Direção: Josh Appignanesi
Elenco: Yigal Naor, Stewart Scudamore, Omid Djalili, James Floyd, Archie Panjabi, Leah Fatania, Stuart Antony, Scott Walters, Mina Anwar, Amit Shah
Produção: David Baddiel, Arvind Ethan David
Roteiro: David Baddiel
Fotografia: Natasha Braier
Música: Erran Baron Cohen
Direção de arte: Jamie MacWilliam
Figurino: Marianne Agertoft
Edição: Kim Gaster
Duração: 105 minutos
País: Reino Unido
Ano: 2010
COTAÇÃO: BOM
“Santa Paciência” aborda as confusões situacionais de um homem que segue de um extremo ao outro nas questões religiosas. Um homem é o que o define. Essa é a mensagem que tenta a desconstrução. O longa-metragem de Josh Appignanesi (de “Song of Songs”) mostra a trajetória de Mahmud (Omid Djalili) um sujeito normal como outro qualquer. Dentro de casa é um adorável marido, um pai dedicado e assumidamente um muçulmano não-praticante. Até que um dia, uma descoberta colocará Mahmud no centro de uma rivalidade milenar, causando a maior crise de identidade, que já se viu.
Ele descobre que é adotado, e que na verdade, nasceu em uma família tradicionalmente judia. O roteiro exagero nos clichês e nas caricaturas dos dois lados religiosos, utilizando humor preconceito e picardias provocativas. O protagonista se diz muçulmano, mas não segue os rituais. “Mesmo que não faça o ritual sempre, Alá vive”, diz-se. Os simbolismos são recorrentes. A narrativa recorre às ações teatrais a fim de exacerbar a trama apresentada. O radicalismo da religião é transposto por epifanias sonhadoras.
Ele abre a mente para que possa absorver a nova vida, criando uma crise existencial de identidade. “Judeu, o povo do talão de cheque”, diz-se de um lado. “Baboseira anti-semita”, rebate-se. São arquétipos em debochadas metáforas. “Bem vindo a conspiração mundial”, alfineta-se. O protagonista encontra um oponente que se torna seu professor. Assim, Mahmud tenta aprender sobre os judeus, mas os preconceitos clichês ainda são fortes – e embutidos – em sua vida, que foi massificada à superação. Os dois personagens conseguem a libertação de suas almas religiosas porque se permitem possibilidades de tolerância e respeito ao próximo.
“Livre Palestina”, “Comem maças”, dizem. O espectador percebe que o humor escrachado serve para que o tema seja suavizado e não desperte a ira semita em nenhum dos segmentos religiosos apresentados. As situações constrangedoras simbolizam que as dúvidas já existiam. Ninguém sabe o que realmente é. A maioria já recebe regras e definições prontas ao nascer. A transformação muda os atos e a própria vida. O título original “The infidel” pode ser traduzido por O infiel. Então ele responde “Santa paciência”.
A sua crença anterior é desvirtuada, a abandonando como uma ovelha desgarrada. Quando diz que é judeu, ele parece um judeu. Quando coloca a vestimenta muçulmana, ele é muçulmano. O exterior define para que a alma não entre em colapso, que possa viver de forma alienada, porém tranquila. Questionamentos são complexos e perigosos. As interpretações competentes complementam a trama. Mas o filme briga o tempo todo entre três tópicos: a agilidade comercial da edição, o aprofundamento do tema e a comédia que permeia os dois anteriores.
Percebemos que não há equílibrio, tendendo ao humor pastelão. Nos damos conta melhor no final, que apela ao gênero “quero ser engraçado e divertido porque já mostrei o meu lado político e inteligente”. O término quebra a tentativa de hegemonia e simetria desejada desde a primeira cena. Concluindo, vale a pena assistir sim, mesmo com o final não respeitando a inteligência do espectador. Recomendo. As filmagens ocorreram nos meses de maio e junho de 2009. O ator Omid Djalili pode ser reconhecido pelos fãs do filme A Múmia (1999).
O Diretor
Josh Appignanesi nasceu em 1975.