mulher e do seu encontro com um grupo de pessoas que eram exatamente o seu “oposto” e a partir deste encontro nascia e amadurecia a “mudança” da personagem. O grupo de “Le Fate Ignoranti” era um grupo “alternativo” e não burguês. Ao contrario daquele filme, Saturno em Oposição não conta a historia de um personagem e da sua relação com um grupo diferente, mas conta a historia do GRUPO, que é mais bem sucedido e absolutamente burguês. O núcleo central do grupo é formado por pessoas de mais ou menos quarenta anos que não possuem problemas econômicos, tem uma relação de amizade muito firme e intensa, de longa data que apresenta sinais de cansaço por causa de uma rotina muito bem traçada. Neste grupo, com o tempo entraram pessoas mais jovens, que junto aos outros enfrentam o tema da Separação (seja na amizade que no amor), mas não se propõe como grupo alternativo, mesmo se composto por pessoas com escolhas sexuais diferentes entre si. Nesse caso eles não são ligados pela “diferença” (como em Le Fate Ignoranti), mas pelo amor e pela amizade que eles amadureceram em anos de experiências juntos.
SATURNO CONTRO é um filme com uma dezena de protagonistas. Como você escolhe os atores e como trabalhas com eles?
Quando começamos a pensar e a escrever o filme ainda não tínhamos em mente quem iria atuar. Eu sabia muito bem que queria trabalhar novamente com Stefano Accorsi e com Margherita Buy. Eu sabia também que queria trabalhar com Favino. Mas enquanto trabalhávamos com o roteiro não sabíamos se eles iriam atuar no filme e quais seriam os papéis. Mas enquanto escrevíamos era sempre mais claro que Accorsi teria sido uma boa escolha para o personagem de Antonio: conversamos a respeito e ele apreciou a ideia. Assim como o personagem de Neval era obviamente escrito para Serra Yilmaz, com quem eu queria voltar a trabalhar. Quando terminamos de escrever comecei a pensar aos outros. Recriar o casal Accorsi/Buy, que tinha feito muito sucesso com “Le Fate Ignoranti” me empolgava e ao mesmo tempo me incomodava, não queria que aparecesse como uma ideia da produção. Mas como se pode resistir a Margherita? Ela é realmente natural. Quis vê-los juntos e logo se ativou a “química” entre os dois e comigo. A terceira escolha foi natural: se Favino tivesse gostado do personagem, Davide seria dele. E assim foi. Para os outros personagens o meu casting fez uma serie de propostas e eu escolhi quem encontrar. Eu não faço testes por papel. Converso com os atores, não somente sobre o filme mas também de outras coisas. Tenho que “sentir” quanto eles podem dar ao personagem, com um processo quase contrario ao que geralmente se faz. Como se o personagem tivesse que interpretar o Ator e não o oposto. Para Roberta eu pensei logo em Ambra, que eu tinha encontrado um ano atrás numa premiação. Eu não tenho preconceitos com os atores: não me importa se sejam famosos ou não, se eles vem da televisão, do cinema ou do teatro. Tudo depende da relação que se instaura entre eu e eles nos nossos encontros. Uma vez que decidimos o elenco, antes de filmar, faço duas semanas de leitura com os atores de todo o roteiro. Isso é importante também para o roteiro, podemos encontrar eventuais erros ou faltas. Isso nos leva sempre a cortar, adicionar, a render o dialogo mais neutral e “falado” possível mas sem alterar sua estrutura e o sentido do roteiro. Tendo que filmar um filme com tantos atores era importante pra mim que o GRUPO se formasse antes de começar as filmagens. Queria que eles tivessem já um entrosamento, sem estabelecer hierarquias ou estilos diferentes. Por isso no set tivemos uma atmosfera quase magica de grande amizade e colaboração entre todos.
No filme se encontram temas morais e problemáticas sociais extremamente atuais, tratados com delicadeza e sem ideologia. Quanto influencia “espirito dos tempos” nas historias que você junto ao seu co-roteirista Gianni Romoli, decide de levar pra tela?
“O Espirito dos Tempos” tem uma alta influência, mas entra no roteiro por conta própria, como um penetra numa festa. Quando eu começo a falar de um filme com Gianni Romoli nunca falamos de “temas” e nunca de “atualidade”. Quase sempre começamos falando de um episodio, uma emoção, uma lembrança. Nos perguntamos sempre o que queremos contar de nós neste momento, mas nunca alcançamos níveis autobiográficos. Como se nós fossemos à procura do sentimento mais forte que provamos nos últimos tempos. Depois fragmentamos essas emoções em vários personagens: cada um possui coisas nossas, mas ninguém deles é completamente como nós. Com os personagens começamos a criar uma historia. Se a trama do filme encontra um tema atual ficamos atentos para que isso não devore aquilo que estamos contando. Tentamos deixá-lo fora da porta. Nos concentramos muito mais nos personagens em suas dinâmicas de interação. Acho que em Saturno em Oposição isso aconteceu muito mais que nos meus outros filmes. O mundo ao redor dos personagens não é apresentado objetivamente, não vimos alguma “sociedade”, é como se eles estivessem num palco onde não tem lugar pra outros, temos até poucos figurantes. Se aquilo que eles vivem faz nascer além do sentimento, uma reflexão sobre algum tema moral e social do momento fico feliz, porque isso significa que meus personagens são realmente nossos “Contemporâneos”. Ninguém foge da sociedade onde vive. Como se dizia anos atrás? “O Privado é Politico”. Isso ainda é verdade.